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Economia

Integração com suíno aumenta produtividade do milho em 58% no MS

O experimento integrou produção de suínos com lavoura, pastagem e plantação de eucaliptos e ainda aliou ao uso de um biodigestor.

Integração com suíno aumenta produtividade do milho em 58% no MS

Aumento de produtividades da soja em 35%, do milho em 58%, redução das emissões de gás carbônico em até 28%, de metano em até 80% e de óxido nitroso em até 95%. Sem contar o aumento da renda do produtor. Esses resultados foram registrados em unidade experimental implantada no Assentamento Rural Campanário, em São Gabriel do Oeste (MS). O trabalho foi além dos sistemas convencionais de integração-pecuária-floresta (ILPF) ao adicionar a suinocultura.

O experimento integrou produção de suínos com lavoura, pastagem e plantação de eucaliptos e ainda aliou ao uso de um biodigestor, tecnologia que decompõe dejetos produzindo gás metano e biofertilizante. O estudo foi feito por meio de parceria entre a Embrapa Pantanal (MS), Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Cooperativa Agropecuária de São Gabriel do Oeste (Cooasgo). O trabalho também envolveu boas práticas de manejo e conservação do solo e foi financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) . Os resultados foram publicados em artigo científico no periódico Agricultural Systems.

Os dejetos suínos, que podem se tornar um grave problema ambiental se mal manejados, foram processados em biodigestores e geraram biofertilizantes que foram aplicados no pasto e na lavoura e o gás metano produzido pelos dejetos gerou  energia elétrica para a propriedade. “Tanto os biofertilizantes como a eletricidade produziram excedentes que poderiam ser comercializados pelo produtor. Trata-se de novos produtos decorrentes da reciclagem energética”, relata a autora do estudo, Luz Selene Buller, doutoranda da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp, que conduziu as pesquisas no Mato Grosso do Sul.

Outro impacto importante obtido no modelo foi o aumento da chamada a “renovabilidade do sistema”. O termo se refere à dependência que essa produção tem de recursos não renováveis como fertilizantes químicos e outros insumos finitos. “Ao se produzir localmente seus fertilizantes, a propriedade torna-se mais independente de recursos externos e isso também aumenta a sustentabilidade do sistema”, afirma a especialista. Isso significa que a pressão ambiental do experimento equivale à metade da de uma produção convencional, de acordo com os dados observados na pesquisa.

O pesquisador da Embrapa Pantanal Ivan Bergier, coordenador da pesquisa e co-orientador do trabalho de Buller, diz que a renovabilidade é um indicador inovador de sustentabilidade para a avaliação de agroecossistemas e que deve se popularizar. “Trata-se de um conceito muito mais amplo que envolve diversos itens necessários à produção sustentável”, explica.

Um dos efeitos de se produzir os próprios insumos por meio da reciclagem é a economia que o produtor obtém ao deixar de gastar com fertilizantes químicos e energia elétrica. Além disso, a ILPF diversifica a produção adicionando novos produtos à carteira da fazenda que, em vez de se dedicar somente a uma monocultura, produz suínos, milho, soja, eucalipto, bovinos e energia.

A rentabilidade econômica foi comprovada pela medição do “equilíbrio da troca comercial”, um índice que demonstra se a situação econômica favorável pende para o mercado, para o produtor ou para ambos. “No caso do experimento, o produtor ficou com uma clara vantagem econômica, o que demonstra a boa rentabilidade até para pequenos produtores”, informa Buller. O sistema avaliado ocupou uma área de 22,4 hectares, o que caracteriza uma pequena propriedade do Mato Grosso do Sul.

O aumento na produtividade de soja e milho em valores consideráveis, 35% e 58%, respectivamente, está relacionado à melhoria da fertilidade do solo e à adoção de boas práticas de manejo como a do plantio direto, de acordo com a especialista. O sistema empregado aliado ao manejo também demonstrou preservar o solo diminuindo as perdas de matéria orgânica e reduzindo a erosão.

Mitigação de GEE – Vantagem ambiental relevante é a mitigação da emissão de gases de efeito estufa graças, especialmente, ao uso do biodigestor para o tratamento dos dejetos suínos. Em comparação a uma produção convencional, o experimento obteve redução de 28% nas emissões de CO2 e emitiu 80% menos metano, um gás 25 vezes mais potente que o CO2 na geração de efeito estufa. Mas a redução mais surpreendente foi na emissão do óxido nitroso, na faixa de 95%. Uma unidade desse gás produz o mesmo efeito que 298 unidades de CO2equivalente.

Selene Buller explica que o papel do biodigestor nesses resultados foi preponderante. “A mitigação das emissões de metano e de óxido nitroso decorreram quase que totalmente da destinação dos dejetos suínos para o biodigestor”, afirma.

O gerenciamento hídrico também foi planejado. Afonso Líbero Rosalen, proprietário da fazenda Bambu, instalou um sistema de captação de água de chuva inspirado na Unidade Experimental da Embrapa de São Gabriel do Oeste. O produtor comemora a economia de água durante esses três anos de operação do sistema e conta que já faturou dez vezes mais o investimento feito, que foi de aproximadamente R$ 160 mil para a instalação dos encanamentos, caixas d’água, revestimento das cacimbas, entre outros. Além disso, os gastos com fertilizantes também caíram muito já que o efluente líquido dos dejetos é utilizado como biofertilizante no pasto da fazenda.

Na propriedade de Rosalen, a água das chuvas é captada a partir dos telhados dos cinco galpões da granja, com capacidade para criação de aproximadamente quatro mil suínos, e é direcionada por meio de canos hidráulicos para duas lagoas com capacidade de armazenamento de 8,2 mil litros de água de chuva. Quando os dois reservatórios enchem, outro cano leva a água excedente para um terceiro reservatório. Essa água estocada substitui a água de poços artesianos e é utilizada na dessedentação animal, limpeza racional das granjas e também na irrigação do pasto. Operando com os reservatórios cheios, a autonomia de água captada dá para abastecer a granja durante quatro meses, sem necessidade de reabastecimento.

Bioenergia – Além de ser uma energia renovável, o metano substitui a queima de 800 litros de óleo diesel por dia de um motor de 200 kVA. O diesel é um combustível fóssil derivado do petróleo, fonte não renovável.  Os motores transformados a gás movimentam também grupos geradores capazes de produzir até 200 kVA de energia elétrica, que pode ser utilizado na própria granja, e seu excedente vendido para companhias distribuidoras de energia. 

Segundo Luís Rieger, empresário pioneiro na conversão de motores de diesel para biogás, neste semestre houve um aumento significativo na procura pelos produtores para instalação de motogeradores visando à produção de energia elétrica. Rieger cita o exemplo de uma granja de suínos, na qual o sistema de biodigestores e motores a biogás foi instalado, com seis mil animais que geram gás metano em quantidade mais que suficiente para o funcionamento de seu motor de 200 kVA.  Funcionando 20 horas por dia, o motor diminui a conta de energia elétrica em R$ 40 mil mensais.

Modelo para o saneamento urbano – Luís Rieger explica que esses sistemas podem perfeitamente ser adaptados para funcionar em empresas de saneamento e esgoto urbano e gerar energia a partir dos dejetos de humanos e diminuir a emissão do GEE. “É o futuro, algumas empresas já têm procurado  meus serviços para planejamento de projetos específicos para este caso”, conta Rieger.

O pesquisador da Embrapa Ivan Bergier explica que o modelo de destinação de dejetos para geração de energia utilizado nas granjas de suínos, com as devidas adaptações, pode vir a ser aplicado no saneamento e esgoto urbano com produção de bioenergia e fertilizantes orgânicos de fezes humanas, seguindo recomendações e avaliações da FAO. O mesmo ocorre com o sistema de captação de água das chuvas, que pode ser implantado nos telhados das residências, sendo redirecionado para caixas de armazenamento, o que pode mitigar em boa medida eventos extremos de enchentes, que devem se tornar mais frequentes com o avanço das mudanças climáticas.

Essa “intensificação sustentável” pode ampliar os serviços ambientais tanto nas propriedades rurais como nas cidades, contribuindo assim para a regulação hídrica − a manutenção dos aquíferos subterrâneos e da qualidade de água superficial de rios, lagos e lagoas além de contribuir para a redução de produção e emissão dos Gases do Efeito Estufa.