O mercado exportador de carnes brasileiro fechou o primeiro trimestre de 2012 com ligeira queda ante igual período de 2011, tanto em faturamento, que foi de US$ 1,223 bilhões (0,53% negativo), como no total de toneladas embarcadas, 258,4 mil (2,23% a menos), informou ontem a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec). Apesar da alta de 1,7% no preço médio, a queda, segundo a Abiec, foi puxada em parte pelo recuo de 92% nas vendas e em faturamento para o Irã.
Das 40,6 mil toneladas embarcadas para o país de janeiro a março de 2011, o número caiu para 3,14 mil em 2012. Em valores, despencou de US$ 207,8 milhões, e ficou em US$ 14,8 milhões.
As sanções econômicas impostas por Estados Unidos e União Europeia ao país, devido ao seu programa nuclear, e o consequente impedimento à liberação de cotas de importação por parte do governo local no fim de 2011, frearam o “apetite” de um dos grandes importadores de carne brasileira em termos de volume, explicou o presidente da Abiec, Antônio Jorge Camardelli. O Irã, que foi o terceiro maior importador de carnes do País no início de 2011, com 12% de participação, no momento figura no 15º lugar do ranking da Abiec.
Mas há expectativa de recompor gradualmente essa queda, segundo o executivo. A liberação de 15 mil toneladas de carne brasileira para o Irã, paradas na ocasião da suspensão das importações, e principalmente a licitação aberta pelo governo iraniano, ganha por uma empresa comercial (trading) europeia, no início do mês, prometem, diz Camardelli. “No mínimo, 60% será de carne brasileira.”
Já a Rússia, a despeito do embargo parcial a três frigoríficos brasileiros em junho de 2011, que contribuiu para o recuo médio de 12% em vendas e faturamento no trimestre, continuou como a primeira do ranking, com 69 mil toneladas embarcadas a US$ 265 milhões. Para Camardelli, “não há incertezas” quanto à liderança das exportações para o país. “Em dezembro, 25% das cotas para o país já foram liberadas. A Rússia é um país parceiro, só temos que administrar essas ‘áreas cinzentas'”.
Assim como no mercado exportador de outros tipos de carne, Hong Kong se destacou e ficou como a segunda do ranking da Abiec no trimestre. A alta foi de 41,31% em faturamento, e de 23,66% em volume. O bom desempenho, segundo o executivo, foi motivado pelo embarque de outros tipos de corte (mais caros), após a abertura do mercado chinês. Porém, a despeito de embargos, da questão sanitária e da famigerada valorização do real, o setor mantém as expectativas otimistas de crescimento para 2012, divulgadas no início do ano, sinalizou Camardelli. A previsão é de US$ 6 bilhões, alta de 11% sobre os US$ 5,4 bilhões faturados em 2011.
A ampliação do mercado consumidor, como Chile e Egito, que tiveram altas de 261% e 220% em faturamento, e Argélia, Líbia e Angola (com 102%, 73% e 19%), independente dos baixos volumes de alguns, é a aposta da Abi
Brasil quer recuperar liderança mundial
Se hoje o Brasil responde por 1/5 do comércio global de carnes, segundo o analista de mercado Alcides Torres, da Scot Consultoria, especializada em agronegócio, desafio é retomar a posição de líder nas exportações, perdido em 2011 para EUA. Apesar de dados preliminares apontarem o Brasil em primeiro lugar, os números finais devem trazer os EUA no topo do ranking no ano passado.
O dólar favorável para o país e o aumento dos abates do rebanho norte-americano antes do tempo, devido à seca, puxaram o resultado. “Mas isso dificilmente será mantido em 2012”, disse a coordenadora técnica da Abiec, Gabriela Tonini, que sinalizou que a briga pelo primeiro lugar agora será disputada em pé de igualdade por Brasil, EUA e Austrália.
Questão sanitária – O câmbio é um problema menor na avaliação da economista da Tendências Consultoria, Amarilis Romano. “Se o Brasil consegue exportar carne com ele, imagine se não fosse isso”, ressaltou. Para ela, a grande questão é a barreira sanitária, já que o País ainda não tem 100% de áreas livres da doença aftosa – apesar dos esforços para reverter isso.
De acordo com a Abiec, o País ainda deve conquistar grandes mercados consumidores e que pagam mais pelo produto, como Japão, Coreia do Sul, Canadá, México e o próprio EUA.