O governo japonês anunciou, hoje, um passo fundamental para a abertura de seu mercado à carne suína de Santa Catarina, único estado brasileiro livre de febre aftosa sem vacinação.
“A abertura do mercado japonês altera de maneira significativa o futuro do setor de suínos do Brasil. O Japão é o maior importador mundial de carne suína”, lembra Pedro de Camargo Neto, presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs).
Ainda que a participação do Brasil seja pequena nos primeiros anos, representará volume significativo em relação à produção e exportação brasileiras, avalia a Abipecs.
Atualmente, o Brasil é o maior exportador de carne de aves in natura congelada para o Japão, com quase 90% daquele mercado. “Não existe motivo para também em carne suína o Brasil não passar a atender volume importante das importações japonesas. Acreditamos que rapidamente, já em 2013, o Brasil deverá fornecer cerca de 15% das importações do Japão. Esse volume, pequeno para o comércio do Japão, altera de maneira significativa o balanço entre oferta e demanda do setor brasileiro”, diz Pedro de Camargo Neto.
Concluído processo de avaliação de risco – Nesta segunda-feira 27, reuniu-se em Tóquio a Comissão de Risco de Sanidade Animal do MAFF – Ministério da Agricultura, Pesca e Florestas. A Comissão concluiu o processo de avaliação de risco que poderia representar a importação pelo Japão de carne suína proveniente do estado de Santa Catarina. “A reunião foi pública e as manifestações tranquilas e favoráveis ao interesse do Brasil”, informa o presidente da Abipecs.
Próximo passo: negociar Certificado Sanitário Internacional – Segundo Pedro de Camargo Neto, a decisão das autoridades japonesas equaciona a questão de saúde animal para o comércio de carne suína entre o Brasil e o Japão. Falta, ainda, a negociação dos termos do Certificado Sanitário Internacional – CSI, a ser emitido pelas autoridades do Brasil. O CSI acompanhará as remessas, garantindo que os requisitos de sanidade animal da carne suína atendem todas as exigências apresentadas pelas autoridades japonesas durante o processo de aprovação. Nesta próxima quarta-feira 29, os secretários Enio Marques e Célio Porto, de Defesa Agropecuária e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura (MAPA), estarão em Tóquio para apresentar uma primeira proposta de CSI às autoridades do Japão.
Lista de estabelecimentos de abate – Na sequência, as autoridades do Japão deverão aprovar uma lista de estabelecimentos de abate que atendem as exigências de saúde pública em relação a higiene e controles laboratoriais. “A etapa aprovada hoje, porém, representa de longe a mais difícil, e avaliamos que o restante deverá ser equacionado muito rapidamente”, afirma Pedro de Camargo Neto.
Histórico da abertura – A decisão anunciada hoje é resultado de muitos anos de trabalho dos governos federal e de Santa Catarina e do setor privado. A primeira missão veterinária do Japão a Santa Catarina ocorreu em dezembro de 2007, quando dois cientistas vieram conhecer a situação da febre aftosa no Brasil. Essa missão já foi consequência da obtenção pelo estado de Santa Catarina da certificação do status máximo “livre de febre aftosa sem vacinação”, ocorrida em maio de 2007. Tal certificação foi concedida pela OIE – Organização Internacional de Saúde Animal.
Somente um ano depois da primeira visita da missão japonesa, em dezembro de 2008, o Ministério da Agricultura, Pesca e Florestas enviou extenso questionário a ser respondido pelo Brasil, documentando de maneira detalhada o sistema produtivo e os serviços públicos federal e estadual de Santa Catarina. Esse passo viabilizou uma análise, em Tóquio, da questão de saúde animal.
Período de esclarecimentos – O Brasil devolveu o questionário devidamente preenchido em março de 2009. Mesmo após esse extenso questionário, o MAFF continuou a solicitar, nos meses seguintes, esclarecimentos e informações adicionais. Somente em setembro de 2011, o MAFF enviou nova missão veterinária para conhecer a situação in loco e confirmar partes da documentação apresentada durante o período todo.
“É preciso lembrar, também, que neste período o Japão enfrentou sério foco de febre aftosa na região de Miyasaki, em abril de 2010, quando todos os técnicos em febre aftosa priorizaram esse evento, sem tempo para tratar do pleito brasileiro. Também o terremoto seguido de tsunami e acidente nuclear, em março de 2011, retardou, justificadamente, a conclusão do processo”, lembra Pedro de Camargo Neto.
Muitas viagens ao Japão – Durante estes anos todos, inúmeras viagens a Tóquio foram realizadas por técnicos e dirigentes do governo federal e do governo de Santa Catarina. Diversos ministros de Estado – da Agricultura, das Relações Exteriores e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, visitaram o Japão para tratar do tema, cuja prioridade vinha sendo dada pela embaixada do Brasil em Tóquio. Três governadores de Santa Catarina – Luiz Henrique da Silveira, Leonel Pavan e Raimundo Colombo – estiveram na capital do Japão. A Abipecs e suas empresas associadas também sempre estiveram presentes, garantindo a permanente prioridade política para o melhor andamento dos trabalhos.
“O resultado de hoje, fruto do trabalho de todos, deve ser comemorado, pois abre nova perspectiva para o setor de suínos no Brasil”, completa Pedro de Camargo Neto.