Quando se trata de torresmo, os produtores dos Estados Unidos há muito tempo vêm ganhando o jogo. Eles produzem mais torresmos do que ninguém no mundo.
Agora, uma nova lei federal que abrandará os regulamentos para importação de pele de suíno está agitando o setor. O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), em resposta ao pedido de uma empresa de Ohio, abriu as portas à importação de pele de suíno para produção de torresmo do Brasil e de outros países. Isso provocou um alvoroço entre rivais e funcionários de agências de agricultura estaduais, que advertem que a importação de pele de suíno de áreas do mundo afetadas por doenças de animais de criação é uma ameaça à segurança alimentar.
“Em que medida é essencial que iniciemos a importação de países que têm doenças realmente graves”, perguntou Dave Griswold, um veterinário do Escritório de Saúde Animal do Departamento de Agricultura da Pensilvânia. O USDA diz que sua nova regulamentação na realidade ajudará a prevenir a propagação de doenças, ao exigir documentação cuidadosa dos países que os criam e obrigando que fabricantes de alimentos cozinhem os produtos a altas temperaturas, suficientes para tornar patógenos inócuos.
Subprodutos de processos de produção de torresmo, incluindo fragmentos de pele de suíno gordura, são frequentemente usados na ração para alimentar os suínos.
Em 2001, uma epidemia de febre aftosa no Reino Unido – que se acredita ter sido consequência de carne importada dada na ração dos suínos – levou ao sacrifício de mais de quatro milhões de animais e perdas para o setor agrícola e a indústria de alimentos de mais de US$ 5 bilhões, segundo relatório da Controladoria do Governo (GAO, na sigla em inglês) dos EUA.
Os EUA têm sido particularmente sensíveis ao problema das doenças de animais desde 2003, quando autoridades sanitárias descobriram o primeiro caso de doença da “vaca louca” no país.
Torresmos são pedaços de pele de suínos normalmente fritos em gordura de suínos e salgados ou condimentados. São um petisco popular no sul e ao longo da fronteira EUA-México, onde são chamados de “chicharrones”.
Nos EUA , o crescimento da popularidade da carne suína teve seu auge quando a “dieta Atkins”, pobre em carboidratos, ficou popular no início dos anos 2000. Torresmos não contêm carboidratos e contêm muita proteína. O ex-presidente George H.W. Bush é um fã do petisco, e a Men´s Health Magazine, aprovou-os, qualificando o alimento como “junk food que faz bem”.
Depois que a moda da dieta amainou, as vendas diminuíram, mas têm se recuperado a partir de então. No ano passado, apesar da recessão, os negócios com torresmos cresceram quase 5%, de acordo com a Snack Food Association, sediada em Arlington, Virgínia
A decisão do USDA foi motivada por um pedido da Rudolph Foods Co. de Lima, Ohio, de permissão para importar pele de suíno processada do Brasil, onde o último registro de aftosa foi em outubro de 2005 nos Estados de Mato Grosso do Sul e Paraná. A Rudolph tem uma fábrica que produz torresmos em Chapecó (SC).
O vice-presidente da Rudolph, Mark Singleton , disse que a nova regra foi “baseada em argumentos científicos”, e que sua empresa só trará produtos do Brasil depois que a fábrica for certificada como segura pelo USDA. Ele disse que o foco principal da empresa é expandir o mercado na América Latina, mas a aprovação da nova regra nos EUA implica que a Rudolph terá a opção de exportar pele de suíno processada do Brasil em caso de escassez do produto nos EUA.
A Evans Food Inc., grande concorrente da Rudolph com sede em Chicago, se opôs à mudança. “É uma preocupação para todos no setor”, disse Alejandro Silva, executivo-chefe da Evans, enquanto caminhava em sua unidade de produção de torresmos, em Chicago, mastigando torresminhos recém-saídos da produção, ainda com a gordura estalando. “Basta um só suíno” infectado para espalhar uma doença, acrescentou Arturo Gutierrez de Velasco, diretor de segurança alimentar, Evans. “O risco é baixo, mas as consequências são muito altas”, acrescenta.
Na fábrica da Evans, perto de antigos currais no sul do Trevo de Chicago, trabalhadores recentemente descarregavam enormes caixas de papelão, cada uma contendo 1.800 libras de pele de suíno congelada. As peles são mecanicamente cortadas em pequenos quadrados, cozidos até se transformarem em “pelotas”. As pelotas, produto que a Rudolph provavelmente importaria do Brasil, em seguida são embaladas e enviadas para unidades de processamento em todo os Estados Unidos, onde são fritas a temperaturas bem elevadas para transformá-las em torresmos.
A regra USDA significa que agora os funcionários da Alfândega e Proteção de Fronteiras americana estarão incumbidos de fiscalizar mais detidamente o fluxo de torresmos.
Mesmo antes de a nova regra ter sido aprovada, pessoas em visita aos EUA provenientes do México apareciam com frequência nos postos de fronteira trazendo torresmos, e eram autorizadas a entrar com o produto no país se estes passassem no chamado “teste de crocância”. Se o torresmo esfarelasse facilmente na mão, isso indicaria que o produto fora processado adequadamente, do contrário, sua entrada nos EUA era provavelmente negada.
Agora, os agentes de fronteira devem garantir que as peles de suíno importadas sejam acompanhadas por um “certificado sanitário original” declarando que as peles foram devidamente processadas, o que agora também se aplica ao transporte comercial dessas mercadorias. Certos Estados mexicanos que estão livres de doenças de animais exóticos estão isentos da obrigação.