O Santander, que analisou nove decisões recentes do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) sobre negócios envolvendo alto nível de concentração de mercado, elevou sua recomendação para as ações da BRF Brasil Foods, de manter para comprar. Segundo relatório da área de análise de alimentos e bebidas do banco, o preço-alvo das ações da BRF – resultado da incorporação da Sadia pela Perdigão – para o fim deste ano é de R$ 27,00 e para o fim de 2011, de R$ 32,00 por papel.
Para o Santander, o mercado já descontou o cenário mais pessimista em relação a eventuais restrições do Cade ao negócio. Desde o dia 29 de junho, quando a Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae) recomendou que a BRF licencie as marcas Sadia ou Perdigão e aliene ativos a elas ligados ou venda as marcas de combate e marcas de margarinas, as ações da empresa recuaram 5,85%.
O tombo era ainda maior até o dia 12 de agosto, quando o Santander publicou o relatório. Nesse intervalo, o valor de mercado da BRF saiu de R$ 22,01 bilhões para R$ 19,93 bilhões. Ou seja, a empresa perdeu cerca de R$ 2 bilhões de seu valor na bolsa por conta da perspectiva de restrições pelo Cade.
Gabriel Vaz de Lima, analista do Santander, afirma não acreditar que o Cade recomendará o licenciamento das marcas Sadia e Perdigão. No cenário esperado pelo analista, a recomendação do Cade de que a BRF venda marcas de combate e seus ativos deve ser parcialmente seguida. “Em relação à marca Batavo, assumimos apenas a alienação dos ativos não lácteos”, diz o relatório. Nos cálculos da instituição, a venda das marcas de combate teria um impacto de cerca de R$ 2 bilhões, 6% a 8% da receita esperada para a BRF em 2011.
Com base no estudo das nove decisões recentes, o Santander avalia que o Cade deve aprovar a operação no segundo trimestre de 2011. Os casos analisados foram a compra da Kolynos pela Colgate, a fusão da Brahma e Antarctica, a consolidação da Vale em mineração, a compra da Garoto pela Nestlé, a aquisição da Ripasa pela Suzano e VCP, a compra da Brasil Ferrovias e da Novoeste pela ALL e da Datasul pela Totvs. Além disso, também estudou a compra da Nossa Caixa pelo Banco do Brasil e da Medley pela Sanofi-Aventis.
O Santander não espera que o órgão antitruste siga necessariamente as recomendações da Seae/SDE, como ocorreu em cinco dos nove casos analisados. O estudo também mostrou que, historicamente, o Cade não bloqueia acordos. Entre 2008 e 2009, dos 1.116 casos analisados, só dois foram bloqueados, diz o relatório.
O banco considera ainda que a possibilidade de o órgão exigir o licenciamento das marcas Sadia e Perdigão é “extremamente baixa”. Adotar essa restrição significaria bloquear o negócio. Outra conclusão é que a BRF também poderia recorrer a tribunais federais para concretizar o negócio. O relatório lembra que quando isso ocorreu, as empresas absorveram suas aquisições, dificultando ou impossibilitando a reversão do negócio.
Vaz de Lima afirma que, como em outros casos, a BRF tem condições de recuperar market share perdido em função da eventual venda de ativos . Isso ocorreria por meio da expansão da capacidade de unidades já existentes, como Lucas do Rio Verde (MT). Ele diz ainda acreditar que a empresa também pode lançar novas marcas de combate.
Outra conclusão do Santander é que, no caso da alienação de ativos da BRF, a Marfrig poderia ficar impedida de comprar alguns ativos, como as categorias de congelados e carnes. A razão é que tem fatia significativa do mercado (7,6% em 2009). Já a JBS ou empresas internacionais, que não têm participação importante nesse segmento, teriam uma chance maior de adquirir os ativos da Brasil Foods.
A recuperação das exportações de carne frango – item importante na receita da BRF – e a expectativa de forte geração de caixa e redução de alavancagem também explicam a decisão do Santander de recomendar a compra das ações da empresa. “Também acreditamos que entre 2011 e 2012, a BRF fará aquisições fora do Brasil, que agreguem valor”, diz o analista.