As exportações a partir de Londrina bateram recorde no ano passado, quando fecharam em US$ 848,374 milhões, conforme o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). O valor é 8,5% superior aos US$ 781,831 milhões de 2014 e 2,0% acima do teto anterior, que foi de US$ 831,716 milhões em 2012. A cotação do dólar foi a principal responsável, principalmente por ampliar os embarques de soja ao exterior.
A moeda norte-americana estava cotada em R$ 3,17 em 1º de junho de 2015 e chegou a R$ 3,90 no último dia do ano, alta de 23,0%, segundo o Banco Central. Como os produtores de soja têm enfrentado recuo nas cotações da commodity no ano passado, foi possível compensar o valor com a venda antecipada do produto em dólares, o que gerou boa receita em reais.
De acordo com agentes das chamadas trading companies londrinenses, que são intermediárias de comércio exterior, outros fatores levaram ao recorde. Houve quebra de safra da soja em 2014 e a produção de 2015 foi cheia e bem superior. Ainda, novas regras de atracação no Porto de Paranaguá também deram agilidade aos embarques, o que fez com que uma maior quantidade pudesse ser vendida. Porém, foi mesmo o salto na cotação do dólar que fez com que os produtores colocassem os grãos no mercado internacional, até mesmo as reservas que costumam deixar estocados em busca de melhores preços.
Professor de economia rural da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e ex-presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) no Paraná, Eugenio Stefanelo lembra que o único setor da economia com desempenho positivo no ano passado foi o agronegócio, e que regiões com o perfil mais voltado ao campo sofreram menos com a crise. “O PIB (Produto Interno Bruto) nacional deve cair de 3,0% a 4,0% em 2015, mas o agronegócio deve ter alta de 0,5% a 1,0%”, projeta.
Com o bom desempenho na produção de grãos e a desvalorização do real perante o dólar, Stefanelo conta que os produtores de milho também recuperaram os ganhos em 2015. Situação que deve se repetir este ano. “Nunca antes o milho atingiu a cotação de R$ 44 por saca no porto, o que dá R$ 30 no Interior, então não há dúvida que teremos ampliação da área plantada na segunda safra do produto”, explica. A soja, completa o economista, bateu em R$ 84 por saca, o que mostra que ambos têm dado boa rentabilidade.
Para Londrina, o economista explica que a vantagem deve vir no repasse do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). “A distribuição de ICMS considera o valor agregado da produção e esse desempenho de 2015 afetará o repasse em 2016.”
Salvação da lavoura
Se considerados os dez principais produtos da pauta de exportação a partir de Londrina, a soja praticamente salvou o resultado londrinense. O volume do produto embarcado quase dobrou de 552 mil toneladas em 2014 para 1,038 milhão de toneladas em 2015, com alta de 44,3% na receita, que foi de US$ 277,491 milhões para US$ 400,620 milhões no mesmo comparativo.
Houve queda em valores de outros seis produtos, que são café em grão (-6,4%), milho (-8,5%), fios de seda (-15,0%), açúcar (-16,7%), um tipo de fertilizante (-34,0%) e um insumo farmacêutico (-6,1%). Stefanelo lembra que algumas baixas são explicadas facilmente, como a quebra na safra de café e a cotação em queda do açúcar, mas que outros se devem a cenários específicos ou à crise. Por outro lado, houve maior venda em dólares de café e chá em extrato (+0,86%), trigo (que voltou a ter exportação local em 2015) e baterias (+23,7%).
Ary Sudan, vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) e presidente da fabricante de baterias Rondopar, explica que a valorização do dólar fará com que mais empresas busquem o mercado internacional. “Com o câmbio mais favorável, conseguimos competir melhor lá fora, o que servirá ao Brasil todo.”