Quando a crise econômica eclodiu, as negociações do acordo climático internacional também foram abaladas. “Sentimos que seria um forte complicador para as economias industrializadas”, dizia um negociador do G-77, o grupo dos países em desenvolvimento, no final da rodada Barcelona, a última antes da conferência de Copenhague. “Só que a crise está diminuindo, mas a falta de disposição que sentimos dos ricos continua.”
A rodada de Barcelona terminou melancólica. O abismo entre ricos e pobres só se agravou. Um experiente delegado brasileiro balançava a cabeça na sexta à noite: “Em todos estes anos, nunca vi um confronto Norte-Sul tão forte.”
A cúpula do clima de Copenhague se prenuncia pouco auspiciosa. Os ministros das Finanças do G-20, reunidos na Escócia neste fim de semana, não chegaram a um acordo. No fim de outubro, o ministro das Finanças da Polônia, Jan Rostowski resumiu a confusão dizendo que os países pobres da Europa não aceitam ter que ajudar seus pares ricos a “ajudar os países pobres do resto do mundo”.
Por enquanto, Copenhague pode aprovar recursos “fast-track” de US$ 10 bilhões para que os menos desenvolvidos possam desenhar seus planos de ação para reduzir emissões e se adaptar às mudanças. Mas, mesmo aqui, não está claro quem destina os recursos e como. Esse valor é só 10% do que a própria União Europeia admite ser necessário, entre 2013 e 2020, para mitigar o efeito do aquecimento.
Os países desenvolvidos, que, segundo cientistas, deveriam cortar suas emissão até 2020 em 25% a 40%, pararam em algo próximo a 16%, como conjunto, nas contas do G-77. O bloco dos em desenvolvimento quer 40% de corte. Os ricos têm falado cada vez mais que os emergentes também deveriam ter números – numa tentativa de descolar China, Índia, Brasil e México dos países mais pobres do bloco.
Os EUA correm em raia própria. A promessa de corte de 17% até 2020, com base em 2005, é comparável à promessa europeia de cortar 20%, com base em 1990. Mas a Europa quer que os EUA ampliam sua participação no esforço global. A estratégia do governo Obama tem sido ter uma meta doméstica, aprovada pelo Congresso, antes de dar cartadas internacionais. Mas os EUA também querem no acordo algo que não está sobre a mesa: que cada país contribua sem obrigações internacionais. Para negociadores brasileiros, essa fórmula resulta num acordo fraco demais.
Há um mês de Copenhague, o cenário incerto. A conferência pode terminar com um acordo político, a chamada opção “melhor que nada”. A ideia não é aceita pelo G-77, que não quer um “acordo fraco”. “O Brasil só trabalha com um cenário, não temos plano B”, diz Luis Figueiredo Machado, o chefe dos negociadores brasileiros, que defende o acordo com metas para os ricos, recursos que venham deles e planos de ação de desvio na curva de emissão dos emergentes.
Antes de Copenhague, um encontro bilateral China-EUA pode destravar o nó. A bola está com os líderes globais. Cerca de 40 falam em ir a Copenhague, mas só o britânico Gordon Brown confirmou.