As exportações em alta não foram suficientes para que especialistas e empresários deixassem de lado o receio quanto à valorização do real frente ao dólar. E nem as medidas anunciadas ontem pelo ministério da Fazenda.
A maior taxação para operações de derivativos deve conter a queda do dólar por um curto período de tempo, dizem exportadores e economistas. “Temos tido pouca competitividade em relação a preços de outros países e a especulação é ligeira”, diz Pedro de Camargo Neto, presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs). “Não creio que as recentes medidas serão suficientes para reverter a situação”.
Nos primeiros meses deste ano, empresas brasileiras exportadoras de carne suína perderam contratos de venda com a Filipinas para concorrentes americanos. Segundo Camargo Neto, isso só ocorreu devido à dificuldade das companhias do Brasil para manter os preços baixos diante da desvalorização da moeda americana. “O sucesso das nossas exportações sempre esteve ligado aos preços, mas não temos isso mais”, diz Camargo Neto. Para ele, uma ação necessária para favorecer as exportações seria reduzir os juros. “Ainda não foi colocado o dedo na ferida, os juros continuam muito altos e isso nos prejudica”, afirma.
A JBS, gigante mundial no segmento de frigoríficos, afirma que a concorrência no mercado externo também está complicada em relação à carne bovina. E as medidas de ontem ainda são vistas com cautela. “Até amanhã será possível saber melhor como essas ações do governo irão nos afetar e o quanto poderão ajudar”, diz Renato Costa, presidente da divisão de carnes da JBS no Brasil. A JBS possui 140 fábricas pelo mundo. Além do Brasil, está presente na Argentina, Itália, Austrália, Estados Unidos, China e Rússia.
Difícil reversão
Heron do Carmo, presidente do Conselho Regional de Economia do Estado de São Paulo (Corecon/SP), ressalta que o preço do dólar atualmente está equiparado ao de janeiro de 2009. “Era período pós-crise e o real estava bastante valorizado”, lembra. Sendo assim, ele vê as iniciativas para conter a moeda brasileira como pouco significativas no longo prazo. “As medidas evitam uma valorização adicional do real, mas não revertem o cenário”, afirma Carmo.
O consultor Rogério Dequech, sócio-diretor da Go4! Consultoria de Negócios, concorda. “São medidas paliativas e de pouca efetividade, uma vez que os Estados Unidos vivem um momento de incerteza quanto à sua dívida externa”, diz. As questões políticas que dividem republicanos e democratas também são elementos que geram dúvidas no mercado e prejudicam a cotação do dólar. “Até os Estados Unidos decidirem se irão aumentar seu endividamento ou se não irão saldar sua dívida, o cenário é de insegurança”, afirma Dequech. “A incerteza faz com que outras moedas se fortaleçam frente ao dólar, que não exprime muita segurança.”
Desta forma, consultores não deixam de ressaltar que, além do governo federal, ações que envolvam questões externas como a recuperação de países como a Grécia e o Japão, por exemplo, influenciam o cenário brasileiro. “A nossa exportação depende não apenas da taxa de câmbio, mas também da situação da economia internacional”, diz Carmo.