O senador e atual ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi (PP) afirmou que já assume o ministério tendo que resolver outros gargalos como o abastecimento de milho para o produtores de suínos, aves e ração. Segundo o progressista, a safra do grão foi alta no Brasil, mas devido às exportações em larga escala não foi possível atender a demanda de consumo interno. “Temos que olhar isso de perto, pois a 2ª safra (safrinha) está tendo um problema climático grande, por exemplo, em Mato Grosso, que engloba principalmente a região do Médio Norte e do Araguaia, além do Sul do Brasil também”, frisou o ministro.
De acordo com Maggi, a ideia inicial em assumir o ministério e já tentar fazer com que seja liberado os estoques de milho da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) numa tentativa de “derrubar” o preço para que os produtores que necessitam do grão possam ter competitividade.
“Os produtores que dependem do milho, como os de aves e suínos, acabam não alojando tantos animais porque fica muito caro. Isso faz com que lá na frente o consumidor final de frango, suínos, salsicha, presuntos e etc, pagarão uma conta mais cara, pois faltam animais para serem abatidos. Tudo é uma sequência”, disse.
Em entrevista à Folha, Maggi afirmou que a burocracia prejudica as decisões. Acompanha um trecho:
Folha -Que consequências a quebra da safra deste ano vai trazer para o país?
Blairo Maggi – A situação é preocupante ou de atenção. Nossa safra deverá vir menor. Fala-se até em 40% da produção agrícola [na região de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia]. No Rio Grande do Sul tem excesso de chuva. A segunda safra de milho está sendo dizimada. É impressionante o que o El Niño está fazendo. Ter uma safra menor por causa de clima, você absorve. Mas a consequência para frente é mais grave. O produtor perde renda e não consegue se preparar para a próxima safra. Temos que nos preparar para não ter uma redução na safra seguinte porque nós do governo não tomamos uma atitude, não socorremos os que efetivamente precisam.
Isso vai gerar mais custos?
Muito provavelmente teremos de trabalhar prorrogações de financiamentos para ajudar e dar fôlego ao produtor. Não adianta matar o produtor e a produção. As consequências são muito piores.
O senhor vem há algum tempo criticando a burocracia. Como pretende mudar essa cultura?
Hoje tive o exemplo disso. Estamos numa crise de abastecimento de milho. Subiu tanto que os criadores de suínos e aves estão inviabilizados. Estão deixando de acomodar matrizes e daqui uns dias vai faltar carne. Precisamos tomar a decisão rápida de colocar o milho para os agricultores. Isso é uma atividade finalística do ministério, tirar milho de Mato Grosso para levar para Santa Catarina [onde estão os animais]. Quem sabe isso é a Agricultura e a Conab, que tem os estoques. Devia ser assim: os dois sentam, e eu digo: “faça”. Mas não é assim. Tem um comitê com Fazenda, Planejamento, Casa Civil, uns cinco para dar palpite numa área que não conhecem. Agora, [nova reunião] só em 60 dias. O porco e a galinha não podem esperar. As estruturas montadas têm atrapalhado o fluxo de decisões. Amanhã [hoje] mesmo vou à Casa Civil para fazer a mudança necessária e correr atrás desses caras pedindo pelo amor de Deus para assinarem.
O Código Florestal é adequado para a agricultura e para o ambiente?
Não é dos sonhos dos ambientalista nem dos produtores. Foi o consenso possível. O que está aí, está bom.
A logística para o escoamento da safra do interior é inadequada e motivo de crítica pelos atrasos.
Qualquer melhoria em estradas, porto novo, ferrovia reduz o custo de frete. Isso é renda para o produtor. Esse departamento não está aqui. Por isso serei um ministro ativo com o transporte e com outras áreas para tentar mostrar que investimentos relativamente pequenos trazem grande competitividade.
Como o senhor pretende tratar os acordos internacionais, principalmente com a União Europeia, em que a agricultura tem sido a grande trava?
O comércio internacional é importante para produtores e consumidores. Da minha parte, vou tentar ser um ministro insistente nessa área. Hoje [o Mercosul] não é nem aberto nem fechado. Teria que refazer. Se o mercado é comum, tem que ser aberto. Se não é, tem que tratar nas fronteiras de modo diferente.