Não são das melhores as perspectivas para a produção de grãos em Goiás na temporada 2009/10, que começará a ser plantada nas próximas semanas. Ainda que os produtores do Estado prevejam uma modesta expansão das lavouras de soja, carro-chefe do campo goiano, esta se dará sobre plantações de milho. Assim, a área de grãos em geral tende a permanecer a mesma do ciclo passado.
Mas as principais incertezas não decorrem dessa manutenção, que ao fim e ao cabo, dependendo do mercado, pode não significar estagnação de renda. Conforme José Mário Schreiner, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), o grande temor é que o atual nível de cotações da soja, já menor que no primeiro semestre, sofra nova erosão e deixe de ser compensado pela redução dos preços dos insumos em relação à safra 2008/09.
“Toda cautela é pouca”, afirmou o dirigente ao Valor. Schreiner, que também é vice-presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), lamenta que as vendas antecipadas de soja, que poderiam garantir uma melhor remuneração caso se confirmem novas baixas das cotações do grão, tenham sido muito tímidas até agora, entre outros motivos pela falta de interesse das grandes tradings em adquirir o produto.
De acordo com a Conab, a área plantada total de grãos em Goiás foi de 3,817 milhões de hectares na temporada 2008/09, 3,4% mais que no ciclo anterior. A produção total foi de 13,231 milhões de toneladas, 0,3% superior. A soja, plantada no verão, ocupou 2,307 milhões de hectares, aumento de 5,8% na mesma comparação, e a produção chegou a 2,963 milhões de toneladas, uma queda de 1,3%.
Também segundo a Conab, a primeira safra de milho, semeada no verão, cobriu 538,6 mil hectares em 2008/09, 14,8% menos que na safra anterior. Já a safra de inverno, quase toda ela plantada em áreas ocupadas pela soja no verão, ocupou 371,4 mil hectares, um aumento de 36,9%. A produção total de milho do Estado atingiu 4,899 milhões de toneladas em 2008/09, retração de 2,6%.
Ainda que incertezas em relação aos preços preocupem os produtores – que sabem que a safra que está sendo colhida neste momento no Hemisfério Norte é gorda, e que as previsões para o verão da América do Sul sinalizem uma importante recuperação após os problemas climáticos do último plantio -, o milho no momento sinaliza menor remuneração. Daí a migração.
Sadi Secco, que em 1982 deixou Tapejara, no Rio Grande do Sul, para tornar-se um dos grandes produtores de grãos do polo goiano de Rio Verde, onde é sócio-proprietário do Grupo Secco, elevará as apostas na soja em detrimento do milho e está um pouco mais otimista do que o presidente da Faeg em relação ao ciclo 2009/10, mas expõe as mesmas preocupações, inclusive no que tange a política agrícola do governo federal.
“Com a queda dos preços dos insumos [de 10% a 15% em relação à safra passada, segundo a Faeg], usaremos mais tecnologia [fertilizantes, por exemplo], nas lavouras. Mas o mercado futuro de soja sinaliza preços menores, e nem as medidas do governo estão sustentando os preços do milho. Na região de Rio Verde, teremos mais soja”, disse.
O Grupo Secco tem quatro áreas diferentes, que somam 2,5 mil hectares. Além disso, arrenda outros mil hectares. No verão de 2009/10, a soja ocupará 3,3 mil hectares no total. Sadi Secco espera que o clima permita que o grupo consiga, na soja, produtividade similar à do ciclo passado. Mas Schreiner, da Faeg, adverte que é ano de El Niño e que calor e umidade favorecem a o fungo da ferrugem da soja.
O produtor/empresário – e engenheiro agrônomo -, que é fornecedor da Bunge e foi premiado pela multinacional por sua elevada produtividade das lavouras de soja em 2008/09, garante que conseguiu um rendimento 30% superior à média estadual.