Turbinado por colheitas produtivas e rentáveis de soja e algodão, Mato Grosso caminha para tirar de São Paulo em 2011, pela primeira vez, o posto de maior Estado do país em valor bruto da produção (VBP) agrícola. Levantamento divulgado ontem pelo Ministério da Agricultura, que realiza esse estudo desde 1997, projeta o VBP das principais lavouras mato-grossenses em R$ 33,4 bilhões neste ano, 55,9% mais que em 2010. Na comparação, o VBP paulista deverá diminuir 9,7%, para R$ 29,8 bilhões.
Além de superar a tradicional liderança de São Paulo, o fortalecimento de Mato Grosso deverá levar o Centro-Oeste ao segundo lugar entre as regiões brasileiras de maior VBP, à frente do Sul e ainda um pouco atrás do Sudeste, onde o café, em Minas Gerais e São Paulo, continua sendo uma âncora importante. Essas oscilações decorrem do comportamento de produção e dos preços dos principais produtos cultivados nos Estados e regiões.
Ao mesmo tempo em que soja e algodão tendem a apresentar melhores VBPs em 2011, empurrando Mato Grosso e o Centro-Oeste, o VBP da cana, carro-chefe de São Paulo e do Sudeste, tende a perder força – ainda que vá continuar em elevado patamar.
Para a soja, locomotiva do agronegócio do país e cuja colheita nacional deverá superar 72 milhões de toneladas nesta safra 2010/11, o ministério passou a estimar um valor bruto da produção de R$ 53,4 bilhões no total em 2011, 14,2% mais que em 2010 e novo recorde histórico. A fatia de Mato Grosso deverá ficar em R$ 15,6 bilhões, um salto de 33,3%.
No caso do algodão, o crescimento previsto em relação ao ano passado é de 55,4%. E o montante total previsto, de R$ 4,9 bilhões, perde apenas para o de 2004, quando colheita e preços também foram gordos. Vale observar que o ministério leva em consideração em suas contas o algodão em caroço, cuja produção deverá atingir 3,2 milhões de toneladas, e não em pluma.
Mato Grosso é o principal Estado produtor de soja e algodão do Brasil. São Paulo abriga o maior polo sucroalcooleiro, mas o VBP nacional da cana, apesar das elevadas cotações do açúcar e da recuperação do etanol, deverá recuar 11,3% na comparação com 2010, para R$ 29,1 bilhões. Cálculos das usinas indicam que a safra de cana que está começando será menor que a anterior.
Depois de Mato Grosso e São Paulo, aparecem no ranking do ministério dos maiores VBPs os Estados do Paraná (R$ 25 bilhões, 5,4% mais que em 2010), puxado por soja e milho, e do Rio Grande do Sul (R$ 21,1 bilhões, salto de 10,1%), beneficiado pela soja e pelo bom desempenho do arroz.
No total, a equipe de José Garcia Gasques, coordenador de planejamento estratégico do ministério, calcula o valor bruto da produção das 19 principais culturas agrícolas do país em R$ 193,2 bilhões neste ano, 7,3% acima do resultado apurado em 2010 e novo recorde, superando o de 2008. Eram 20 lavouras, mas não há previsões para a mamona entre os anos de 2009 e 2011.
Do universo pesquisado, algodão em caroço, amendoim e arroz em casca, café e feijão em grão, fumo em folha, laranja, mandioca, milho, pimenta-do-reino, soja e uva aparecem com projeções de incrementos do VBP; banana, batata-inglesa, cacau, cana, cebola, tomate e trigo têm previsões de retração.
Também ontem, a RC Consultores atualizou suas próprias estimativas para a receita agrícola dos principais produtos agrícolas do país. São critérios diferentes, mas a tendência apontada é mais ou menos a mesma. Para Fabio Silveira, economista da RC, a receita total chegará a R$ 228,2 bilhões em 2011, montante 26,8% superior que o de 2010. A consultoria estima aumento de 26% para a soja, que alcançaria R$ 56,7 bilhões, salto de 230% do algodão (em pluma), para R$ 11,2 bilhões, e manutenção do montante da cana em R$ 33,3 bilhões. Apesar dos bons preços, a RC considera que a produção canavieira cairá 7,6% no país na nova temporada.
Por falar em preços, quase todas as principais commodities agrícolas negociadas pelo Brasil no exterior registraram fortes quedas ontem nas principais bolsas americanas, basicamente em virtude do agravamento da crise nuclear no Japão e seus possíveis reflexos no nível de atividade econômica global. Mas, apesar dos tombos em geral – o cacau foi a exceção -, as cotações continuam em elevados patamares.
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