Setores que fornecem insumos para segmentos diretamente ligados ao consumo e beneficiados pelas medidas anticíclicas também já sentem efeitos positivos nas vendas. A indústria química já saiu do fundo do poço e, em abril, manteve-se no processo de recuperação iniciado em fevereiro, segundo avaliação do presidente da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Nelson Pereira dos Reis. Consulta da associação, que representa empresas produtoras de insumos e de matérias-primas químicas para fins industriais, revela que abril foi melhor em vendas e em produção na comparação com março. “Todos os setores estão reportando alta de vendas e de produção. Abril, de maneira geral, melhorou”, disse Reis.
Até o fim do segundo trimestre, os empresários associados à Abiquim estão otimistas. Entre os principais motores dessa recuperação, Reis destaca a indústria automobilística, a construção civil e o agronegócio. “Há uma confiança maior entre os que vendem para estes setores, inclusive para os próximos seis meses”, disse.
A Abiquim prevê alta de produção no segundo trimestre em relação ao primeiro. O nível da produção, contudo, ainda deve ficar 10% abaixo do segundo trimestre de 2008, quando a economia seguia em ritmo de crescimento de 6%, antes do agravamento da crise internacional. No primeiro trimestre, o setor químico para a indústria sofreu retração de 10% em relação ao início de 2008.
Na petroquímica, a atividade continuou em abril o movimento de recuperação iniciado em fevereiro, depois do fundo do poço ocorrido em janeiro, segundo Vítor Mallmann, presidente da Quattor. A empresa é a segunda maior petroquímica do país e é controlada por Unipar (60%) e Petrobras (40%). O setor, diz Mallmann, tem trabalhado com nível de ocupação da capacidade instalada em torno de 90%. “Não tenho informação de nenhuma unidade parada” , disse.
A recuperação deveu-se basicamente ao forte crescimento das exportações diante da demanda interna mais fraca. Somente no primeiro trimestre, as vendas externas de resinas termoplásticas subiram 120% sobre o quarto trimestre, taxa considerada acima do normal pelo executivo e circunstancial. “As vendas pararam de cair, houve recuperação em volume, em parte devido à realização de estoques. A questão agora é saber qual será o novo patamar da demanda no pós-crise”, afirmou. Para abril, Mallmann prevê a manutenção do nível de atividade apurado em março, o equivalente a 90% do patamar registrado no mesmo mês do ano anterior.
A tímida retomada da indústria de eletroeletrônicos foi sentida pela distribuidora de aço Rio Negro. Segundo o presidente, Carlos Loureiro, a empresa ainda não tem dados fechados das vendas de abril, mas sentiu uma melhora nas vendas de aço para esse setor. “As vendas continuam melhores para as empresas de auto-peças e agora um pouco para eletrodomésticos.”
Loureiro diz, porém, que as vendas para eletroeletrônicos são pouco significativas no negócio da empresa, e as vendas de aço devem cair cerca de 5% em abril sobre março. “Ainda assim é uma estimativa boa considerando que abril teve menos dias úteis que março e que nós esperávamos uma queda de até 10%”, diz. As vendas da Rio Negro amargam o mau momento do setor de máquinas e equipamentos, que segundo Loureiro não têm sinais de recuperação.
No setor siderúrgico, não houve em abril sinais claros de recuperação. O desligamento de altos-fornos para manutenção em empresas como a Usiminas fez com que a produção não fosse retomada neste mês, mesmo com a volta de encomendas internas e externas. Segundo Lincoln Fernandes, presidente do Conselho Político, Econômico e Industrial da Federação das Indústrias de Minas Gerais, ainda persiste a avaliação que os consumidores do setor estão desovando estoques do ano passado.
“Existe ainda uma grande ameaça de queda de preços, em função do excesso de produção da China, que pode ser canalizado para o mercado externo a qualquer momento”, disse. O desaquecimento no setor siderúrgico concentra-se no segmento de aços planos. No de aços longos a demanda doméstica permanece aquecida.