Redação (06/12/2007)- A notícia publicada no Valor de que a americana Kraft Foods – a segunda maior empresa de alimentos do mundo, atrás apenas da Nestlé – estaria negociando a compra da Perdigão provocou alvoroço no pregão da Bovespa ontem. Apesar de a companhia brasileira dizer que desconhece qualquer tipo de negociação com a gigante americana, seguro morreu de velho e os investidores foram às compras para ter esses papéis, no caso de realmente haver alguma mudança significativa no setor. As ações ordinárias (ON, com direito a voto) da Perdigão subiram 4,60%, a quarta maior alta do Índice Bovespa, impulsionando o próprio indicador, que se valorizou 2,28% fechando em 64.927 pontos. Mesmo sem ter nada a ver com o possível negócio, por tabela, as preferenciais (PN, sem direito a voto) da concorrente Sadia também subiram 4,45%.
Para os analistas, se a compra por parte da Kraft realmente acontecer servirá para consolidar a Perdigão como uma empresa maior do que a Sadia, o que aconteceu recentemente com a compra da Eleva. "A Perdigão é a bola da vez, ganhando cada vez mais peso e destaque no setor de alimentos que passa por uma intensa consolidação", diz o analista da corretora do Banco Real Pedro Galdi. No caso da compra da Perdigão, os minoritários saem ganhando, já que pela empresa estar no Novo Mercado eles terão direito de receber o mesmo valor oferecido aos controladores – o "tag along" de 100%.
Já as ações da Sadia subiram sem sentido, na visão de Galdi, uma vez que a companhia está apenas no Nível 1 de governança corporativa da Bovespa e oferece 80% de "tag along" tanto para as ONs quanto para as PNs. A Perdigão também possui no estatuto uma cláusula que determina que quem comprar 20% das ações precisa estender a oferta a todo os acionistas, o que também é uma forma de proteção da empresa e dos minoritários. "Além dos bons fundamentos, os papéis da Perdigão deveriam ser negociados com um prêmio em relação aos da Sadia pela sua governança superior", afirma o analista do Real. No ano, no entanto, as ONs da Perdigão sobem 53,77% enquanto que as PNs da Sadia, 65,69%.
Depois da tentativa da Sadia comprar a Perdigão via uma oferta hostil em bolsa, a companhia entendeu a lição e saiu às compras, adquirindo outras empresas para ganhar musculatura. "A Perdigão de caça passou a ser caçadora e já ultrapassou a Sadia em tamanho", diz o analista da Link Investimentos Rafael Cintra. Nessas compras, a empresa diversificou a atuação, entrando no setor de lácteos, por exemplo, algo visto como positivo pelo mercado para fugir das barreiras sanitárias frenqüentemente impostas por outros países à carne brasileira, lembra Cintra. A Sadia, no entanto, já deixou claro que quer crescer apenas no segmento em que sempre atuou. A estratégia da Perdigão de ganhar espaço adquirindo outras companhias enquanto a Sadia prefere começar novas plantas do zero traz um retorno mais rápido à Perdigão, analisa Cintra. Dentro do setor de alimentos, além de Perdigão, o analista acredita que os papéis dos frigoríficos Marfrig e Minerva e os da empresa de massas e biscoitos M.Dias Branco possuem um bom potencial de valorização. "Esse setor só tem a ganhar com o crescimento econômico brasileiro e o aumento da renda da população."
Mercado em rebuliço no setor de alimentos
<p>A notícia de que a americana Kraft Foods estaria negociando a compra da Perdigão provocou alvoroço no pregão da Bovespa ontem.</p>