As captações externas mostram vigor cada vez maior neste início de ano, melhor até do que o esperado pelos bancos de investimento que prepararam as operações. O sinal mais claro dessa recuperação do mercado de dívida são os dois lançamentos preparados para esta semana, da subsidiária americana da JBS nos Estados Unidos e do banco Banrisul, companhias com risco mais elevado.
As empresas, que visitarão investidores internacionais para lançar papéis no exterior a partir de hoje, devem se juntar a lançamentos da Petrobras, que pode fazer uma emissão em dólar, e possivelmente da CSN, segundo fontes próximas aos negócios.
Caso a volatilidade permaneça baixa – o VIX, medida da oscilação dos mercados, está no patamar mais baixo desde meados do ano passado, abaixo de 20 -, o próximo passo para o mercado de dívida será o acesso de empresas pouco conhecidas dos investidores ou que nunca emitiram bônus no exterior, como é o caso da Transmissora Aliança de Energia Elétrica (Taesa), controlada pela Cemig, que vem realizando “roadshow” desde o ano passado.
Até o fim do primeiro trimestre do ano, os bancos de investimento já apostam até na volta das operações em reais, a princípio para empresas de primeira linha, como as de energia ou de telecomunicações.
“O mercado mudou de forma muito rápida”, diz João De Biase, diretor do Itaú BBA. Até por essa melhora “acima do esperado”, nas palavras do executivo, as companhias correm para repetir a estratégia que deu certo em 2011 de antecipar as captações com o receio de que tudo possa piorar novamente na Europa.
“Não acho que vale a pena esperar uma ou duas semanas para ter uma melhora de 0,1 ponto percentual na taxa do título”, diz Sandy Severino, diretor do BTG Pactual. “A volatilidade pode voltar”, diz.
A melhora do humor do investidor era esperada neste começo de ano, quando eles precisam “colocar o dinheiro para trabalhar”. Mas a situação está melhor do que o esperado, fruto de uma recuperação mais consistente da economia dos Estados Unidos e também do bom desempenho dos leilões de títulos soberanos na Europa, mesmo depois do rebaixamento da nota de risco de nove países da região, incluindo a França.
O bom desempenho não foi exclusividade do Brasil. O volume de captação de mercados emergentes soma US$ 13 bilhões neste início de ano, segundo levantamento da Dealogic.
O cenário traçado pelos bancos de investimento inclui uma saída organizada para a crise na Europa, sem ruptura. Mas, de fato, nenhuma solução para a crise foi apresentada e por isso a volatilidade pode voltar a qualquer momento, fechando a atual “janela” para captações externas.
A janela fecha de qualquer forma no dia 15 de fevereiro, quando se completam os 135 dias estabelecidos pela regra americana para o uso balanço de setembro como base para as emissões. Em seguida vem a safra de resultados, que deve coincidir com uma série de vencimentos expressivos de títulos de dívida soberana na Europa, o que pode trazer de volta a instabilidade aos mercados.
“As empresas, mesmos não precisando de funding, estão aproveitaram o cenário para captar, porque ainda há incerteza”, avalia Pedro Bianchi, diretor do Bank of America Merrill Lynch. Mas não há um volume muito elevado de vencimentos de dívidas neste ano, o que dá certo alívio às companhias brasileiras.
Em função dessa espécie de corrida, os bancos de investimento já esperam que tanto o volume de emissão quanto o número de operações superem o primeiro trimestre do ano passado, quando foram captados US$ 12,245 bilhões em 16 operações de lançamento de bônus no exterior.
Já se fala em volume de emissões de até US$ 18 bilhões nos primeiros três meses de 2012. “O apetite está muito grande por emissões brasileiras”, diz Leandro Miranda, diretor do Bradesco BBI.
As cinco emissões feitas em 2012 – incluindo a oferta do Tesouro Nacional, que abriu o ano – trouxeram para o país US$ 4,125 bilhões, segundo levantamento do Valor Data, com captações da Vale e dos bancos Bradesco, Itaú Unibanco e Banco do Brasil.
A demanda equivaleu a, pelo menos, 4 vezes o total ofertado. A procura dá a medida do apetite pelos papéis, diz Richard Dubbs, responsável pela área de dívida da BB Securities em Nova York, que participou de quase todas as operações. Dubbs pondera, no entanto, que os prêmios para novas operações de empresas de risco mais altos ainda permanecem elevados, o que pode dificultar os negócios, acredita o executivo, recém contratado pelo BB, vindo do BBVA.
“A demanda continua de alguma forma limitada, mas isso pode melhorar se os mercados permanecerem estáveis e os próximos negócios apresentarem uma boa performance no mercado secundário”, diz Alexei Remizov, diretor do HSBC.
Os custos estão melhores do que no fim do ano passado, apesar de o prêmio de risco (“spread” sobre a taxa dos títulos americanos) ainda estar acima do patamar anterior. Mas podem cair mais. Há espaço, segundo o BofA Merrill Lynch, para uma redução de até 0,8 ponto percentual para empresas de primeira linha e de até 2 pontos para empresas com maior risco.
A princípio a fila de emissão era composta apenas por empresas que esperavam desde o ano passado por melhores condições de mercado. Havia uma demanda represada que aos poucos começa a fluir. Mas o sucesso das primeiras operações já elevou o número de consultas nos bancos de investimento e outras companhias que pensavam em acessar os mercados apenas no segundo semestre já consideram antecipar a captação, relata Robert Carlson, diretor do Barclays Capital.