Ainda que a economia brasileira esteja patinando, as previsões iniciais para o desempenho das vendas de produtos natalinos pelos frigoríficos neste fim de ano indicam crescimento, um cenário que favorece empresas como JBS , BRF e Aurora Alimentos, cujos portfólios têm produtos específicos para esse período. Além da expectativa de vendas maiores, o setor já vem sendo beneficiado pela queda dos custos de produção, reflexo do menor preço dos grãos.
Tomando como base as projeções da Aurora, que não tem capital aberto na bolsa, as vendas desse segmento devem crescer na comparação com o ano passado. De acordo com o presidente da Aurora, Mário Lanznaster, as vendas de itens natalinos de carne suína devem crescer 4% a 10% ante o que foi comercializado no fim de 2013. A previsão para o faturamento é de que cresça 6% a 10%. Já o volume de vendas de aves natalinas deve avançar 4% a 10% sobre o ano passado. Para a receita, a previsão é de que cresça 6% a 12%.
Os números são otimistas e, se se confirmarem, podem significar um fim de ano favorável para as empresas no mercado doméstico. A BRF tem em seu portfólio produtos como peru e chester, além de itens de carne suína, e a JBS, peru e o frango especial Fiesta, que eram da Seara e foram incorporados ao portfólio da JBS Foods, sua empresa de industrializados.
Luiz Adalberto Stábile Benício, presidente da Associação Catarinense de Avicultura (Acav), estima que as vendas de aves natalinas no fim de ano devem crescer 5% no país. “O segundo semestre é sempre melhor que o primeiro” para o setor, observa Benício. Ele acrescenta que a produção nacional de aves (todos os tipos) está estimada em 12,5 milhões de toneladas este ano, 2% a 3% superior a 2013. E a maior parte desse volume (52%) é comercializado no segundo semestre do ano.
O dirigente afirma que nem toda a produção destinada às vendas de fim de ano foi favorecida pela queda dos custos de produção vista recentemente por conta da redução dos preços de grãos, como milho e soja. Isso porque as aves para esse fim são mais pesadas e começaram a ser produzidas em maio, de forma gradativa, já que não é possível deixar a produção toda para o período mais próximo às festas. “[As empresas] produziram com grão com preços mais altos, portanto, tiveram custo de produção maior”, explica.
A patinada na economia não tira o otimismo do presidente da Acav em relação ao desempenho das vendas no fim do ano. “A economia está parada, mas como se trata de alimentos, deve haver crescimento”, afirma ele.
O presidente do Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Estado do Paraná (Sindiavipar), Domingos Martins, compartilha da expectativa. “As aves especiais [frangos de maior peso, por exemplo) serão o produto mais acessível na cesta de natal”, diz ele, que estima uma oferta 5% a 6% maior no país. O Paraná é o maior produtor nacional de aves. No caso de perus e chester, a expectativa é de oferta estável, segundo Martins. “É um bom momento para a indústria. O mercado internacional está favorável, o doméstico firme e os custos de produção são menores”, comenta.
Segundo apurou o Valor, a JBS Foods deve fazer um pequeno incremento na oferta de produtos como peru e ave Fiesta neste fim de ano, depois de ter reduzido a produção desses itens no ano passado por conta de ajustes feitos quando adquiriu a Seara da Marfrig.
Uma fonte da indústria observa que o fim do ano é um período de grande volumes de venda e de diminuição dos custos fixos, o que favorece o setor. Acrescenta que “o último trimestre costuma ser o melhor do ano”, ainda assim as vendas natalinas não devem ser tão relevantes para os resultados do período. Exportações em alta e queda dos custos de produção devem ter maior influência, avalia.
Na avaliação de presidente-executivo da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), o ex-ministro da Agricultura Francisco Turra, o consumo das chamadas aves natalinas deve crescer neste ano e os preços serão mais altos. De acordo com Turra, o quadro geral vivido pela indústria avícola brasileira neste segundo semestre, com a demanda aquecida do mercado externo – sobretudo da Rússia -, deve influenciar os preços das aves natalinas. “A tendência é de um preço maior”, afirmou ele.
O peru, por exemplo, é um produto que tem tido demanda do México, o que deve influenciar as cotações domésticas. Afetado por um surto de gripe aviária, o país fez um pedido para importar cerca de 100 mil toneladas de carne de peru do Brasil, volume que representa cerca de 50% de todo o volume que o país costuma exportar anualmente.
Segundo a ABPA, não deve haver um importante crescimento da produção de carne de peru no Brasil – no ano passado, foram 380 mil toneladas. Assim, com a demanda mexicana, as cotações tendem a se valorizar. “Imaginamos que não aumentou muito”, disse ele. Em seu pico, em 2012, a produção de carne de peru chegou a 460 mil toneladas. Neste ano, conforme Turra, a produção não deve ultrapassar as 400 mil toneladas.