Se os Estados Unidos continuarem a endurecer o jogo com o México na renegociação do Tratado de Livre Comércio da América do Norte (Nafta), uma das armas do país latino-americano será buscar milho na Argentina e no Brasil para alimentar as 16,5 milhões de cabeças de gado do país.
O assunto voltou à tona nesta sexta-feira (28) no encontro do secretário americano de Agricultura, Sonny Perdue, com o ministro mexicano da Agricultura, Jose Calzada, na cidade de Merida, no México.
O problema político criado pelo presidente Donald Trump – que repetiu nesta semana a ameaça de abandonar o Nafta, que considera “um desastre para a indústria americana” – pode ser a oportunidade para o Brasil voltar ao mercado internacional como grande fornecedor de milho e bater o recorde de exportações do produto.
Sem tradição em exportações desse grão, o Brasil despachou para outros países 30 milhões de toneladas da safra de 2015. Já no ano passado, como mostrou a Expedição Safra da Gazeta do Povo, os problemas climáticos e a falta de planejamento do setor provocaram uma severa diminuição dos estoques públicos e privados, o que fez a saca de milho bater nos R$ 60 e derrubou as exportações para 21 milhões de toneladas.
Este ano, a safra de milho brasileira deve atingir o volume histórico de 93 milhões de toneladas, o que coloca pressão sobre o preço da commodity e a capacidade de armazenamento do país.
Após encontrar-se com seu colega mexicano, o secretário Perdue disse que “o lamentável nas renegociações de tratados comerciais é que a agricultura sempre acaba sendo usada como uma medida retaliatória”. “Nosso alvo, antes de mais nada, é não causar prejuízo ao setor agrícola”, garantiu. Perdue disse ainda que está trabalhando para persuadir e manter informado o presidente Trump sobre como o setor industrial americano pode se beneficiar de um pacto agrícola robusto.
Sobre a possibilidade de que o México acabe recorrendo à Argentina e ao Brasil para comprar soja e milho, Perdue desdenhou: “Não vejo nenhuma indicação de que eles estejam levando esta possibilidade a sério”. “Temos tremendas vantagens logísticas junto ao México, somos o armazém da esquina para eles se abastecerem e continuaremos a tirar vantagem disso”, afirmou.
O México, em contrapartida, tem declarado que só aceita uma revisão integral do acordo do Nafta, de 1994, e que não podem ficar de fora assuntos sensíveis como a questão dos vistos temporários para trabalhadores rurais mexicanos ingressarem nos Estados Unidos.