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Milho caro faz NE olhar Argentina

Preço na região já se aproxima de cotação do produto do país vizinho. Importar ainda não é viável.

Milho caro faz NE olhar Argentina

O preço do milho alcançou patamar tão elevado no mercado doméstico que já se aproxima dos valores do produto originado na Argentina. No Nordeste, que há cerca de oito anos não compra volumes significativos de grão do país vizinho, a cotação do milho está na casa de R$ 34 a R$ 35 por saca. O milho argentino posto em fábricas próximas ou a cerca de 100 quilômetros dos portos nordestinos sairia por R$ 35 a R$ 35,60, considerando um preço de US$ 285 por tonelada, para entrega em março, conforme cálculos de traders.

Apesar da escassez de oferta de milho no mercado doméstico, nesse nível ainda não é viável importar o produto argentino, de acordo com fontes do mercado, mas tradings de grãos que atuam no Brasil já fizeram consultas sobre essa possibilidade.

A última vez em que empresas de aves e suínos do Nordeste fizeram importações expressivas de milho da Argentina foi em 2003, quando houve problemas de abastecimento na região, tradicionalmente uma compradora de milho de outros Estados brasileiros. Na ocasião, os negócios viraram caso de Justiça, já que o milho transgênico – a Argentina planta praticamente só grão modificado – era proibido no Brasil. Agora, está liberado.

Apesar de os preços no Nordeste não estarem muito distantes da paridade de importação, analistas acham difícil que ocorram compras de milho argentino, principalmente no primeiro semestre deste ano. A razão é que o início da colheita do grão no Brasil, ainda que atrasado, deve aliviar o quadro de oferta e de preços do produto.

“Tudo vai depender de como será a safrinha. A importação é um plano B”, comentou Paulo Molinari, da Safras & Mercado. Ele se refere à segunda safra de milho, cujo plantio já está atrasado por conta da lentidão na colheita de soja. O grão é plantado em áreas cultivadas com a oleaginosa na safra de verão. O produto é semeado entre 15 de fevereiro e 30 de março, e há temor no mercado de que problemas climáticos afetem a safrinha de milho.

Molinari observa ainda que a safra de milho da Argentina deve recuar em relação ao ciclo anterior. Afora isso, as exportações de milho dependem de licenças do governo argentino, limitadas, por enquanto, a cinco milhões de toneladas, segundo um trader.

Em 12 meses, o milho já subiu 71,27% no mercado doméstico, segundo o indicador Esalq/BM&FBovespa, acompanhando, em parte, a valorização no mercado de Chicago. Na bolsa americana, a segunda posição (vencimento maio) subiu 86,33% em 12 meses, para US$ 6,8475 por bushel, de acordo com cálculos do Valor Data.

Queda nos estoques de milho e consumo elevado nos EUA – principalmente por causa do etanol -, além da demanda chinesa, têm mantido as cotações firmes. No Brasil, nem a intervenção do governo, que desde novembro já vendeu 1,776 milhão de toneladas de seus estoques, fez os preços caírem. Hoje, a Conab leiloa mais 407 mil toneladas para garantir o abastecimento. “Os preços não caem porque o mercado está atrás de milho”, resume Sílvio Farnese, diretor de programas da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura.

Além da demanda firme, Anderson Galvão, da consultoria Céleres, avalia que os estoques de milho projetados pelo governo estão superestimados. Molinari, da Safras, tem opinião semelhante. De acordo com a Conab, os estoques finais na safra 2010/11 totalizam 8,3 milhões de toneladas, entre estoques públicos e privados. Os do governo somam 4,5 milhões.