O comércio entre Brasil e Argentina aparentemente superou o período de conflitos provocados pelas barreiras na troca de mercadorias e os dois países já discutem ações conjuntas de promoção comercial, a começar por uma missão de empresários para a China. Reunidos, ontem, o secretário de Comércio Exterior, Welber Barral, e o subsecretário de Política e Gestão Comercial do Ministério da Produção argentino, Eduardo Bianchi, garantiram que não há mais problemas de comércio em setores empresariais, apenas “questões pontuais” entre os dois países.
A reunião entre as equipes dos governos do Brasil e Argentina não foi, porém, isenta de tensões. Barral insistiu, sem sucesso, na necessidade de acabar com o sistema de licenças automáticas para importação. E ambos os países temem o uso político de barreiras não tarifárias como ações antidumping ou investigações sobre normas de origem. As autoridades argentinas e brasileiras, depois da reunião, de manhã, em que discutiram o comércio bilateral, preferiram apontar os avanços, como a recente eliminação de licenças prévias para comércio de pneus. Não há previsão, porém, de nenhuma outra medida do gênero.
As duas equipes verificaram que, em alguns setores nos dois países, houve “desvio de comércio” – concorrentes de fora do Mercosul ocuparam fatias de mercado antes preenchidas pelos sócios do bloco. Foi o caso, segundo Barral, das vendas de móveis argentinos ao Brasil: eles representavam até 7% do mercado brasileiro de importados e, entre 2008 e 2009, passaram a 1%, enquanto os móveis da China passaram de 25% para 40% de participação no mercado.
Os produtores brasileiros de papel viram sua fatia no mercado argentino cair de 34% para 30% no mesmo período, e a da China subir de 4% para 10%. Exportadores de malha fina do Brasil tinham 29% e têm, hoje, apenas 9%, mas os chineses que vendem o mesmo produto passaram de 56% do mercado para 78%. As autoridades do Brasil e da Argentina pretendem, hoje, analisar as razões da perda de participação nos mercados.
“Em alguns casos que notamos perda do lado argentino a razão foi aumento nos nossos custos, inclusive custos logísticos brasileiros, em outros casos, houve mudança no padrão de consumo, e ainda, o produto brasileiro recebeu tratamento que levou à perda de mercado”, comentou Barral. “Tratamento”, segundo o secretário, são as barreiras alfandegárias.
Esses obstáculos serão discutidos hoje com os representantes argentinos, que se disseram dispostos a mudar procedimentos, quando possível, para evitar discriminação contra os brasileiros. “Vamos analisar, pode ser competição, a demanda do mercado”, disse Bianchi.
Decididas a evitar uma escalada protecionista no comércio bilateral, as autoridades argentinas e brasileiras esperam identificar oportunidades no mercado chinês para a promoção comercial conjunta. Barral e Bianchi disseram acreditar que há possibilidade de trabalhar juntos para venda de produtos alimentícios, certos calçados mais sofisticados e máquinas para nichos específicos. “Esperamos que seja a primeira atividade de promoção conjunta, para replicá-la em outros mercados”, anunciou Barral, que espera lançar a missão comercial no segundo semestre deste ano.