Redação (13/02/2009)- A primeira missão veterinária da União Europeia (UE) este ano ao Brasil encontrou "algumas incoerências" no sistema de controle animal no país, mas "nada catastrófico" que possa levar a restrições à entrada da carne brasileira nos 27 países do bloco comunitário.
Foi o que declarou ontem ao Valor o diretor de Saúde Animal da UE, Bernard Van Goethem, na prática afastando novas pressões de produtores da Irlanda contra a carne brasileira.
Van Goethem disse que a inspeção de veterinários europeus no Brasil, concluída no dia 2 deste mês, foi "normal e é inevitável que uma inspeção ache pequenos problemas", sem porém causar danos no comércio. "Agora não sei o que os brasileiros estão fazendo, se estão reforçando as auditorias, não tive nenhum contato com o lado brasileiro desde a volta da missão. Suponho que eles estão olhando o lado da auditoria", acrescentou.
Van Goethem disse esperar que na média 100 novas fazendas brasileiras sejam certificadas por mês para exportar para a UE e para isso Bruxelas "acredita nas autoridades brasileiras para apresentar as fazendas que respondem aos critérios exigidos".
Por seu lado, a missão brasileira em Bruxelas disse não ter recebido nenhum sinal de insatisfação do lado europeu, após a missão, e espera o relatório final dos veterinários para o fim deste mês. O Brasil terá 30 dias para eventuais esclarecimentos.
A Irlanda, que sente o peso da concorrência brasileira, segue pressionando. Um dos diretores da Associação de Produtores da Irlanda (IFA, em inglês), Michael Doran, pediu a Bruxelas para agir contra o Brasil por causa de "persistente falha do país para respeitar os padrões europeus de identificação e rastreabilidade".
Ele diz se basear em informações de que uma missão da EU Food and Veterinary Office (FVO) teria identificado irregularidades suficientes para reduzir a lista de fazendas brasileiras autorizadas a exportar para o mercado europeu.
Doran exigiu a imediata publicação do relatório da missão da UE, e reclamou da "relutância" da Comissão Europeia de tomar medidas contra o Brasil baseadas em "sólidas conclusões da FVO".
Em entrevistas em Dublin, ele afirmou que quando se trata do Brasil a UE "não está aplicando corretamente as regras e há influências de fora que vão acima das conclusões da FVO".
Os irlandeses costumam acusar os italianos de influenciarem a UE para não punir a carne brasileira, pela necessidade do produto, inclusive para produção típica italiana, como a bresaola.
Recentemente o Comitê de Agricultura do Parlamento Europeu voltou a discutir a carne brasileira, acionado pelo deputado irlandês Mairead McGuinness, que exigiu de Bruxelas "não relaxar as regras que se aplicam sobre as fazendas brasileiras que querem exportar para a UE".
Segundo a imprensa irlandesa, Van Goethem teria respondido ao Parlamento que não esperava que o número de fazendas brasileiras certificadas para exportar para a UE aumentassem rapidamente no curto prazo. Ontem, o funcionário europeu repetiu que a UE acredita nas autoridades brasileiras para listar as fazendas capazes de atender critérios exigidos para a exportação.