Um dos problemas do saneamento no Brasil é a baixa freqüência das análises da qualidade da água que utilizamos para consumo. Por todo o país, ainda são insuficientes os testes destinados a detectar as condições da água nos locais de captação, como fontes, ribeirões ou lagos. Dados do Ministério da Saúde dão conta de que apenas 67% das cidades estão preparadas para realizar um relativo controle da qualidade das águas consumidas por sua população. O problema não é novo e começou a ser detectado nos Estados Unidos ainda nos anos 1960. Autoridades sanitárias americanas já naquela época descobriram que não somente a cor e a presença de patógenos ou produtos químicos deveriam ser os únicos parâmetros na aferição da qualidade da água. Existiam diversos produtos químicos, que por diferentes caminhos chegavam às fontes de água, não sendo detectados por análises laboratoriais comuns. Estes contaminantes não eram eliminados em sistemas de tratamento convencionais, nem mesmo por filtros de carvão ativado. Atualmente a quantidade de produtos químicos e substâncias usadas nas indústrias farmacêuticas, químicas e de bens de consumo é bem maior e tem poder de contaminação muito mais forte.
No que diz respeito ao acompanhamento regular da qualidade da água destinada ao tratamento e posterior consumo, o Brasil ainda está muito longe dos padrões europeus. Nesta região a qualidade da água é monitorada em seus constituintes mínimos, visando identificar traços (pequenas quantidades) de substâncias como hormônios, solventes e metais pesados. Recentemente em pesquisa realizada pelo Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) com a água destinada ao consumo na Região Metropolitana de Campinas, foi identificada presença de interferentes endócrinos; substâncias químicas que se ingeridas por períodos prolongados podem prejudicar o funcionamento das glândulas. Através da pesquisa foram encontrados diversos tipos de hormônios e de esteróides derivados do colesterol; produtos de origem farmacêutica e industrial. As concentrações destas substâncias eram em algumas amostras mil vezes superiores aos índices permitidos em países da Europa. Parte destas substâncias, associada ao surgimento de diversos tipos de câncer, não é eliminada pelos métodos usuais de tratamento de água em operação no Brasil, de acordo com depoimento de especialistas.
Segundo o médico e professor da Universidade Federal do Mato Grosso, Wanderlei Pignati, em reportagem para o Jornal do Brasil em 2011, a água potável no Brasil pode conter 22 tipos de agrotóxicos, 13 de metais pesados, 13 de solventes e seis de desinfetantes. Estes contaminantes são tolerados até atingirem os níveis permitidos oficialmente. Por vezes esses parâmetros de contaminação são ultrapassados, dada a falta de controles adequados. Até o ano de 1977, a legislação determinava que a água para consumo não poderia ter resíduos de mais de 12 tipos de agrotóxicos e dez metais. Depois disso, foram feitas atualizações da legislação, “autorizando” a presença de novas substâncias químicas usadas na agricultura e na indústria. Segundo o pesquisador da UNICAMP Wilson Jardim, existem atualmente na água cerca de 800 substâncias consideradas “contaminantes emergentes”, ou seja, substâncias que aparecem no líquido, mas não são controlados por legislação.
Dadas estas condições, vale lembrar que o Brasil é hoje o maior consumidor mundial de agrotóxicos, alguns dos quais já proibidos em outros países. Uma atuação mais efetiva do Ministério da Saúde e da ANVISA (Associação Nacional de Vigilância Sanitária) é mais que necessária, já que especialistas prevêem um aumento dos casos de câncer causados por estas substâncias.