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Mato Grosso

MT encara riscos da soja precoce

Plantio da safra foi antecipado por conta das chuvas. Antecipação pode representar alívio no caixa dos produtores, mas a ferrugem ameaça lavouras.

O Natal dos produtores de soja de Mato Grosso será de bastante trabalho. A colheita da safra que tradicionalmente começa nas primeiras semanas do ano deverá ser antecipada em pelo menos 10 dias e coincidir com as festas natalinas. O plantio da safra 2009/10 foi antecipado por conta das chuvas que atingiram as regiões produtoras a partir de setembro. As primeiras colheitadeiras devem entrar em operação em até duas semanas.

A antecipação pode representar um alívio no caixa dos produtores, mas também oferecerá riscos no que diz respeito ao controle da ferrugem. Dados do Consórcio Antiferrugem, controlado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), sinalizam nesta safra uma situação mais incômoda. No ciclo 2008/09, a primeira ocorrência da doença em Mato Grosso aconteceu nos primeiros dias de dezembro e até o fim do ano passado foram registrados sete casos. Nesta safra, o primeiro caso foi identificado em novembro e até ontem o número de ocorrências em Mato Grosso somavam nove.

“Os produtores estão preparados para fazer até 2,5 aplicações de fungicida, mas creio que serão necessárias pelo menos mais duas”, afirma Glauber Silveira, presidente da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja). Ele lembra que a antecipação deixará o período de colheita mais longo, já que 50% das lavouras são de ciclo médio e 25% de ciclo tardio. “Na prática, as lavouras ficarão expostas à ferrugem e por um período maior, já que já foram registrados os primeiros casos e a colheita antecipada tende a espalhar os esporos do fungo durante o processo”, afirma.

Para o consultor Leonardo Menezes, da Céleres, a ferrugem está de fato acima dos níveis de 2008, fato que pode elevar o custo de produção dos agricultores. Hoje, um hectare de soja custa aproximadamente US$ 885 e as duas aplicações adicionais representariam, apenas com o preço do produto, um incremento de 5%. “A possibilidade de uma safra mais onerosa existe, mas ainda é cedo para dizer se isso acontecerá ou não. Teremos um panorama mais claro a partir de janeiro de 2010”, afirma o consultor.

Diante da ameaça da ferrugem, perdas de produtividade não estão descartadas. Apesar de a área plantada em Mato Grosso voltar para um patamar superior a 6 milhões de hectares, a própria Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) espera uma produtividade de 3.027 quilos por hectare, rendimento 1,4% inferior ao registrado na safra 2008/09. A tendência também é identificada pela Céleres. Em seu último relatório, a consultoria estimou uma produtividade de 3.050 quilos por hectare, 2,2% sobre o rendimento indicado pela empresa para a safra passada.

Mas não é apenas a exposição à ferrugem e aumento de custos que preocupam o produtor de Mato Grosso. A colheita antecipada vai começar a encher mais cedo os armazéns do Estado, que ainda têm milho estocado. Dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agrícola (Imea) mostram que existem 1,6 milhão de toneladas do cereal para serem comercializadas, além do estoque da safra passada. Com mais 18 milhões de toneladas de soja que serão produzidas na safra 2009/10, e 7,13 milhões de toneladas das duas safras de milho, a capacidade de 25 milhões de toneladas dos armazéns do Estado certamente será excedida.

O plantio antecipado fez com que os trabalhos em Mato Grosso também se encerrassem antes. Dados da Céleres Consultoria indicam que o plantio terminou este ano no Estado com 15 dias de antecedência em relação à safra passada e já chegou ao fim desde a semana passada.