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Na disputa por novos mercados

Em 2002, o frango brasileiro deu o ponta pé inicial para efetivar a sua entrada em novos mercados como o do Canadá e o da China. Os embarques estimados para o ano também são o destaque do setor: 1,5 milhão de toneladas.

Redação AI (Edição 1107/2002) – O frango brasileiro vem cada vez mais conquistando o mercado internacional. O produto está presente hoje em 90 países e já apresenta grandes chances de efetivar a sua participação em mercados cobiçadíssimos do novo e do tradicional comércio exterior como a China e o Canadá. O Brasil, segundo maior produtor e exportador de carne de frango do mundo, registrou recordes de exportação em 2001, quando embarcou 1,249 milhão de toneladas de frangos inteiros e em partes. Tal volume rendeu ao setor uma receita cambial de US$ 1,3 bilhão.

Exportações brasileiras de carne de frango
1999 2000 2001 2002*
Volume 770.552 ton 916.000 ton 1.245.000 ton 1.500.000 ton
Receita US$ 875.377 US$ 805.700 US$ 1.300.000 US$ 1.300.000

 Fonte: Abef. *Previsão.

De acordo com Associação Brasileira de Exportadores de Frango (Abef), o ano de 2002 também promete resultados tão bons quanto. A entidade estima que o País deverá exportar cerca de 1,5 milhão de toneladas de carne de frango e que a receita, em dólar, gerada por este volume seja igual à do ano anterior, levando em consideração a alta da moeda americana no Brasil.

Cláudio Martins, diretor executivo da Abef, diz que foram vários os fatores que contribuíram para o bom desempenho do frango brasileiro no mercado internacional em 2002.

“A combinação entre a avançada tecnologia, melhoria genética e o processamento industrial fazem do frango brasileiro um dos mais saudáveis e apreciados do mundo”, explica. Martins também afirma que a alta do dólar ajudou bastante a impulsionar as exportações de frango.  “Embora tenha sido positiva a valorização do dólar no Brasil, creio que se a cotação se fixasse na casa dos R$ 3,20 este valor seria muito mais interessante para o setor”. O diretor ainda lembra a importância da parceria com a Agência de Promoção às Exportações (Apex), com a qual pôde colocar em prática ações de marketing e de valorização do frango brasileiro. “A parceria com a Apex, o apoio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – na figura do ministro Pratini de Moraes, o câmbio e a agressividade natural das empresas brasileiras em exercer a competitividade no mercado internacional foram os pontos chaves para o bom desempenho do frango nacional no mercado externo”.

Cláudio Martins afirma que as estimativas para 2002 podem ser superadas

Porém, nem tudo são flores. O frango brasileiro precisou brigar, e continua brigando, com um adversário desleal: o protecionismo.  O sistema que favorece a produção nacional e onera as taxas dos produtos da indústria estrangeira, como fazem os Estados Unidos (maior produtor e exportador de carne de frango) e alguns países europeus, criam barreiras para o produto brasileiro. “O ano de 2002 foi muito acentuado nesta questão, sem mencionar os problemas que a Alemanha e a Inglaterra criaram para que o frango brasileiro deixasse de entrar com a força que vinha exercendo”, diz Martins. O episódio ficou marcado pelas denúncias dos dois governos de que o frango brasileiro apresentava resíduos de uma substância proibida, o nitrofurano, e que foi contestada pelo Brasil. No entanto, jornais britânicos recentemente informaram que a Agência de Controle de Alimentos do Reino Unido ratificou integralmente a determinação da Comissão Européia de inspecionar a totalidade da carne de frango exportada pelo Brasil para aquele continente.

Mercados – Em 2002, no período de janeiro a outubro, o setor embarcou 1,324 milhão de toneladas, um volume 25% maior que os embarques de carne de frango do mesmo período de 2001, de acordo com a Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Somente em outubro de 2002, os embarques brasileiros de carne de frango totalizaram 185.972 toneladas, com receita de US$ 140,6 milhões. Os valores representam, sobre outubro de 2001, aumentos de 55% e de 21% no volume e receita, respectivamente, e queda de quase 22% no preço médio.

Os cortes de frango vêm puxando para cima o desempenho das exportações, uma vez que representam 58% dos volumes comercializados e 67% da receita total gerada no período de janeiro a setembro.

Os principais destinos do frango brasileiro em 2002, por área geográfica, são:
Frangos inteiros: Oriente Médio (67% do total), Rússia (20%), África (4%) e Europa (3%).

Cortes de frango: Ásia (37% do total), Europa (31%), Rússia (16%) e África (4%).

O Brasil, como já mencionado, está flertando com os mercados da China, Canadá, Filipinas e Chile, tendo, com os dois primeiros, negociações mais adiantadas.

O segmento de produtos industrializados, computado separadamente dos volumes de frangos inteiros e em cortes exportados pelo setor, também apresenta resultados excelentes, de acordo com a Abef. Nos nove primeiros meses de 2002, os industrializados atingiram um total de 1.031 toneladas embarcadas, quase 37% de crescimento sobre o mesmo período do ano passado. A receita cambial desses produtos chegou a US$ 36,6 milhões, apresentando uma evolução positiva de 20,5%, quando comparada à de 2001. “Nossa expectativa é de fecharmos o ano de 2002 com exportações de 22 mil toneladas de industrializados, com uma receita de US$ 50 milhões.

O início das exportações de frango brasileiro

A revista Avicultura Industrial tem história. São 94 anos acompanhando o desenvolvimento da avicultura brasileira. E quando o Brasil começou a exportar sua carne de frango, a revista esteve lá e relatou todas as informações dos primeiros embarques. Veja aqui um pouco do histórico de nossa avicultura.

Frango brasileiro entra na guerra do Oriente

Revista Avicultura Industrial – Agosto de 1975

“A partida foi no dia 1 de agosto de 1975. Trata-se do nosso primeiro batalhão de frangos, ao redor de seiscentos mil dos melhores representantes da nossa avicultura. E como são um grupo de vanguarda, viajam com uma importante missão: iniciar a conquista do mercado externo, demonstrando que o produto brasileiro é tão bom ou melhor que congêneres internacionais. (…)

Foi assim que, em maio, embarcava pelo Porto de Santos uma partida experimental de aves da Sadia, com 25 toneladas. O destino: Abu Dahbi, dois dos sete emirados da União dos Emirados Árabes, localizada ao Sudoeste da Ásia, no Golfo Pérsico. (…)

As exigências – Enfrentando uma verdadeira guerra, armada pelos tradicionais exportadores europeus, a Brascan (Trading internacional com sede de operações no Brasil) necessitou utilizar todas as táticas para furar o bloqueio que impedia sua entrada no Oriente Médio. Mas o frango brasileiro, em si, não enfrentou grandes dificuldades para conquistar a praça.

Primeiro embarque do frango brasileiro (1975) 
Empresas que
participaram
Destinos Quantidade
Sadia Kwait e Arábia Saudita  467 ton 
Perdigão Kwait  100 ton
Seara Kwait 83 ton

Primeiro, porque atendia perfeitamente às exigências sanitárias dos importadores, um quesito, cujo atendimento deve ser creditado ao DIPOA, que dispõe de uma legislação e de uma inspeção sanitária suficientes para atender ao mais exigente comprador. E segundo, – um fato muito importante – pelo sabor do frango brasileiro (“frango com gosto de frango”), melhor cotado entre os demais concorrentes. Uma situação facilmente explicável, já que a nossa ave é alimentada sobretudo com produtos naturais, o que não ocorre com as aves européias, criadas com rações quase que “artificiais”, dada a menor disponibilidade de máterias-primas no Velho Continente. (…)

Quem e como participou – (…) O resultado do trabalho dessas três empresas (Sadia, Perdigão e Seara) pôde ser observado em detalhes de 28 de julho a 1 de agosto, período em que o navio finlândes Aconcágua, atracado no Porto de Itajaí (SC), embarcou a primeira remessa de 650 toneladas. Desse total, 467 toneladas foram fornecidas pela Sadia (400 com destino ao Kwait e 67 para a Arábia Saudita), 100 pela Perdigão (para o Kwait) e as 83 restantes pela Seara (também para o Kwait), cada empresa exportando o produto com sua própria marca, tanto na embalagem individual com nas caixas especiais de doze unidades.”