O acordo entre os ministros da Agricultura da Argentina e do Brasil para permitir a importação de uma cota de 3 mil toneladas mensais de carne suína brasileira terá mais um capítulo nesta terça-feira, afirmou Pedro de Camargo Neto, presidente da Abipecs, entidade que representa os produtores e exportadores do setor, durante o “Seminário Travas no Comércio Bilateral – Brasil e Argentina”, realizado pela Câmara de Comércio Argentino Brasileira, em São Paulo.
“O Ministério da Agricultura me informou que haverá uma reunião hoje entre o Guillermo Moreno [secretário de Comércio Exterior da Argentina] e importadores para acertar as cotas”, disse Camargo Neto, bastante cético quanto à efetivação do acordo anunciado há quase um mês pelo ministro da Agricultura brasileiro, Mendes Ribeiro e seu colega argentino, Norberto Yauhar.
Acertado em março, o acordo enfrentou resistência do próprio Moreno, responsável pela barreira. Conforme informou o Valor, o secretário argentino disse aos importadores que só seriam permitidas compras de carne suína para a produção de embutidos de baixo custo, ameaçando inclusive jogar “todo o peso do governo” caso os importadores não cumprissem a determinação.
Desde fevereiro, quando a Argentina criou uma declaração juramentada a ser apresentada pelos importadores, as exportações brasileiras de carne suína estão praticamente suspensas. Com isso, os embarques despencaram de uma média mensal de 3,5 mil toneladas para cerca de 500 toneladas, segundo Camargo Neto, da Abipecs.
Apesar das restrições argentinas, Camargo Neto disse que o embargo russo, que se arrasta há 9 meses, e a escassez de milho permanecem como os principais problemas do setor, principalmente no Rio Grande do Sul, segundo maior produtor de suínos do país.
“O mercado de suíno no Rio Grande do Sul cresceu em função da Rússia”, disse ele. Os russos eram os maiores compradores de carne suína até o embargo. No primeiro trimestre deste ano, as exportações gaúchas de carne suína caíram 13,2%, para 33 mil toneladas, conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) compilados pela Abipecs.
“Até então, éramos o maior exportador de carne suína do país, posição que devemos perder por conta desse conjunto de condições desfavoráveis”, afirmou o diretor-executivo do Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos do Estado do Rio Grande do Sul, Rogério Kerber.
No caso escassez do milho, resultado da seca que atingiu as lavouras do Estado, Camargo Neto pediu medidas imediatas do governo. “Precisamos de leilões de milho urgentemente”, afirmou ele, criticando os recentes leilões anunciados pela Companhia Brasileira de Abastecimento (Conab), que só permitiam a compra de milho por médios produtores e agricultores do Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf). “Historicamente, o milho é fornecido pela empresa integradora, que não pode comprar o milho nesses leilões”, criticou.
“Os leilões para produtores já autorizados foram inócuos”, acrescentou Kerber. Segundo ele, o suinocultor não tem condição de adquirir milho de outro Estado, “porque a operação é tributada com ICMS e o produtor não pode utilizar esse imposto como crédito a ser compensado em outra etapa”, explicou. O dirigente estima ainda que a quebra de safra gaúcha de milho, que aumentou em cerca de 10% os custos da produção de suínos no Estado, tenha gerado uma necessidade de trazer cerca de 2,5 milhões de toneladas de milho de outros Estados do país.