Em mais uma ofensiva para tentar dar liquidez ao mercado de commodities agrícolas, a BM&FBovespa está estruturando uma série de medidas para atrair novos players às negociações. A bolsa criou um novo contrato para o etanol, com diferenças importantes em relação ao atual, que é para álcool anidro e tem liquidação física do produto.
O novo contrato terá liquidação financeira, será cotado livre de impostos e negociará álcool hidratado, que é comercializado diretamente nas bombas de combustível. Além disso, o valor de referência está sendo formado com base na praça de Paulínia (SP). O indicador de preço já começou a ser levantado diariamente pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq).
A expectativa da bolsa é que a mudança crie liquidez para esse mercado, já que as diferenças tributárias entre os Estados e os problemas de logística do país deixavam o antigo contrato pouco atrativo para os investidores. Além disso, é esperada a participação de fundos de investimentos, muito dos quais não atuam em mercados onde os contratos permitam a entrega física do produto.
“O mercado de etanol está passando por mudanças, com consolidações e novos agentes entrando neste setor. Conversamos com todos os elos da cadeia, inclusive com os distribuidores, e todos se mostraram interessados nas mudanças feitas”, afirmou Ivan Wedekin, diretor de commodities da BM&FBovespa durante seminário promovido pela bolsa ontem. “Esperamos que o etanol tenha o mesmo sucesso do contrato do milho com entrega financeira, que ganhou muito espaço desde que foi lançado e hoje só perde em importância para o café”.
A mudança não é por acaso. Apesar da importância do agronegócio para a economia do Brasil, os contratos de derivativos agrícolas negociados na bolsa brasileira representaram no ano passado modestos 0,7% do total de derivativos do país. O desempenho está muito aquém da média mundial, onde os papéis agrícolas abocanharam uma fatia pouco superior a 5% em 2009. “Nunca tivemos uma oportunidade tão grande como a que existe agora. Quando você conquista a liquidez acabamos atraindo também investidores do mercado financeiro”, disse Wedekin.
Não é só o etanol que sofreu mudanças. Segundo Edemir Pinto, diretor-presidente da BM&FBovespa, está sendo discutido na câmara consultiva da soja uma mudança no contrato do grão. A ideia é criar um índice de preços com base em Paranaguá (PR) e também com liquidação financeira, o que geraria mais liquidez a exemplo do que aconteceu com o milho e deve acontecer com etanol.
“No caso da soja, a liquidez já está consolidada em Chicago e será difícil transferir de local. Com o novo contrato de etanol poderíamos ser os formadores do preço internacional, além de ser possível fazer a arbitragem com as bolsas americanas e permitir o crescimento dos dois mercados”, disse.
As mudanças provocadas pela bolsa para dar liquidez às commodities agrícolas não devem gerar concorrência com uma de suas principais parceiras, a Chicago Mercantile Exchange (CME), da bolsa de Chicago e também de Nova York, onde são negociadas as principais commodities do mundo. A avaliação é do próprio vice-presidente da CME, Charles Carey. “Não acredito em uma competição entre as duas bolsas, mas sim, em um crescimento nos negócios nos dois países”, disse.
A BM&FBovespa também vai estrear em junho um sistema de registro de informações para medir o risco de crédito do setor produtivo, por meio de sua controlada, a Bolsa Brasileira de Mercadorias (BBM). O sistema foi encomendado pelas indústrias de defensivos agrícolas para poder identificar quais são os produtores que estão mais expostos dos ponto de vista de endividamento.
“O sistema pode ser expandido para a indústria de máquinas, fertilizantes, bancos e seguradoras. As empresas vão registrar nesse sistema as vendas feitas para cada CPF e as garantias oferecidas para o pagamento. Com isso, as empresas poderão consultar o comprometimento de capital que cada um desses CPFs”, explicou Wedekin.