Depois de um ano de perdas climáticas, o produtor de grãos terá de driblar o mercado para garantir boa rentabilidade na safra 2009/10, em fase de plantio. Boas perspectivas – como a previsão de crescimento da área da soja em 4% (para o recorde de 4,3 milhões de hectares) e a expectativa de produtividade até 20% maior no milho no Paraná – vêm sendo ofuscadas pelos indícios de como serão as negociações nos próximos meses.
A comercialização será mais difícil neste ciclo devido à safra recorde dos Estados Unidos e à maior produção prevista para a América do Sul, avalia o economista Paulo Molinari, da consultoria Safras & Mercado. No Paraná, esse quadro mantém o produtor mais longe do mercado do que habitualmente. Perto de 10% da safra do verão passado, de milho de soja, ainda não foram vendidos.
A grande oferta de grãos no mercado internacional estaria abreviando os momentos de cotações lucrativas e tornando mais raros os bons negócios. Quem mais sofre são os produtores de regiões com desvantagens logísticas, como o Centro-Oeste do País. Problemas como o alto custo do transporte tendem a se mostrar mais pesados num ano de margens de lucro reduzidas.
“A baixa dos preços internacionais, associada à valorização do real diante do dólar no Brasil, é um grande problema a curto e médio prazo. O produtor não está vendendo. Enquanto isso, os preços bons passam. A oferta crescente tende a alongar esse quadro”, analisa Molinari.
Enquanto tomadores de preços, o que os produtores podem fazer para elevar sua lucratividade é trabalhar com vendas antecipadas, aproveitando as melhores cotações, mas poucos atuam no mercado futuro, por exemplo. A maior parte das vendas que antecedem a colheita é feita através de contratos que travam o preço do produto ou a cotação do dólar em relação ao real.
Na região agrícola mais favorável do País ao produtor de grãos, os Campos Gerais paranaenses, os agricultores ainda preferem vender no mercado físico. A menos de 200 quilômetros do Porto de Paranaguá, eles recebem mais por seus produtos, justamente pelo menor custo de transporte. E as lavouras são mais produtivas que no Cerrado do Centro-Oeste, pela alta concentração de matéria orgânica proporcionada pelo plantio direto na palha.
O produtor Newton Tramontin, que atua nos Campos Gerais, no município de Ipiranga, não conseguiu aproveitar as melhores cotações do último ano e, com soja e milho estocados, prevê queda nos preços. Sua situação é um bom exemplo do que boa parte dos agricultores enfrenta. Ele ainda não vendeu 50% da produção de soja da safra passada e 40% da de milho. As 13 mil sacas da oleaginosa que sobraram estão em depósitos de indústrias que cobram R$ 1 por saca pela armazenagem durante o ano.
Outras 3 mil sacas de milho ficaram em armazéns próprios. Além dos preços baixos, é preciso assumir custos de armazenagem. Quando deixa o produto nos armazéns dos compradores, o produtor brasileiro perde poder de barganha. Escolhe o momento da venda, mas se obriga a aceitar o preço de balcão. Quando os grãos ficam em armazéns próprios, ainda é possível escolher a melhor oferta do mercado disponível. Mesmo assim, atuando só no mercado físico, a segunda opção nem sempre faz diferença.
Para Tramontin, reservar a melhor situação para o milho foi praticamente inútil, porque os melhores preços do ciclo parecem ter passado. “Poderia ter vendido por R$ 26 a saca, mas a cotação caiu a R$ 18.” No caso da soja, em sua região, o preço da saca passou de R$ 50, mas recuou a R$ 45.
A queda nas cotações está relacionada ao mercado internacional, mas no caso do milho é agravada pelo mercado interno. O Paraná começou o plantio de verão com 33% do cereal produzido no último ano (verão e inverno) ainda nas mãos dos produtores. Dos 11,3 milhões de toneladas colhidos, num ano de quebra por causa da seca, 3,7 milhões não tinham sido vendidos por produtores e cooperativas.