Os preços recorde dos hambúrgueres de carne bovina e das costeletas de suíno nos Estados Unidos vêm ajudando a fazer de 2014 o ano mais lucrativo da história para os produtores de frango.
Os americanos passaram a comprar mais carne de frango, como uma opção mais barata, enquanto redes de lanchonetes como a Yum! Brands Inc. e o McDonald’s Corp. adicionaram novos itens ao menu, como asas de frango e sanduíches de frango. O aumento nas vendas levou os preços no atacado para o maior patamar histórico, elevou o lucro de processadoras de alimentos como a Tyson Foods Inc. e deixou outras, como a Ozark Mountain Poultry, sem conseguir atender a toda a demanda.
“Vendemos tudo”, disse Ed Fryar, executivo-chefe da Ozark, cuja sede fica em Rogers, no Arkansas, e processa 1,361 mil toneladas de carne por semana. “No outono [americano] passado, quando pensei em 2014, não imaginei que a demanda seria tão grande. Este vai ser um ano realmente bom para o setor”.
Com o frango inteiro vendido nos supermercados nos EUA por metade do preço por quilo das carnes bovina ou suína, os americanos deverão consumir o maior volume de frango em três anos, enquanto a oferta apertada e os altos preços devem fazer com que a demanda por carne vermelha seja a menor na história, de acordo com dados do governo. Em um ano em que a renda agrícola deverá cair, afetada por superávits na colheita, o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) informa que as granjas de criação de galinhas vão ganhar em média US$ 203,5 mil, a maior quantia desde o início dos registros, em 1996.
O preço do frango inteiro vendido pelos criadores na Geórgia, maior Estado produtor nos EUA, subiu 9,2% desde o fim de 2012, para o recorde de US$ 1,07 por libra-peso (0,453 quilo), em 9 de abril, segundo o USDA. A carne bovina no atacado subiu até 26% no período, sendo negociada a US$ 2,2252 por libra-peso, na segunda-feira, enquanto a carne suína subiu até 62%, para US$ 1,2441 por libra-peso, na segunda-feira.
O aumento nos preços da carne e laticínios contribuiu para acentuar o maior avanço nos custos dos alimentos no varejo desde 2011, segundo dados do governo. O preço da carne subiu, depois de 2014 ter começado com o menor o rebanho bovino nos EUA em 63 anos, reflexo dos anos de seca e dos elevados custos da ração. A alta do preço da carne suína, por sua vez, decorre do vírus da diarreia epidêmica suína (PED), que se disseminou por 28 Estados. Os contratos futuros de gado bovino e suíno atingiram recordes em março.
Embora as altas ampliem o lucro em todos os segmentos de carnes, o frango vai ser o “claro vencedor” neste ano, segundo a Tyson, maior processadora de carnes do EUA. “É a proteína mais barata; ou a proteína menos cara”, disse Donnie King, presidente da unidade de comidas prontas da empresa, a analistas.
Mesmo com o aumento na demanda, a oferta de frango continua limitada, porque os produtores mostraram-se mais lentos em elevar a produção do que em outras ocasiões de alta nos lucros. Em março e início de abril, o número de pintos alojados para a produção era praticamente o mesmo que o visto um ano antes, enquanto a incubação de ovos está abaixo das médias de cinco e dez anos, conforme o Departamento de Agricultura.
O aumento na produção pode começar a fazer os preços caírem já em maio, segundo David Maloni, da Associação Americana de Restaurantes (ARA), em Sarasota, Flórida. O número de ovos em incubados chegou a 202,1 milhões na semana encerrada em 4 de abril, o maior número desde julho, uma contagem que vem ficando acima dos números de 2013, segundo o USDA.
Conforme o órgão, os preços da carne vermelha já recuaram este mês. A carne bovina no atacado caiu 8,8% em relação ao recorde atingido em 18 de março, enquanto a suína caiu 7% em relação ao recorde de 2 de abril.
As perspectivas para o setor fora dos EUA são negativas, já que os custos da ração estão em alta e um surto de gripe aviária afetou a demanda na China, segundo maior consumidor, de acordo com relatório do Rabobank de 28 de março. A Rússia tem superávit de produção, enquanto mudanças nos padrões comerciais pressionam os preços na Europa e Brasil, segundo o banco.
Qualquer aumento na produção nos EUA provavelmente será modesto, mantendo a oferta limitada e os preços nas alturas, segundo o USDA. Na semana passada, o órgão cortou a previsão de produção em 2014 para 17,463 milhões de toneladas. Embora ainda recorde, a nova projeção, de aumento de 1,8%, é menor do que os 2,3% previstos em março e que o avanço registrado em 2013, de 2,1%.
Não haverá uma “mudança significativa” na produção de aves até o segundo semestre de 2015, segundo o executivo-chefe da Tyson, Donald Smith, disse em conferência em 12 de março.
O preço do peito de frango desossado e sem pele, em alta de 23% neste ano no Nordeste dos EUA, estava cotado a US$ 1,5586 por libra-peso em 28 de março, maior patamar para esta época do ano desde 2004. Em junho ou julho poderia chegar a US$ 2, impulsionado por gargalos na produção, de acordo com Bill Roenigk, economista do Conselho Nacional do Frango (NCC), associação americana de produtores e processadores com sede em Washington.
Adicionar galinhas à granja pode ser um processo lento, já que os avicultores “não querem estar em uma situação em voltem a perder dinheiro” com o excesso de produção, disse Roenigk.
Processadoras como a Tyson e a Pilgrims’ Pride Corp. registraram perdas em 2008, em 2009 e em períodos de 2011, afetadas por excesso na produção. Em 2012, as margens de lucro foram impactadas pela seca nos EUA, que levou o preço do milho e a da soja a patamares recorde. Com o aumento no custo da ração, os produtores de bovinos e suínos reduziram o número de cabeças. A produção de frango caiu no terceiro trimestre para o menor patamar para esse período desde 2009.
O período da incubação do ovo até a ave ser levada para o abate pode ser de oito a dez semanas, em comparação aos 12 meses entre o nascimento e o abate de um suíno e aos quase três anos no caso dos bovinos. Os produtores de aves são capazes de reagir com mais rapidez a variações nos preços.
Outro limitante para a expansão da produção é o aumento no preço da ração, que representa 27% do custo médio total. Os contratos futuros de milho em Chicago, que caíram em 2013 graças a uma colheita recorde, subiram 20% desde janeiro, enquanto os de farelo de soja avançaram 21% nos últimos 12 meses.
Mesmo com os preços mais altos, o frango ainda é a carne mais barata. Os varejistas vendiam o frango inteiro, fresco, a US$ 1,504 por libra-peso, em fevereiro, abaixo dos US$ 3,555 da carne moída e dos US$ 3,659 da costeleta de suíno, de acordo com a Agência de Estatísticas do Trabalho dos EUA (BLS). Os americanos vão comer 37,51 quilos de frango per capita neste ano, maior volume desde 2011, enquanto o consumo de carne vermelha vai cair para 45,76 quilos, menor nível desde, pelo menos, 1970, segundo o USDA.
“Claramente, o frango vai ser a proteína da vez”, disse Russell Whitman, vice-presidente da divisão de aves da empresa de análises de commodities Urner Barry, em Toms River, Nova Jersey.
Os restaurantes vêm apostando nas aves. O McDonald’s, cuja sede fica em Oak Brook, Illinois, e é a maior rede de lanchonetes do mundo, reintroduziu as asas de frango em seu cardápio no fim de 2013 e passou a oferecer um sanduíche de pão de forma que pode vir com bacon, carne bovina ou de frango. A Wendy’s Co., lançou uma salada asiática de frango com castanhas de caju, enquanto o Burger King Worldwide Inc., informou em março que desde janeiro vende seu Spicy Original Chicken Sandwich, observando que o mercado é crescente para o frango.
As perspectivas de aumento da demanda são uma dádiva para a Tyson, de Springdale, Arkansas, que obtém a maior parte de suas vendas e lucros com o frango. A empresa vai ter lucro recorde de US$ 1,02 bilhão no atual ano fiscal e de US$ 1,07 bilhão no próximo, segundo a mediana das estimativas de seis analistas consultados pela “Bloomberg”. As ações acumulam valorização de 82% nos últimos 12 meses. As da Pilgrim’s Pride, de Greeley, Colorado, segunda maior produtora dos EUA, mais do que dobraram.
“Estão todos promovendo o frango”, desde a rede de sanduíches Subway até a Jack’s Family Restaurants Inc., diz Dennis Maze, que cria frangos em Blount County, Alabama, há 41 anos e produz cerca de 227 mil quilos por mês. “Ainda estamos oferecendo um preço razoável para o consumidor. Graças à demanda, espero um ano muito próspero para a indústria de frango”.