Já faz tempo que publico artigos chamando a atenção para o descaso dos administradores de nossos municípios em relação à área rural, tristemente abandonada, transformando em párias milhares de pessoas que não puderam sair do campo e nele ficaram abandonados à própria sorte.
Sabe-se que esse fenômeno é estadual, já que a agricultura fluminense patina sobre suas deficiências. Temos exemplos, como o que ocorreu em Campos dos Goytacazes, que há muitos anos possuía mais de doze usinas produtoras de açúcar. Atualmente, apenas duas se mantêm a duras penas.
Também no caso de leite, registramos no estado o fim de muitas cooperativas. Em Cantagalo, três fecharam suas portas. Nossos políticos não tomaram conhecimento de que isso iria representar o corte de postos de trabalho, além de retratar a perda da importância do setor econômico e a incompetência dos seus gestores.
Como trabalhei em várias cooperativas e viajei muito pelo interior, me acostumei a ver no noroeste fluminense centenas de hectares de terras produzindo quantidades consideráveis de arroz, tal qual se verificava em São Sebastião do Paraíba. Com tristeza, hoje observo essas mesmas regiões tomadas pelo mato, o que me causa melancolia e ao mesmo tempo grande revolta diante de sua derrocada, e sem vislumbrar nenhum esforço por parte dos poderes públicos para resgatar essa tradição.
Quando assistimos o Brasil despontar no cenário mundial como o segundo maior produtor de alimentos e o maior exportador de carne, soja e milho, cresce a minha indignação contra o descaso lamentável das pessoas que ocupam cargos eletivos, sejam prefeitos e vereadores, que se fazem de cegos e surdos.
Está claro para quem entende do assunto, que nós não temos possibilidade de produzir soja e milho em quantidades semelhantes a outras regiões brasileiras, mas temos, sim, por exemplo, centenas ou milhares de hectares de morros que poderiam ser cobertos por plantações de florestas adaptadas às nossas realidades. Isso certamente iria enriquecer seus proprietários e possibilitar a geração de uma enorme quantidade de empregos pouco exigentes em matéria de competência pessoal dos trabalhadores que, mesmo sem muita instrução, facilmente aprenderiam a arte de plantar e cuidar de floresta.
É lamentável.