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"O agronegócio brasileiro é capaz de promover mudança geopolítica mundial"

<p>A frase foi dita em palestra proferida na abertura da Feira de Negócios Rurais de Mato Grosso do Sul, realizada na tarde desta quinta-feira (22/11).</p>

 Redação (23/11/2007)-  "Estabelecer parcerias e buscar apoios que se traduzam em recursos materiais e financeiros e trabalhar em prol da efetiva união das diversas cadeias produtivas são as principais e urgentes condutas a serem adotadas pelo setor primário nacional, para que o Brasil atinja todo o seu potencial produtivo, que pode ser forte o suficiente para promover uma mudança geopolítica mundial". Estas foram as recomendações do agrônomo e ex-ministro da agricultura, Roberto Rodrigues, em palestra proferida na abertura da Feira de Negócios Rurais de Mato Grosso do Sul, realizada na tarde desta quinta-feira (22/11) no Pavilhão Albano Franco, em Campo Grande (MS).

O evento conta com patrocínio da Biocom Biocombustível e a organização da Opec e é realizado pelo Sebrae e tem o apoio da Abratrurr/MS, Actur/MS, Agraer/MS, Banco do Brasil, Federação da Agricultura e Pecuária de MS (FAMASUL), Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR-AR/MS), Fundação Educacional para o Desenvolvimento Rural (FUNAR), Embrapa Agropecuária Oeste, Embrapa Gados de Corte, Embrapa Pantanal, Fiems, OCB/MS, Prefeitura Municipal de Campo Grande, Satur/MS, Seprotur/MS, SFA/MS, Ministério da Agricultura, Pecuária e do Abastecimento e Ministério do Desenvolvimento Agrário. Dirigindo-se a uma platéia formada principalmente por profissionais ligados ao agronegócio, o ex-ministro começou seu pronunciamento afirmando que, dos 10 maiores problemas a serem enfrentados pela humanidade nas próximas décadas, cinco encontram na agricultura, sua principal possibilidade de solução. São eles: energia, água, alimentos, meio-ambiente e pobreza.

Esta afirmação foi balizada na apresentação dados de um estudo realizado pelo Ministério da Agricultura, que demonstrou a evolução da produção brasileira de grãos nos últimos 10 anos. "O Brasil teve um aumento de 127% no volume de sua produção, enquanto o aumento da área cultivada foi de 21,8%", citou Rodrigues. O desempenho do Brasil nas exportações foi outro aspecto detalhado por ele. "De 1997 a 2006 a exportação de soja cresceu 110%; a de produtos madeireiros, 103%; a de açúcar, 200%; de café67%; de fibras (principalmente algodão), 470%; mas o índice mais surpreendente foi mesmo o aumento na exportação de milho que chegou a 1025%", ressaltou.

Ainda segundo o ex-ministro, os produtos oriundos do agronegócio respondem por 92% das exportações brasileiras. "É o agronegócio que vem segurando a balança comercial e garantindo o crescimento das reservas do país", enfatizou, explicando que ao mesmo tempo em que as exportações cresceram, as importações mantiveram-se estáveis ou menores, "com exceção do período entre 2005 e 2006, quando uma conjunção de fatores desfavoráveis comprometeu muito o setor primário", lembrou. Demandas mundiais Para respaldar ainda mais sua afirmação de que o Brasil poderá vir a ser o grande provedor mundial de produtos agro-industriais, o ex-ministro traçou um panorama das tendências mundiais de demanda por esses produtos.

Rodrigues classificou a crescente exigência por rastreabilidade e certificação como "uma tendência inequívoca", e o crescimento demográfico mundial como uma prova de que, num futuro próximo, energia e alimentos serão realmente as grandes necessidades da humanidade. "Em 2000 a população mundial era de 6,1 bilhão de pessoas. A estimativa é de que em 2030 ela seja de 8,3 bilhões, o que significa 2,1 bilhões a mais de pessoas se alimentando e consumindo energia", calculou Rodrigues, que acrescentou ainda que 85% desse crescimento populacional se dará na Ásia e na África. Como argumento de que outra crescente tendência mundial é a necessidade de se agregar valor aos produtos primários, em função da mudança do perfil dos habitantes do planeta, Rodrigues citou o fato de que, enquanto em 2000, 53% da população mundial era urbana e 47% vivia no campo, a projeção para 2030 é de que o índice dos habitantes de cidades suba para 61% e o de habitantes rurais caia para 39%.

Seguindo o mesmo raciocínio ele revelou que em 2000 havia, em todo o mundo 140 mil pessoas com mais de 100 anos. Em 2030 esse número deverá chegar a 1,4 milhão, atingindo 1,5 milhão em 2040. "Logicamente haverá maior consumo de produtos que ofereçam mais praticidade, maiores facilidades e vantagens para o consumidor urbano", analisa. Por fim, Roberto Rodrigues voltou a reforçar que um país como o Brasil, que tem cerca de 62 milhões de hectares de terras agricultáveis e 220 milhões de hectares de pastagens tem potencial para se tornar não apenas auto-suficiente em energia e alimentos, mas também de suprir essas necessidades de países como os Estados Unidos, que embora possua um excedente de alimentos, é deficitário em fontes renováveis para geração de energia.

Ainda segundo Rodrigues, enquanto na América Latina existe um certo equilíbrio na produção de alimentos e energia, a União Européia, Ásia e a África passam por déficit de ambos. "Por isso o Brasil vive uma chance espetacular, um momento fantástico de promover a expansão de suas exportações a ponto de promover uma mudança na estrutura geo-econômica e agrícola mundial". No entanto, "lhe faltam estratégias para buscar mercados, faltam recursos materiais e financeiros para investir em logística, integração, articulação entre os diversos elos das cadeias produtivas do agronegócio. O setor primário brasileiro sofre com a desarticulação", opina. O ex-ministro conclui: "A organização em cooperativas, sindicatos, associações dos diversos elos é fundamental. Juntos e fortalecidos eles poderão buscar as necessárias políticas públicas para que o potencial seja alcançado gerando riqueza e renda para o país. Para mudar a "civilização" precisamos de competência e união".

Informações valiosas Para o vice-presidente da BBM (Bolsa Brasileira de Mercadorias), Carlos Eduardo Dupas, palestras como a do ex-ministro Roberto Rodrigues são importantes porque "trazem ânimo, otimismo a todo o setor. As perspectivas são boas, as oportunidades vão surgir para quem souber aproveitar", afirmou. Para ele, informações balizadas e confiáveis como as trazidas pelo ex-ministro deveriam ser trazidas sempre porque ajudam e estimulam o produtor rural a ser mais eficiente no desempenho de suas atividades.