Pelo menos 140 medidas protecionistas estão prontas para ser usadas contra interesses comerciais estrangeiros pelo mundo, diz relatório do Global Trade Alert (GTA), mecanismo apoiado financeiramente pelo Banco Mundial.
Richard Newfarmer, um dos principais economistas do banco, citou a estimativa no fórum público anual da Organização Mundial do Comércio (OMC), para alertar sobre medidas anunciadas e ainda não implementadas.
Ele assinalou que no momento a boa notícia é que medidas de proteção não estão impedindo a recuperação do comércio mundial. A produção industrial deu uma virada, com uma tendência positiva em todas as regiões.
Mas insistiu que todo cuidado é pouco, à medida que recuperação comercial implica também uma nova luta em torno de importações. A recuperação do emprego tem uma defasagem de 12 a 24 meses em relação à retomada da produção, e certos governos preferem continuar usando mecanismos de defesa comercial.
O Banco Mundial vê proliferação de medidas protecionistas desde o ano passado, no rastro da dramática crise global. O G-20, reunindo países desenvolvidos e emergentes que fazem 85% da produção mundial, adotou 270 novas medidas de proteção, comparadas a 70 ações de liberalização.
As investigações antidumping aumentaram 18,5% no primeiro semestre e novas sobretaxas aplicadas cresceram em 30,5%. O protecionismo disfarçado cresce com implementação de regulações mais estritas, procedimentos aduaneiros mais lentos etc.
O banco constata que os países ricos têm usado subsídios com mais frequência. Já países em desenvolvimento preferem aumentar tarifas, até porque não têm dinheiro para dar subvenções. Três setores agrícolas (de carnes, pesca e de frutas e legumes), metais básicos, têxteis e vestuários e químicos básicos estão no topo da lista das importações sofrendo mais barreiras. Vários setores tendem a receber mais proteção antes do aparecimento de melhores sintomas da economia global.
Luiz Felipe Lampreia, ex-ministro das Relações Exteriores do Brasil, alertou em debate no fórum que a falta de perspectivas para a conclusão da Rodada Doha deverá provocar um número bem maior de disputas comerciais, com os paises tentando abrir mercados para suas exportações.
Lampreia acha que a negociação global vai ainda demorar “alguns anos”. E, se “demorar cinco anos”, os contenciosos vão se acumular, pressionando o sistema multilateral. Gary Hufbauer, do Instituto Peterson de Economia Internacional, em Washington, acha que não haverá conclusão de Doha antes de 2011 ou 2012, diante da situação eleitoral americana.
O comércio mundial cresceu 3,5% em julho, comparado ao mês anterior, na maior alta em mais de cinco anos, segundo dados publicados pelo Centro Holandês de Análise Econômica. Mas as trocas globais continuam 16% abaixo do pico de abril de 2008, ilustrando a que ponto a crise foi devastadora.
Patrick Low, principal economista da OMC, mantém a estimativa de queda de 10% a 11% em volume no comércio global neste ano. A Iata, entidade das empresas aéreas, reforça essa possibilidade. Informou que o transporte de cargas, que dá uma ideia da saúde no comércio global, melhorou 12% em agosto em comparação ao ponto mais baixo de dezembro de 2008. Mas continua 16% abaixo do nível de abril do ano passado, quando a demanda começou a declinar.
Companhias aéreas da América Latina e do Oriente Médio foram as únicas a registrar crescimento de 3,9% e 3% respectivamente no transporte de carga em agosto.