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'O ciclo das commodities não acabou'

Apesar das turbulência globais, cenário para os preços internacionais das commodities agrícolas ainda é positivo.

Reunidos em São Paulo em tradicional evento anual sobre perspectivas para o agronegócio promovido pela BM&FBovespa e pelo Ministério da Agricultura, alguns dos principais representantes do setor despertaram logo no início do evento, que começou cedo, exatamente com a música que queriam ouvir. Apesar da crise na zona do euro, da lenta retomada americana e da desaceleração chinesa, conjunção que têm colaborado para tirar sustentação dos mercados agrícolas nos últimos meses – e que poderá afetá-los ainda mais no curto prazo -, o horizonte para commodities como soja, milho, café e açúcar ainda é, sim, positivo.

“O ciclo de alta nos preços das commodities deve sobreviver à crise na Europa”, vaticinou Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco, enquanto os atrasados de sempre procuravam um lugar para sentar. Segundo ele, a forte demanda por alimentos, energia e outras matérias-primas em emergentes, além dos limites para o aumento da produção na maior parte do planeta, deverão manter as cotações em patamares elevados. E o economista não acredita em uma parada brusca da China, apesar da expectativa de um crescimento mais fraco nos próximos anos. “A China tem muita poupança, é credor de todo o mundo e não lhe falta reservas. Seu desafio é ajustar os investimentos”, disse.

O gigante asiático, que cresceu, em média, 11,3% de 2003 a 2008, deverá avançar 8% em 2012 e 7,3% ao ano entre 2013 e 2020, de acordo com projeções apresentadas por Goldfajn. Consequentemente, o mundo também crescerá menos. A expectativa é que a economia global se expanda, em média, 3,5% entre 2013 e 2020. De 2003 e 2008, essa taxa foi de 4,4%. Goldfajn afirmou, ainda, que o dólar pode subir mais e oscilar entre R$ 2,20 e R$ 2,30 caso a Grécia deixe a zona do euro, agravando o cenário de incertezas globais. “Se a situação se normalizar, a tendência é o câmbio voltar a R$ 1,85, que é a nossa taxa de equilíbrio”, disse ele.

Entre os principais segmentos do agronegócio nacional, o que mais se animou com a mensagem foi o da soja, que entre seus próprios fundamentos globais de oferta e demanda, movimentos financeiros à parte, já tinha motivos para projetar bons preços. “A soja possui os fundamentos mais altistas do mercado de grãos”, afirmou Kona Haque, analista do Macquarie Capital, depois de lembrar que os estoques globais ficaram ainda mais curtos após a quebra da produção sul-americana na safra 2011/12, por causa da seca.
 
Para ela, o mercado precisaria até racionar a demanda e tentar estimular o aumento da colheita no Brasil, mesmo que o plantio nos EUA, ainda o maior produtor e exportador mundial seja maior que o inicialmente previsto em 2012/13. Quanto ao avanço brasileiro, as respostas à sugestão da analista vieram na sequência. Conforme a Agroconsult, a área plantada com a oleaginosa no país poderá aumentar em mais de 2 milhões de hectares na próxima temporada e bater um novo recorde. Segundo André Pessôa, sócio-diretor da consultoria, com isso a produção poderá superar 80 milhões de toneladas, 14 milhões a mais que em 2011/12. A Argentina, terceiro maior produtor e também castigada pela seca em 2011/12, deverá seguir pela mesma trilha de recuperação.

Para a Céleres, a área brasileira deverá registrar aumento de cerca de 1 milhão de hectares em 2012/13, e a colheita poderá chegar a 79 milhões de toneladas. Mas, segundo Anderson Galvão, CEO da consultoria, esses números podem crescer caso os preços do milho caiam de modo mais acentuado nos próximos meses, estimulando uma migração do grão para a oleaginosa. A tendência, disse, é que os preços continuem a oscilar entre US$ 13 e US$ 14 por bushel. Mas, para ele, a alta dos custos no Brasil coloca em risco a competitividade da produção doméstica. “Não tenho dúvidas de que a China vai consumir mais soja e frango; minha dúvida é quem vai produzir essa soja e esse frango”.

A lógica faz todo o sentido, como deixou claro Messias Oliveira, diretor de compras de grãos, farelo e óleos da BRF – Brasil Foods. Conforme ele, a quebra da safra brasileira de soja em decorrência da seca provocada pelo La Niña é o principal fator atual de pressão sobre os custos de produção da indústria de carne de frango. “Os preços do farelo permanecerão elevados até pelo menos a entrada da safra americana de soja, no segundo semestre, momento em que os preços devem voltar a ceder”, disse, bem menos feliz do que os exportadores do grão presentes. Oliveira lembrou que o farelo de soja representa 16% do custo de produção do frango e cerca de 25% do custo total da produção de ração.

No caso do milho, que representa 30% dos custo de produção da carne de frango, o cenário preocupa menos os frigoríficos. “Nossa previsão é baixista para o milho, a não ser que o governo erre na dosagem dos leilões”, alertou Oliveira, citando como exemplo 2010, quando “o governo foi muito afoito com os leilões e deixou o mercado interno desabastecido”. Segundo Kona Haque, do Macquarie, os preços internacionais do milho devem começar a cair a partir do segundo semestre e se estabilizar em patamares mais baixos em 2013 – mas ainda rentáveis -, já que deverão sentir o peso de colheitas recordes nos EUA e mesmo da safrinha no Brasil. Mas problemas climáticos na China podem dar gás às cotações.