Em meados deste mês de dezembro a presidente Dilma Rousseff fará sua primeira visita oficial à Rússia e os resultados desse encontro são aguardados com muito interesse pelo mundo de negócios dos dois países. Se as relações políticas, tanto bilaterais como dentro dos Brics, caminham de forma positiva, na área comercial é preciso avançar consideravelmente.
De acordo com o Serviço Federal Alfandegário da Rússia, em 2011 o intercâmbio com o Brasil chegou a US$ 6,5 bi, mas já nos primeiros sete meses de 2012 caiu 31% em comparação com o mesmo período do ano passado. A grande safra de beterraba russa teve importante papel nesse resultado pois permitiu diminuir consideravelmente a importação de açúcar brasileiro e, à Rússia, exportar o seu próprio açúcar. Trata-se de um claro exemplo de como as nossas relações comerciais andam vulneráveis, em grande parte limitadas ao comércio de produtos primários.
Mesmo assim, se o comércio mostra ainda alguns sinais de desenvolvimento – citando como exemplos as iniciativas brasileiras na área de equipamento hospitalar e, da parte russa, as tecnologias da informação -, a cooperação econômica entre os dois países acontece de forma lenta.
As bases da cooperação econômica estão na sólida cooperação bancária. Nessa direção os dois bancos de desenvolvimento – BNDES do Brasil e VEB (Vnesheconombank) da Rússia – progrediram bastante em uma série de organizações internacionais, mas ainda estamos sem projetos de investimentos conjuntos na Rússia e no Brasil, por uma razão muito simples – esses projetos não existem.
É claro temos avançado nas relações bilaterais. A entrada da Gazprom e da TNK-BP no mercado brasileiro, o contrato de fornecimento de nafta pela russa Novatek, as negociações em torno da venda de grãos para o Brasil são importantes, mas envolvem recursos naturais, enquanto os bancos de desenvolvimento se interessam pela indústria de transformação, desenvolvimento tecnológico e inovações.
Recentemente os países que fazem formam o Brics avançaram bastante nas negociações em torno de transações em moedas correntes. Acreditamos que somos capazes de progredir ainda mais, o que levará a um forte aumento dos negócios, inclusive, ao estímulo aos investimentos, sinalizando a maturidade das relações comerciais. Há potencial para um crescimento imenso. De acordo com os dados da “Rossiyskaya Gazeta”, o volume do comércio entre Brasil e China cresceu 37% em 2011, entre Rússia e China, 42%, e entre Brasil e Índia, 20%. Somente as relações entre o Brasil e a Rússia não estão crescendo nessa proporção.
Ao falar dos gargalos que impedem o empresariado dos dois países de serem mais agressivos não podemos esquecer a falta de comunicação interpessoal que pode estimular conhecimento e confiança mútua. Parece inacreditável, mas a última e única exposição nacional russa foi realizada no Rio de Janeiro nos anos 60 do século passado, e a exposição nacional do Brasil, mesmo em formato muito limitado, aconteceu em Moscou por ocasião da visita presidencial de José Sarney, em 1988. Isso quer dizer que os dois países precisam investir em seu conhecimento recíproco em todas as áreas – educação, cultura, economia, relações humanas. E é exatamente a falta desse conhecimento – repetimos – um dos principais pivôs da falta de iniciativa e agressividade empresarial.
Justamente por essa razão o Conselho Empresarial Rússia-Brasil apoia todas as iniciativas nessa direção, inclusive as visitas e eventos setoriais, a participação muito mais ativa em feiras e exposições e a realização dos dias da Rússia no Brasil e do Brasil na Rússia.
Na área educacional (intercâmbio estudantil), que poderia ajudar a preencher a lacuna de desconhecimento mútuo, também há muita coisa a fazer. Regulamentados pelo acordo governamental entre a Rússia e o Brasil, de 19 de novembro de 1997, e o programa de intercâmbio bilateral nas áreas da cultura, educação e esporte, os resultados alcançados estão longe do atual estágio das relações entre nossos países. E as metas de intercâmbio estudantil, mesmo limitadas, não estão sendo cumpridas nem em níveis de graduação, mestrado e doutorado. Mesmo assim, mais de mil profissionais brasileiros se graduaram nas universidades e outras escolas superiores da Rússia.
Parece-nos muito claro que esse número poderia e deveria ser muito maior. O Conselho Empresarial Rússia-Brasil recentemente começou a prestar apoio às entidades dos dois países que estejam interessadas no intercâmbio educacional. Constatamos o imenso potencial e a importância do assunto.
Estamos observando a necessidade de passar para outro patamar a cooperação entre a Rússia e o Brasil nas áreas da ciência e da tecnologia, com base no acordo intergovernamental específico de 21 de novembro de 1997 e no programa para os anos 2010-2012, assinado em maio de 2010 por ocasião da visita oficial a Moscou do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O programa prevê uma cooperação nas áreas de biotecnologia, nanotecnologia, tecnologia da informação e várias outras. Mas, embora a Rússia tenha colocado à disposição as suas melhores instituições científicas – entre elas a Academia das Ciências da Rússia, a Universidade de São Petersburgo, a Universidade Estatal de Moscou, citando apenas algumas – o programa ainda não deslanchou.
Ao mesmo tempo, porém, alguns ainda poucos mas bem conhecidos exemplos da verdadeira cooperação entre nossos países, tais como a Escola do Balé Bolshoi na cidade de Joinville, em Santa Catarina, mostram claramente aonde podemos chegar.
Rússia e Brasil avançaram muito nos últimos anos. É necessário que o incremento das relações entre as duas nações se torne um dos temas da conversa entre os nossos líderes.
A visita da presidente Dilma Rousseff à Rússia pode contribuir de maneira significativa para a passagem das relações bilaterais nas áreas comercial e cultural para um novo patamar bem mais próximo ao atual estágio de desenvolvimento de nossos países.
Sergey Vassilyev é presidente do Conselho Empresarial Rússia-Brasil e vice-presidente do Vnesheconombank, o banco de desenvolvimento da Rússia.
Aleksander Medvedovsky é representante do Conselho Empresarial Rússia-Brasil e presidente do Mir Group