Redação (16/10/2008)- Se ainda não se pode falar do prejuízo que a crise financeira mundial tenha causado às exportações agrícolas brasileiras, pelo menos uma coisa é certa: a crise travou quase por completo os negócios no setor. O presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras, seção de Goiás (OCB-GO), Antônio Chavaglia, se diz convencido de que enquanto “a situação não clarear, não haverá negócio”.
Ele afirma que o setor de exportações agrícolas está virtualmente parado, pelo simples fato de que quem importa não quer comprar e quem exporta não quer vender. “Com as coisas como estão, sem dinheiro para financiar as exportações e com o câmbio absolutamente descontrolado, não há como fechar contratos responsavelmente”, comenta Chaváglia, que também preside a Cooperativa Mista dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano (Comigo).
O presidente da OCB-GO diz que é preciso esperar por um mínimo de estabilidade do mercado para que possam ser identificados os possíveis cenários. “Precisamos saber, por exemplo, como atuarão as tradings, hoje completamente fora do mercado. Vão voltar à compra de commodities, ou por falta de liquidez vão preferir trabalhar com estoque zero?”, pergunta.
De parte dos produtores, Antônio Chavaglia também não vê como fechar negócios no momento. “Seria um jogo perigoso, quase uma roleta- russa, pois muitos produtores sequer fecharam seus custos ainda”, diz ele, acrescentando que tudo ainda é muito incerto e que o produtor não pode se aventurar nesse momento.
Comercialização
Chavaglia recomenda, entretanto, que tão logo o cenário econômico mundial dê sinais de estabilização o produtor comece a avaliar eventuais propostas para a comercialização da safra. “Sabemos o quanto são importantes as vendas antecipadas de parte da produção, para que na colheita não ocorra o aviltamento dos preços.”
O dirigente aponta ainda que o conhecimento de dados mais precisos sobre a produção agrícola dos Estados Unidos, cuja colheita deve terminar em novembro, é importante para a orientação do produtor na comercialização da safra. “Isso permitirá uma melhor avaliação de como será a oferta de commodities no mundo”, declara.
O executivo de uma grande empresa do complexo soja, que prefere não se identificar, confirma o travamento das exportações agrícolas e o atribui principalmente à falta de crédito. Segundo ele, os bancos internacionais que atuavam no setor suspenderam repentinamente suas linhas de crédito para exportações, direcionando recursos para a cobertura de suas próprias perdas ou para aplicações em títulos públicos de maior garantia. A recuperação do crédito, diz ele, é lenta e cautelosa.