O presidente Estados Unidos, Barack Obama, vai priorizar a agenda comercial em sua viagem neste fim de semana ao Brasil, incluindo discussões para destravar a Rodada Doha, afirmaram ontem funcionários do governo americano encarregados da relação com a América Latina. Também deverá reconhecer a maior importância do país como um ator global, e não apenas regional. Mas as indicações são de que Obama não vai se comprometer em apoiar as ambições brasileiras de um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas.
“Devo deixar que o presidente Obama fale por ele mesmo”, disse Daniel Restrepo, assessor do presidente Obama para assuntos da América Latina, quando questionado se Obama apoiaria o Brasil no Conselho de Segurança, durante um seminário organizado pelo Wilson Center, um influente instituto de estudos de Washington.
Apesar de não se comprometer com o tema, o governo Obama colocou em prática uma cuidadosa estratégia para mostrar que reconhece o maior peso do Brasil no cenário internacional. “Achamos bem-vindo que nações como o Brasil assumam um papel maior no mundo, principalmente uma nação como o Brasil que divide um conjunto de valores com os Estados Unidos”, disse Ben Rodhes, assessor para segurança nacional de Obama numa entrevista na Casa Branca.
Outro tema que os assessores de Obama tem evitado tratar diretamente é o voto do Brasil contra sanções ao programa nuclear iraniano no ano passado, que azedou o clima com os Estados Unidos. Ontem, questionado diretamente sobre o tema nuclear iraniano, Restrepo preferiu destacar que a presidente Dilma Rousseff fez declarações críticas à situação dos direitos humanos no Irã.
A agenda da viagem presidencial foi organizada de forma a tratar o Brasil mais como um líder global do que regional. Obama deixou para fazer no Chile, escala seguinte, um discurso em que pretende dar as diretrizes de sua política para a América Latina. Na sua última parte da viagem, em El Salvador, pretende se concentrar em questões da América Central e Caribe.
A viagem também vai destacar a importância econômica do Brasil, que foi eleito um dos mercados prioritários dentro do projeto do governo Obama de duplicar as exportações em cinco anos. “O Brasil cresce aceleradamente como um parceiro nas exportações dos Estados Unidos”, afirma Rodhes.
Um dos pontos da agenda de Obama no Brasil, afirmou ontem Restrepo, são as discussões sobre a retomada da Rodada Doha de liberalização comercial. O chefe do escritório americano de representação comercial (na sigla em inglês, USTR), Ron Kirk, declarou na semana passada que o Brasil deveria abrir mais os mercados na Rodada Doha, juntamente com Índia e China, depois que esses países ganharam projeção no cenário econômico global.
Questionado se o presidente Obama vai pedir mais abertura comercial do Brasil na Rodada Doha, Restrepo respondeu apenas que o objetivo da conversa será criar condições para que a agenda de negociações mundiais ganhe nova tração.