Apesar das dificuldades para a indústria brasileira de carne suína ampliar significativamente a produção a fim de atender a demanda adicional da Rússia, o setor tem meios disponíveis para elevar a produção no curto prazo, avaliou o diretor-executivo da Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS), Nilo de Sá.
De acordo com ele, a carcaça suína tradicionalmente importada pelos russos é produzida a partir de animais abatidos com um peso entre 110 e 115 quilos, mas as empresas brasileiras tem condições de aumentar esse peso de abate. “No curto prazo, é possível aumentar de 5 a 8 quilos”, afirmou ele.
Para tanto, os clientes da Rússia teriam de concordar em abrir mão de adquirir a carcaça de suínos mais leves. “Mas como os russos impuseram uma série de barreiras, eles podem rever alguma coisa nesse sentido porque precisam comer,” disse Sá, citando os embargos impostos pela Rússia por conta da crise geopolítica na Ucrânia. No longo prazo, Sá diz que os produtores brasileiros só poderiam aumentar substancialmente a produção caso o comércio com a Rússia, historicamente conturbado, fosse mais seguro.
Na terça-feira, o governo russo proibiu importações de alimentos e outros produtos dos EUA, União Europeia, Canadá, Austrália e Noruega. Ao Brasil, a medida teve consequências favoráveis. Na quarta, o serviço sanitário russo habilitou 89 plantas do Brasil, entre unidades produtoras das carnes de frango, suína, bovina e de lácteos, confirmou ontem o Ministério da Agricultura.
No caso da carne suína, quatro plantas exportadoras foram habilitadas na quarta-feira. Entre elas, estão unidades da Agra Alimentos (MT), da Aurora (RS), da cooperativa Cosuel, de Encantado (RS), e do Frigorífico Larissa (PR).
Ontem, ao Valor, o diretor global de assuntos corporativos da BRF, Marcos Jank, comemorou a decisão dos russos, que culminou na habilitação de cinco plantas de carne de frango e uma de lácteos da empresa, que é a maior produtora de carnes de frango e suína do Brasil.
Ainda não contemplada no segmento de suínos, a BRF tem a expectativa de ter unidades habilitadas pelo russos ainda neste mês. Nessa frente, a empresa teve duas unidades embargadas pela Rússia em junho. Essas plantas, localizadas em Rio Verde (GO) e Uberlândia (MG), foram suspensas de vender para o país devido à alegada detecção do uso de ractopamina na criação. A substância é um promotor de crescimento proibido na Rússia.
De maneira geral, a BRF ainda não avaliou o impacto exato da reabertura do mercado russo para as quatro unidades de carne de frango da empresa. Segundo Jank, a companhia ainda não sabe ao certo os reflexos da medida russa aos produtos dos EUA, da União Europeia, da Austrália, da Noruega e do Canadá.
Apesar de considerar positiva a reabilitação das unidades de carnes de frango da empresa, Jank ponderou que o preço médio praticado pela Rússia nos produtos de frango é mais baixo. Para a BRF, enfatizou, uma medida de impacto maior seria a habilitação de unidades de carne suína que a Rússia restringiu. “Ainda estamos fazendo esforços para resolver todos os problemas de plantas de suínos”, afirmou, reforçando que tem a expectativa de ter notícias positivas ainda em agosto.
Nesse sentido, a sinalização dada ontem pelo Ministério da Agricultura de que outras duas unidades “podem” ser habilitadas “nos próximos dias” pela Rússia é um indicativo de que o pleito da BRF pode mesmo ser atendido. Apesar disso, o ministério não informou quais são as plantas.
No caso dos lácteos, o executivo afirmou que o Brasil também pode se beneficiar, apesar de não ser grande exportador. Além da BRF, uma unidade de lácteos da Confepar também foi liberada.