Oferta maior, câmbio menos competitivo nas exportações e queda nos preços da carne bovina derrubaram as cotações do frango no mercado doméstico. A ave viva, que chegou a alcançar R$ 2,10 o quilo no mercado de São Paulo em março passado, despencou e era negociada ontem a R$ 1,60 o quilo, segundo levantamento da Jox Assessoria Agropecuária.
Os preços da ave abatida resfriada também perderam força. O quilo do produto no médio atacado de São Paulo teve valor médio de R$ 3,16 em dezembro passado. Foi caindo e bateu R$ 2,76 em abril. Ontem, fechou a R$ 2,48 em média, segundo o levantamento da Jox.
O frango se valorizou no segundo semestre de 2010 influenciado pela demanda forte, já que a alta da carne bovina gerou um efeito substituição por uma proteína mais barata. Além disso, as exportações firmes de carne de frango também ajudavam a sustentar os preços no mercado doméstico.
Na expectativa de que as exportações seguissem fortes e com o mercado doméstico demandado, o setor de frango acabou elevando a produção. Agora, há oferta em excesso. Em março passado, por exemplo, a produção total de frango no país atingiu 1,048 milhão de toneladas, 8,5% mais do que no mesmo mês de 2010, conforme a Associação Brasileira dos Produtores de Pintos de Corte (Apinco). Naquele mês, as exportações somaram 341 mil toneladas.
Analistas estimam que a produção de carne de frango voltou a aumentar em abril, período em que as exportações recuaram em relação ao mês anterior. De acordo com a União Brasileira de Avicultura (Ubabef), no mês que passou as vendas externas de frango somaram 325,2 mil toneladas, aumento de 4,9% sobre abril do ano passado, mas queda de 4,6% em relação a março deste ano.
“Há demanda por carne de frango lá fora, e o setor se preparou para atender a essa demanda”, diz Francisco Turra, presidente da Ubabef. Ele acrescenta, no entanto, que o real valorizado tira a competitividade do Brasil ante concorrentes como os EUA no mercado internacional.
Assim, explica, “muitos produtores terminaram optando por vender no mercado interno”. Na avaliação do dirigente, as exportações poderiam ter crescido mais “se o câmbio ajudasse”.
Oto Xavier, da Jox, afirma que o setor de frango planejou exportação “muito grande que não vem acontecendo por falta de competitividade”. Em sua visão, a queda da carne bovina no mercado também influencia o comportamento dos preços domésticos do frango, mas “não tanto” como a maior disponibilidade de aves.
Alex Lopes, da Scot Consultoria, observa que a carne bovina recuperou a competitividade após fortes altas, o que puxa o frango para baixo. Como efeito do fim da safra e da chegada do frio, que seca as pastagens, o boi caiu de R$ 103 por arroba no início do ano em São Paulo para R$ 100 atualmente, segundo a Scot. Já o corte de traseiro no atacado paulista saiu de R$ 8,30 para R$ 7,10, na mesma comparação.
Nesse quadro de queda de preços do frango, os custos de produção voltam a preocupar os avicultores. Segundo a Jox, o custo de produção do frango vivo é estimado hoje entre R$ 1,80 e R$ 1,85 por quilo, acima dos R$ 1,60 recebidos pela ave viva.