Depois de um longo período de preços recordes e aumento substancial da produção de grãos no Brasil e no mundo, tudo indica que nos próximos anos é a vez da carne. Todas as projeções nacionais e internacionais apontam para um forte crescimento da produção nos próximos dez anos, com excelente oportunidade para o Brasil tanto no mercado nacional quanto internacional.
O estudo “OCDE-FAO Perspectivas Agrícolas 2014/2023” da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), prevê um crescimento para o setor de carnes e mostra que nos últimos três anos a participação das carnes bovina, de frango e suína foi de 23%, 37% e 40% respectivamente, sendo que na próxima década a produção mundial de aves vai ultrapassar a de suínos.
Partindo dos resultados registrados no triênio 2011/2013 as projeções da OCDE/FAO são de um crescimento de 1,3% ao ano para carne bovina, 1,5% ao ano para carne suína e 2,5% ao ano para carne de aves, com respectivo crescimento para próxima década de 13%, 15% e 25% na produção. Prevê-se que, com esses resultados, a produção mundial de carne em 2023 será quase 20% maior que a registrada na média dos últimos três anos, correspondendo a um volume adicional de 54 milhões de toneladas. Mais da metade desse crescimento virá da carne de frango, 31% da carne suína e apenas 16% da carne de boi.
Também para o Brasil as projeções são animadoras. O Ministério da Agricultura divulgou no último dia 30 de setembro o estudo “Brasil Projeções do Agronegócio 2013/2014 a 2023/2024” com estimativa de crescimento de 22,7% para carne bovina, incremento de 1,9% ao ano; 31,72% para carne suína, incremento de 2,8% ao ano; e 35,66% para carne de aves, incremento de 3,1% ao ano. A perspectiva para produção brasileira de carnes é passar de 26 milhões de toneladas em 2014 para 33,8 milhões de toneladas em 2024, um crescimento de 30% no período.
Vale ressaltar que no caso de aves e suínos, onde as expectativas de crescimento tanto nacionais quanto internacionais são mais elevadas, temos um momento também favorável em termos de custo de produção. Todas as análises indicam uma queda nos preços internacionais das commodities em razão de boas safras e da recomposição dos estoques mundiais de cereais, o que favorecerá bastante a produção das carnes que dependem exclusivamente dos grãos.
No caso do Brasil, para que as cadeias produtivas das carnes realmente aproveitem toda essa oportunidade de crescimento, há que se modificar a dinâmica das políticas públicas para este setor. A política agrícola brasileira nasceu e cresceu tendo como enfoque o setor agrícola, e nos últimos anos a produção de grãos em particular. A receita dos últimos planos de safra foi aumentar a liberação de crédito para estimular o plantio de grãos, com pouca inovação em termos de políticas públicas para os setores de proteína animal.
O desafio agora é estruturar políticas de apoio à transformação do crescimento da produção brasileira de grãos em carnes, sobretudo num cenário de queda nos preços dos grãos. Nos últimos anos os recordes nas cotações dos grãos permitiram que mesmo com nossas deficiências logísticas e de infraestrutura o agronegócio brasileiro crescesse sem sobressaltos. No entanto, num cenário de mercado mais ajustado para as commodities agrícolas, voltará ao debate a necessidade de agregar mais valor à nossa agricultura, e a oportunidade está dada, produzir mais carne.