Redação (10/04/06)- A Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato) considera que o Governo Federal, finalmente, reconheceu a crise do setor agropecuário no Brasil ao anunciar o pacote de medidas emergenciais, nesta quinta-feira (06.04). Mas, a preocupação do setor continua com relação à efetivação das medidas. “A gente tem que ver o que foi anunciado pelo governo com muita cautela, porque o ele (governo) já fez isso o ano passado. O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, esteve em Rio Verde, Goiás, e anunciou uma série de medidas para o setor que não aconteceram. Como gato escaldado tem medo de água fria, agora, ele anuncia novamente e nós estamos esperando as medidas serem concretizadas para saber como nos posicionar”, disse o presidente da Famato, Homero Pereira, em entrevista coletiva, nesta sexta-feira (07.04), em Cuiabá.
Para Homero Pereira, os produtores que aderiram à proposta de renegociação do Banco do Brasil – cujo pagamento de 20% do saldo devedor vence no próximo dia 30 de abril – não devem quitar o débito. “Eu aconselho ao produtor suspender qualquer tipo de pagamento, até porque, àquelas prorrogações foram feitas em condições muitas mais desfavoráveis do que esta” considerou o presidente da Famato. “É preferível suspender o pagamento e aguardar o que vem de efetivo das medidas anunciadas. Ao meu ver elas terão taxas de juros melhores do que a taxa que o produtor aderiu naquela prorrogação do BB”, ressaltou. Na renegociação feita pelo BB, a taxa de juros varia de 15% a 20% e, agora, a expectativa é de os juros sejam 8.75%. Até que as resoluções cheguem aos bancos os produtores têm que continuar protocolando os pedidos de prorrogação.
O receio da Famato, na prática das medidas por parte das instituições financeiras, é quanto a exigências de mais garantias, maior reciprocidade, que o produtor ainda tenha produto e que os bancos queiram vender papel. “Tudo isso nos preocupa porque, só com o frete, os produtores mato-grossenses comprometeram metade da produção, de 20 a 25 sacas. No combate à ferrugem asiática foram mais 10 sacas. Se forem feitas muitas exigências vai ser difícil cumprir”, constata o presidente da federação. O volume de recursos liberado para a comercialização é acanhado, na opinião do líder ruralista. Segundo Pereira, R$ 1,2 bilhão é o que Mato Grosso, sozinho, consumiria, mas, de qualquer forma, é preciso gastar o disponível para depois pedir mais.
PONTOS POSITIVOS – O pacote de medidas do Governo Federal traz alguns pontos importantes reivindicados pelo setor como a ampliação da linha de financiamentos com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador, até 31 de dezembro, deste ano, e flexibilização para utilizar o dinheiro na liquidação de outros débitos; a desvinculação do limite de financiamento de comercialização do limite do crédito de custeio e ainda, o aumento do limite de crédito de comercialização para produtores de algodão, arroz, milho, sorgo e trigo. “O governo só não disse de quanto será o novo limite?” apontou Homero Pereira. ”Nós temos que brigar pela regionalização dos preços mínimos. Em Mato Grosso temos que ter preços mínimos que compensem as nossas diferenças em relação ao Rio Grande do Sul e Paraná que estão próximos dos portos”, justificou.
DÍVIDA COM O SETOR PRIVADO – A dívida total do setor rural em Mato Grosso, junto aos credores público e privado, gira em torno de R$ 5 bilhões, de acordo com a Famato. Deste total, cerca de R$ 1,5 bilhão é de débito de curto prazo no Banco do Brasil. Como o governo financia apenas 30% da safra agrícola no Estado, os produtores têm que buscar soluções para os outros 70% que estão nas mãos do setor privado.
Uma proposta é a emissão de títulos no mercado como fonte alternativa, ou então, o aperfeiçoamento de mecanismos existentes no próprio governo, a exemplo do Certificado dos Direitos Creditórios do Agronegócio (CDCA).
“Nós não temos dinheiro, se o governo também não tem, quem pode ter é o mercado e o mercado, para poder dar liquidez a essa operação, tem que ter um instrumento como um título ou um certificado como a própria Cédula do Produtor Rural (CPR), um documento lançado pelo governo que deu liquidez ao setor, senão temos que inventar uma outra engenharia financeira que possibilite ao produtor fazer dinheiro para pagar o credor privado, sob pena de ficar fora de qualquer tipo de negociação” prevê Homero Pereira.
Com a crise na agrícultura, a perda de renda em todo o País é estimada em R$ 30 bilhões. Em Mato Grosso, a Famato computa cerca de R$ 8 bilhões em prejuízos para o setor. O governo, segundo a classe, é o grande culpado por este cenário ao manter a política cambial, com o real supervalorizado e os juros altos.
ARTICULAÇÃO NACIONAL – Nesta segunda-feira (10.04), em São Paulo, um encontro promovido com economistas de renome nacional, os produtores rurais e o governo do Estado, fazem uma contextualização da crise do agronégocio em Mato Grosso e discutem soluções. A idéia é propor algum tipo de papel que seja absorvido no mercado. “Queremos com este mecanismo fazer dinheiro e ter como pagar os credores privados no horizonte de no mínimo de dez anos para pagar o título, com o aval do próprio governo e dos credores privados”, explicou Pereira. Estudos neste sentido estão em andamento.
Em São Paulo, foram convidados para o encontro com os produtores e lidernaças mato-grossenses os professores da Fundação Getúlio Vargas, Rubens Penha Cysne, Lia Valls Pereira e Mauro Rezende Lopes e os economistas, José Roberto Mendonça de Barros, Paulo Rabelo de Castro e Ricardo Simonsen e o jornalista Joelmir Betting.