A participação dos Estados Unidos e da União Europeia na exportação brasileira caiu de 52,4% no primeiro semestre de 2000 para 31,6% no mesmo período deste ano. Segundo economistas, essa menor dependência em relação aos dois mercados deve amenizar os efeitos ao Brasil de uma nova crise financeira global.
O que também ajuda a amenizar os impactos é a participação relativamente baixa das exportações de bens e serviços no PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro. Essa fatia está na casa de 12% a 13% no Brasil, quando a média mundial é de 27% a 30%, lembra Bráulio Borges, economista chefe da LCA Consultores.
“Não se pode dizer, porém, que um crescimento mais baseado no mercado doméstico tornará o Brasil completamente imune aos efeitos de uma crise”, diz o economista. “O comportamento desses mercados pode afetar um pouco o crescimento chinês, embora o país asiático tenha ganho muito mais autonomia em relação ao comércio internacional nos últimos dois a três anos”, diz Borges. Ele lembra que esse cenário é resultado de uma política colocada em prática pelo governo chinês desde a crise global de 2008, para reduzir a dependência em relação ao mercado internacional.
Sílvio Campos Neto, economista da Tendências, concorda. “A menor dependência dos americanos ameniza os riscos da nova crise ao Brasil, mas é preciso verificar qual será o impacto disso para a China.” O país asiático é atualmente o principal destino individual das exportações brasileiras.” Os chineses foram responsáveis por 17% das exportações brasileiras no primeiro semestre de 2011. “Com menor dependência das exportações o crescimento da China está com bases mais fortes em investimento e mercado doméstico.”
Para Campos Neto, a urbanização em andamento na China e os estímulos do governo ao consumo interno podem resultar em bom ritmo de crescimento. Segundo o economista da Tendências, atualmente o consumo interno é responsável por cerca de 40% do PIB chinês.
A repercussão maior ao Brasil está na possibilidade de uma queda de preços das commodities agrícolas e metálicas. Para Welber Barral, sócio da Barral M Jorge Consultores Associados, isso pode acontecer não só porque em razão de uma demanda global menor como também pela mudança de escolhas do capital especulativo. A perspectiva de crise em regiões como a da Europa e dos Estados Unidos pode fazer com que o mercado financeiro deixe de apostar na alta elevação de preços das commodities, gerando queda de preços.
A reduções de preços, acredita Bráulio Borges, devem atingir principalmente minério de ferro, além de commodities agrícolas. Por conta dessa perspectiva, a LCA revisou na última semana a balança comercial brasileira de 2012, antes estimada em US$ 5 bilhões. Agora a consultoria projeta saldo comercial próximo a zero ou com um pequeno déficit, de até US$ 1 bilhão. A previsão para 2011, diz o economista, foi mantida, já que as exportações de commodities do ano já foram em boa parte contratadas.
Barral lembra que os Estados Unidos foram os grandes perdedores quando se analisa a participação nas exportações brasileiras. No primeiro semestre de 2000 os americanos tinham uma fatia de 24% do total de vendas brasileiras ao exterior. De janeiro a junho deste ano as compras americanas representaram 10% das exportações brasileiras.
“Esse recuo dos Estados Unidos foi uma das razões pela qual o Brasil não sofreu de maneira mais forte os efeitos da crise em 2008 e deve ajudar novamente agora”, diz Barral. Para ele, a exportação brasileira de commodities pode se afetada mais em função de preços do que de volume. Com queda de preços, o valor total exportado pode ser afetado. Em relação à exportação de manufaturados, acredita Barral, a repercussão será menor do que a da crise de 2008. Barral acredita que as exportações para os países emergentes, como os da América Latina, consumidores de manufaturados brasileiros, não serão tão afetados porque têm, em sua maior parte, um crescimento econômico muito baseado no consumo doméstico.