A economista Dilma Rousseff fez carreira política e ganhou fama de gestora pública ferrenha como líder do planejamento de projetos no setor energético. Alçada à Presidência da República, ela assiste agora, no último ano do seu mandato, à consolidação de turbulências simultâneas nas áreas de eletricidade, petróleo e etanol, provocadas por suas decisões polêmicas, algumas tomadas ainda quando era ministra de Minas e Energia e, depois, da Casa Civil. Essa mesma crise, cada vez mais evidente, tem ainda gerado impactos crescentes na saúde fiscal da União, na balança comercial e até nas projeções de crescimento econômico.
O quadro de estresse no setor preferido da presidente (veja quadro) já reúne nós difíceis de desatar, formados pela ameaça de um racionamento elétrico, pelos preços de combustíveis defasados por longo período, pelo desarranjo do complexo sucroalcooleiro e, por fim, pela derrocada da Petrobras e Eletrobras. As grandes estatais padecem com sérios problemas de caixa, de endividamento e de perda do valor de mercado. Para desconstruir a imagem de Dilma como grande conhecedora do tema, a oposição não perdeu tempo e apontou, na semana passada, a evaporação de US$ 100 bilhões nos últimos dois anos das duas empresas, se somados seus prejuízos financeiros, além da desvalorização dos seus papéis na Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa).
“O que estamos assistindo é à coroação de medidas equivocadas, tomadas sem ouvir os agentes do ramo e cujos estragos são compartilhados por fontes distintas de geração de energia”, observou um executivo da área de açúcar e álcool, elo mais frágil da matriz energética, imprensado pela indústria petroleira e pela geração elétrica. Depois de pedidos reiterados de socorro federal, o conjunto estratégico de usinas de etanol do país – concentrado no Triângulo Mineiro, em Goiás e no Oeste de São Paulo – começa a dar marcha à ré ao ousado processo de resistência energética do país, iniciado em 1975 com o Proálcool.
Quase 40 anos depois, a mistura de álcool anidro à gasolina deixou de ser competitiva justamente no momento em que as importações de combustíveis devoram bilhões de reais da Petrobras e provocam rombos no comércio internacional do país. “É um cenário bem diferente daquele vendido pelo presidente Lula ao colega George W. Bush, quando da visita do americano em 2005. O Brasil importa etanol dos Estados Unidos em vez de exportar e não consegue produzir a demanda doméstica de refinados de petróleo”, lembrou o empresário.
Mas também se somam às pressões sobre a petroleira brasileira as dificuldades do setor elétrico, representadas pelas compras externas de diesel e gás para mover todas as usinas termelétricas, acionadas a todo vapor para compensar o atual baixo nível dos reservatórios em pleno fim do período chuvoso. O consultor Ricardo Maia, do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), ressalta que dos 1.796 empreendimentos termelétricos em operação, que somam 36,3 mil megawatts (MW), 31 pertencem à estatal, com 6 mil MW. “O peso da empresa nessa área é evidente”, disse.
Segundo dados da própria Agência Nacional do Petróleo (ANP), o déficit da balança comercial de combustíveis, resultado de importações maiores que exportações, vai se ampliar em 2014. O rombo do diesel será de US$ 9 bilhões este ano, enquanto o da gasolina será de US$ 2,5 bilhões. Isso considerando uma alta de 4% da demanda de derivados de petróleo. Em nota, a Petrobras informou que, “no momento, não fará comentários sobre o assunto”.