A valorização do dólar nas últimas duas semanas deve se refletir nos indicadores de inflação somente em abril, segundo avaliação de economistas consultados pelo Valor. Em março, o dólar já acumula alta de mais de 5%, tendo saído da casa de R$ 1,70 em fevereiro para o nível de R$ 1,80.
“Neste mês, o impacto da variação cambial sobre a inflação será praticamente nulo”, afirma Flavio Serrano, do BES Investimento. Segundo ele, o que provocou o avanço no Índice Geral de Preços -10 (IGP-10) entre fevereiro e março, quando a alta passou de 0,04% para 0,27%, foi a “dissipação do movimento deflacionista” no atacado.
No período, o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) saiu de queda de 0,19% para elevação de 0,24%, resultado da aceleração nos preços agropecuários e industriais. O indicador responde por 60% do IGP-10. O IPA industrial abandonou a deflação de 0,36% em fevereiro para incorporar um aumento de 0,12% em março. A reversão contou com a ajuda do minério de ferro, que teve sua queda de preços reduzida de 3,84% para 1,16% no período.
Já o IPA agropecuário subiu de 0,29% para 0,56% no mesmo intervalo, puxado pela aceleração na soja (de 0,93% para 3,17%) e pela reversão na queda dos preços de ovos e aves. Entre fevereiro e março, os ovos passaram de deflação de 4,63% para avanço de 11,63% e as aves, que tinham retração de 11,25%, ficaram 5,28% mais caras. “Como esses produtos vinham apresentando quedas muito fortes, é natural que haja um ajuste”, afirma Serrano.
Embora ainda não seja possível mensurar o impacto da variação cambial sobre a inflação, Curado não espera um impacto acentuado. “Tanto no atacado quanto no varejo, há uma tendência de aceleração nos preços agrícolas. Mas está longe de ser uma pressão que preocupe”, observa.
No varejo, a alta nos preços dos alimentos passou de 0,17%em fevereiro para 0,25% em março. O maior ritmo de aumento no grupo, entretanto, não provocou aceleração no Índice de Preços ao Consumidor (IPC). O indicador, que corresponde a 30% do IGP-10, subiu 0,40% neste mês, após elevação de 0,41% em fevereiro.
A pressão sobre o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), que contribui com os 10% restantes do IGP-10, também foi minimizada entre fevereiro e março. O indicador cedeu de 0,66% para 0,19%, diante do menor aumento em mão de obra e materiais, equipamentos e serviços.
Para Serrano, a valorização da moeda americana não deverá exercer larga influência sobre os indicadores de preços da Fundação Getulio Vargas (FGV). Em sua avaliação, o dólar não se sustentará por muito tempo no nível de R$ 1,80. “Os reflexos da alta do dólar serão passageiros. Os fundamentos econômicos apontam para uma correção do câmbio, que deverá voltar para a faixa de R$ 1,70 a R$ 1,75.”
Pelos cálculos dos economistas, os IGPs se acelerarão gradualmente no decorrer de março. A expectativa do BES Investimento para o IGP-M, próximo indicador a ser divulgado, é de avanço entre 0,35% e 0,40%. No caso do IGP-DI, indicador que traz a inflação do mês completo, a estimativa é de alta entre 0,40% e 0,45%. A LCA Consultores, por sua vez, projeta aceleração um pouco mais intensa, com o IGP-M ao redor de 0,45% e o IGP-DI avançando 0,55%.
Para abril, a previsão do BES Investimento é de que os IGPs se manterão em torno de 0,40%, mesmo nível estimado pela Tendências Consultoria.