Os agricultores de Mato Grosso começaram a colher a segunda safra de milho antes da hora para aproveitar o preço alto do produto. A preocupação deles é que essa situação favorável dure pouco.
O produtor rural Vagner Daghetti acompanha de perto a colheita dos 1,5 mil hectares de milho que foram cultivados na propriedade em Ipiranga do Norte. O processo começou há uma semana, bem antes do previsto, e a colheita só deveria ter início em junho.
“Temos a oportunidade de um preço melhor na safra, a gente vendia no geral o milho a R$ 13 nessa época do ano e nesse ano atípico, estamos conseguindo R$ 35 pela saca”, conta.
A valorização da saca tem uma explicação: falta milho no mercado, mas mesmo assim, os agricultores temem que os preços não se sustentem. A quantidade de chuvas foi inferior ao necessário e muitos produtores estão prevendo perdas de produtividade.
Fábio Tavares é gerente de uma propriedade onde o milho ocupa uma área de 13 mil hectares. Ele diz que quase 800 hectares estão perdidos, atingidos por um veranico. Para tentar recuperar essas perdas, ele resolveu antecipar também a colheita.
Fábio controla a venda dos grãos na fazenda porque parte da produção já está comprometida com contratos futuros, fechados antes da safra. O que ele está fazendo é uma inversão porque normalmente se colhia somente o grão vendido, depois armazenava o disponível em busca de preços melhores, no período pós-safra.
“Está atípico, vou colher primeiro o que a gente estimou de sobra para diluir o custo e só depois seguir e cumprir os contratos”, explica.
O ciclo de desenvolvimento de uma lavoura de milho é de 120 dias, em média, os produtores estão colhendo com 90. O plantio foi feito na hora certa e o grão está formado e maduro.
A preocupação com a colheita antecipada é sobre a umidade, que ainda está muito alta.
Das lavouras, o milho precisa ir direto para os silos, onde passam por um processo de secagem, por isso, a colheita é mais lenta que o convencional e o grão não pode esperar. Um dia parado nos caminhões já representa perda de qualidade.
O processo de secagem de uma carga pode demorar até 10 horas e tem um custo de R$ 1,50 por saca, em média.
O agrônomo Douglas Lampugnani explica o que pode ocorrer com o grão caso fique exposto antes do processo. “A tendência é fermentar, ele esquenta dentro do caminhão ou do armazém, então requer muito cuidado”, diz.
A Aprosoja, que representa os produtores, estima que Mato Grosso vai colher, na segunda safra de milho, 11% a menos que no ano passado.