Fonte CEPEA

Carregando cotações...

Ver cotações

Economia

Para Clever Ávila, Brasil está perdendo competitividade no mercado de carne

Mesmo com a crise internacional, problemas logísticos e desvalorização do real, Acav quer manter vendas externas aquecidas.

Para Clever Ávila, Brasil está perdendo competitividade no mercado de carne

Santa Catarina exporta carnes para mais de 150 países. É o Estado pioneiro na produção e também nas exportações. No entanto, o setor tem enfrentado grandes desafios com a falta de infraestrutura e logística, a desvalorização do real, a crise nos países compradores, o alto custo da produção etc.

Mesmo diante destas dificuldades, a Associação Catarinense de Avicultura (ACAV) busca manter as vendas para o exterior, sem tirar o foco do mercado interno que continua crescendo. Nesta entrevista, o presidente da entidade Clever Pirola Ávila analisa o mercado da carne e expõe as dificuldades enfrentadas pelo setor. 

Qual foi, em linhas gerais, o desempenho da avicultura catarinense no 1º bimestre deste ano?

Clever Pirola Ávila – Tivemos um crescimento da produção na ordem de 3% em relação ao mesmo período anterior. Os preços continuam estáveis e os custos aumentaram em função da seca no sul do País.

No mercado interno, as vendas cresceram? Que fatores contribuíram para esse desempenho?

Ávila – O mercado interno continua a ser uma boa surpresa e prevalece o diagnóstico obtido no ano passado, ou seja, as classes D e E assumem papel importante de consumidores – em função da melhor renda per capita.

No mercado externo, quais foram os resultados?

Ávila – Sem evoluções significativas e mantendo os contratos efetuados. A Argentina reduziu drasticamente suas importações em função de ajustes da sua balança comercial, impactando diretamente no setor de carnes.

O que as empresas estão fazendo para manter a competitividade nesse regime cambial de real valorizado, portanto, desfavorável aos exportadores?

Ávila – Não nos resta muitas alternativas a não ser trabalhar ainda mais forte na redução de custos, pois nossa competitividade foi afetada pela desvalorização do real. Os investimentos em automatização industrial são implantados com mais ênfase.

Apesar da situação cambial, as exportações não param de crescer?

Ávila – O Estado exporta para mais de 150 países e, além de ser o pioneiro na produção, foi também pioneiro nas exportações. Como toda indústria exportadora em todos os setores, estamos sofrendo com a desvalorização do real, perdendo a competitividade e criando um dilema cruel: a manutenção dos mercados que conquistamos nas últimas décadas a um custo extremamente alto. Acredito que todos conhecem a expressão “de posições conquistadas não se abre mão”. Nossas conquistas de 40 anos não podem ser simplesmente abandonadas por esta valorização irreal da nossa moeda, o protecionismo dos países em crise financeira e a necessidade de alguns países exportarem mais.

Quais as principais dificuldades que o setor enfrenta para crescer mais: custos, logística, tributos ou o conjunto destes fatores?

Ávila – Desafios não faltam neste setor, principalmente em Santa Catarina. Caracterizamos a fragilidade catarinense em dois aspectos: a falta de infraestrutura ferroviária, ligando o centro oeste brasileiro, maior produtor de grãos da América Latina, leva os catarinenses (que importam perto de 4 milhões de toneladas ao ano) a despender mais de 30% do custo dos grãos em logística. E a falta de infraestrutura ferroviária ligando o oeste catarinense aos portos, criando gargalos rodoviários e altos custos para levar nossos produtos aos grandes centros consumidores e para exportação. Esta malha levaria os produtos acabados, além de viabilizar o retorno com grãos da Argentina. Enfrentamos, ainda, a desigualdade de incentivos fiscais e tributários, que cada vez mais empurram a agroindústria para outros Estados. Somente um planejamento estratégico de longo prazo e suprapartidário pode mudar este cenário.

No que diz respeito às exportações, qual sua opinião sobre a estrutura dos portos nacionais?

Ávila – Pecamos pelo modelo arcaico que gerenciamos nossos portos, implicando em baixa produtividade e tecnologias ultrapassadas. Precisamos nos espelhar nos modelos adotados na Europa e Ásia.

No setor de avicultura, existe uma forte cooperação entre produtor e indústria no que diz respeito à produção. Desde quando esse sistema de integração está em vigor? Começou em Santa Catarina? Isso ajudou a alavancar o Brasil ao posto de maior exportador de aves do mundo?

Ávila A agroindústria brasileira nasceu em Santa Catarina no final dos anos 50. É um sistema inteligente e sustentável pela essência do seu modelo – levando tecnologia de genética, produção, manejo e oportunidade ao produtor rural empresário. O modelo de integração/parceria é sucesso e vem sendo copiado pelo Brasil afora. Nesses 60 anos de atuação obtivemos a liderança das exportações brasileira, devendo obter a vice-liderança da produção mundial já em 2013, superando a China.

Há como agregar ainda mais valor à carne de aves vendida ao exterior?

Ávila – Sempre há espaço para inovações e novas tecnologias. Os consumidores e clientes demandam cada vez mais praticidade, porções menores e produtos semiprontos e prontos. A criatividade, pesquisa e desenvolvimento são elementos essenciais para obter sucesso desta demanda.

Como a ACAV  trabalha para melhorar a qualidade da carne de aves (frango, peru, outras)?

Ávila – Trabalhando junto à iniciativa privada e governo pela evolução da saúde animal no Estado de SC, trazendo experts e promovendo simpósios técnicos. Além disso, incentivando o aporte de tecnologias disponíveis a nível mundial.

Quais foram os produtos da pauta de exportação avícola em 2012?

Ávila – Nosso mix de produção está bastante eclético: desde frango inteiro, cortes, desossados, marinados, pré-elaborados, industrializados, ready-to-eat e fully cooked, procurando atender a demanda de todos os países importadores.

Quais foram os principais destinos das exportações de carne de frango?

Ávila – Continuamos a manter nossas exportações para mais de 150 países em vários continentes, com destaque para o Oriente Médio, Ásia e Europa.

Quais são as maiores bandeiras/reivindicações da Acav atualmente?

Ávila – Em curto prazo, a disponibilidade emergencial de suprimento de milho em função da seca no sul do País com quebra da safra. Em médio prazo, a aplicação de nova tecnologia da rastreabilidade da cadeia produtiva catarinense usando RFID. Trabalhar uma parceria público-privada, visando a aprovação do planejamento estratégico a longo prazo – 2050 – da agroindústria catarinense, numa linha suprapartidária para evitar interrupções de governo para governo. E, ainda, aplicar a compartimentalização da sanidade animal catarinense, aprovada junto a OIE.

Em regime de longo prazo, nossas metas são viabilizar a agroindústria catarinense, manter o melhor sistema de biosseguridade e sanidade animal do Brasil e um dos melhores do mundo, melhorar a infraestrutura logística do Estado catarinense, através de ferrovias, melhoria dos portos e rodovias e manter a liderança da produção e exportação brasileira.

Por favor, forneça um raio X das indústrias de processamento de aves de Santa Catarina (Por exemplo: são empresas que trabalham exclusivamente com aves ou atuam com outras carnes? Os principais polos agroindustriais do Estado?

Ávila – A agroindústria catarinense é eclética. Temos empresas focadas na produção e produtos adequados às necessidades dos mercados brasileiro e internacional. Temos parceria com mais de 10.000 produtores rurais empresários, exportamos para mais de 150 países, empregamos mais de 30.000 funcionários diretos e quase 100.000 funcionários indiretos. A produção está distribuída nas regiões centro-oeste, extremo-oeste, norte e sul do Estado de SC. Temos a liderança da produção e exportação compartilhadas com o Estado do Paraná.