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Para ''driblar'' embargo, SC exporta carne suína barata

<p>O embargo russo, em vigor há mais de um ano para alguns Estados brasileiros, trouxe dois reflexos importantes para as exportações de carne suína de Santa Catarina, um dos principais produtores do país.</p>

Redação (19/01/07) – Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio indicam que o Estado perdeu em 2006 a liderança nas exportações de carne suína para o Rio Grande do Sul, e teve que elevar vendas para países como Argentina e Uruguai para compensar a ausência da Rússia. Pelos argentinos, o Brasil há poucos dias foi acusado de dumping, pela suposta prática de preços predatórios.

“Tivemos que vender a qualquer preço para a situação não ficar pior”, diz o vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Santa Catarina (Faesc), Enori Barbieri, explicando a situação do setor, que conviveu com estoques altos ao longo de 2006. “Houve vendas abaixo do preço de custo”.

Santa Catarina vivenciou em 2006 um dos anos mais difíceis para a suinocultura, segundo produtores e entidades de classe. Nas exportações que conseguiu fazer, o Estado perdeu na rentabilidade. Sem a demanda russa, o preço médio de venda externa foi 7% mais baixo que em 2005 e cerca de 35% inferior ao valor conseguido pelo Rio Grande do Sul em 2006.

O preço do produto catarinense foi de US$ 1.671 a tonelada contra US$ 2.265 do Rio Grande do Sul. “Houve angústia para vender os suínos”, diz Wolmir de Souza, presidente da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS).

A saída foi buscar parceiros menos tradicionais. O Estado triplicou o volume de vendas para os argentinos no último ano frente a 2005 e cerca de sete vezes mais para o Uruguai. Para a Argentina, vendeu US$ 23,2 milhões (75% das vendas do Brasil) ante US$ 7,4 milhões em 2005. Para o Uruguai, US$ 9,3 milhões (73,8% das vendas do Brasil) ante a US$ 1,5 milhão.

“Mas não houve dumping. Foi uma situação conjuntural”, diz Ricardo Gouvêa, diretor do Sindicarnes-SC, que representa as indústrias catarinenses. Para ele, esses mercados foram importantes em 2006, embora sejam importadores pequenos perto da Rússia, que respondia por mais da metade dos embarques. “Mas estou na expectativa de que os russos abram em breve o mercado porque não existem mais motivos técnicos para o Estado continuar embargado”.

Santa Catarina perdeu a liderança no ranking de exportação de suínos no país. Segundo a Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), com base nos dados do ministério, o Rio Grande do Sul ultrapassou Santa Catarina, com US$ 580 milhões, volume quase 90% superior aos US$ 310 milhões exportados por SC no mesmo período. Em 2005, a situação era inversa: Santa Catarina liderava com vendas de US$ 504 milhões. A perda de posição começa a ter conseqüências para a economia do Estado. O superávit da balança comercial foi o menor desde 2002, e pela primeira vez o saldo não cresceu desde 1998. Ficou em US$ 2,4 bilhões.

No campo, a situação levou produtores catarinenses a venderem suínos para abate no Rio Grande do Sul. Essa produção foi direcionada ao mercado interno gaúcho, já que a entrada de carne proveniente de suínos de Santa Catarina na Rússia está proibida. A competição entre produtores gaúchos e catarinenses foi tal que o aumento das vendas externas gaúchas não significou melhora da rentabilidade para o produtor local.

Segundo o presidente da Associação dos Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs), Valdecir Folador, o ganho do produtor gaúcho foi 24% menor que em 2005. O produtor integrado recebeu pelo quilo do suíno vivo R$ 1,60, e o independente, R$ 1,84, valores 25% e 22% menores do que em 2005, respectivamente.