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Economia

Para FMI, Brasil vive superaquecimento

Relatório do FMI aconselha corte de gasto público para combater a inflação e aliviar política monetária.

Para FMI, Brasil vive superaquecimento

O Fundo Monetário Internacional (FMI) aconselhou ontem o Brasil a conter os gastos públicos para lidar com o superaquecimento da economia e mostrou-se cético sobre as chances de sucesso da política de acúmulo de reservas internacionais para conter a valorização da taxa de câmbio. “É uma estratégia que leva ao próprio fracasso”, disse o economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard, sobre as intervenções do Banco Central no mercado de câmbio.

O diagnóstico do FMI é que a economia brasileira está superaquecida e que seria bom o Brasil conter o gasto público para combater a inflação e, assim, retirar a sobrecarga da política monetária. “Toda a capacidade ociosa da economia parece ter se esgotado”, disse Petya Brooks, chefe da divisão de estudos econômicos mundiais do FMI, durante a divulgação do panorama econômico global, documento que faz a revisão do desempenho dos seus 183 países-membros. O FMI e o Banco Mundial abrem amanhã a sua reunião de outono em Washington.

O FMI espera uma expansão de 7,5% da economia brasileira neste ano, em linha com as expectativas do mercado financeiro. Para 2011, o FMI projeta uma expansão do PIB de 4,1%, abaixo dos 4,5% esperados pelo mercado financeiro.

Para o FMI, o BC deu uma resposta adequada ao superaquecimento da economia ao subir os juros de 8,75% para 10,75% ao ano. Mas, diz o organismo, a política fiscal segue expansionista. “Assistimos a um crescimento acelerado nos gastos primários”, disse Petya Brooks, lembrando que o superávit primário acumulado até agora pelo governo é de cerca de 2% do PIB, abaixo da meta de 3,3% fixada para o ano.

“A desaceleração dos gastos vai ajudar, em primeiro lugar, a cumprir a meta fiscal e, além disso, a aliviar a pressão sobre a política monetária, o que ajudaria também a conter pressões sobre a taxa de câmbio”, afirmou Petya Brooks.

O Banco Mundial também aconselhou ontem o Brasil a controlar a expansão dos seus gastos primários. “Não se pode esperar mais para que a política fiscal passe a atuar em apoio à política monetária”, disse o economista-chefe para a América Latina do Banco Mundial, Augusto de La Torre, ao divulgar um relatório sobre as economias da região.

O economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard, acha que o Brasil recebe um fluxo permanente de capitais estrangeiros e que, nessas circunstâncias, aquisições de dólares pelo BC são contraprodutivas para evitar a apreciação cambial. Os baixos juros vigentes nas economias desenvolvidas, afirma ele, fazem com que os capitais se dirijam para economias emergentes, onde encontram taxas de retorno mais favoráveis.

Blanchard não deu maiores detalhes do porque acha que a estratégia de comprar dólares será um tiro no pé. A teoria econômica, porém, diz que, quando uma economia recebe um fluxo permanente de dólares, a taxa de câmbio tende a mudar para um novo valor de equilíbrio. Nessas circunstâncias, se o BC tentar impedir que o câmbio se mova para o novo equilíbrio, acaba por criar novos incentivos para o mercado financeiro redobrar suas apostas na valorização da moeda, trazendo mais capitais ao país.

Convidado a comentar o recém-anunciado aumento de 2% para 4% na alíquota de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre investimento externo em títulos públicos, Blanchard disse que medidas de controle de capital como essa geralmente não têm sucesso em impedir o fluxo de investimentos ao País. Mas, segundo ele, podem ajudar a selecionar o tipo de capital que ingressa na economia, evitando bolhas financeiras.