A suinocultura brasileira está prestes a entrar em uma fase nova e promissora. Depois de um 2011 marcado por barreiras de importação levantadas pela Rússia – o mais importante cliente do produto -, os mercados norte-americano e asiático abrem as portas para a carne suína do Brasil.
O Paraná, que no ano passado sofreu prejuízos significativos com a imposição de Moscou, vai entrar nessa nova onda de aquecimento da demanda, avaliam representantes do setor. O presidente da Associação Paranaense de Suinocultores (APS), Carlos Geesdorff, projeta incremento de 20% a 30% nas vendas externas do estado ainda neste ano.
Além disso, o aumento dos embarques ao exterior de Santa Catarina – estado que já começou a enviar lotes para a China – deve abrir novas oportunidades para o Paraná no mercado brasileiro. “O Brasil inteiro sairá ganhando. Isso porque, inevitavelmente, o estado catarinense deixará de abastecer o mercado doméstico, ou mesmo o externo, para dar conta do mercado chinês”, avalia Pedro de Camargo Neto, presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs).
Geesdorff partilha do mesmo raciocínio do presidente da Abipecs, mas pondera que o Paraná ainda tem gargalos a serem superados. “Esse novo momento é promissor, mas tudo vai depender de um conjunto de fatores”, analisa, elencando questões relacionadas à defesa sanitária e ao alto custo da produção no estado.
A abertura do mercado dos Estados Unidos para a carne suína de Santa Catarina – maior produtor nacional – ocorre justamente por conta de seu status sanitário. O estado é o único do país livre de febre aftosa sem vacinação.
Primeiro reflexo – Os números do início deste ano mostram reflexos positivos. Em janeiro, a exportação da carne suína atingiu 37,7 mil toneladas no país, volume 8,5% maior que o do mesmo período de 2011, quando foram exportadas 34,8 mil toneladas. No Paraná, o volume exportado em janeiro deste ano foi de 5,3 mil toneladas. Houve crescimento de 31% em relação a 2011, quando o estado exportou 3,6 mil toneladas do produto no primeiro mês do ano. Apesar do aumento no índice, o volume exportado pelo Paraná segue muito inferior ao de Santa Catarina, que exportou 13,3 mil toneladas em janeiro deste ano, contra 11 mil toneladas no ano anterior, o que representa 17% a mais em 2012.
Em todo o país, a projeção de aquecimento das exportações para 2012 aparece depois de um período marcado por índices negativos. No ano passado, a exportação no país fechou em 516,4 mil toneladas, queda de 4,44% em relação a 2010, quando o volume nacional de embarques de carne suína foi de 540,4 mil toneladas.
Para o presidente da APS, o Paraná teria condições de aumentar os índices de exportação. O principal empecilho, segundo Geesdorff, são os altos custos de produção da carne, que praticamente inviabilizam a atividade. “Hoje, a rentabilidade do suinocultor do Paraná é zero. Os custos da produção empatam com o preço de venda do produto no frigorífico”, sustenta. A carne suína está sendo vendida, em média, a R$ 2,50 o quilo (em pé).
O maior peso nos custos de produção vem da alimentação animal. Os gastos com a ração correspondem a 80% do desembolso. “É necessário buscar alternativas para o produtor, uma vez que o preços do milho e da soja encarecem muito a ração animal”, ressalta.
Ele comenta que o crescimento estimado para 2012 vai representar, na verdade, uma recuperação do volume exportado no Paraná: em 2005, por exemplo, foram exportadas 91,1 mil toneladas de carne suína, enquanto que em 2011 o volume de exportação caiu para 56 mil toneladas. Dentro da política de exportação, a APS recebe nas próximas semanas uma missão da Ucrânia, com interesse em conhecer o processo de produção da carne suína no estado. “Estamos abrindo caminhos”, enfatiza Geesdorff.
China representa “divisor de águas” – A entrada da carne suína brasileira na China é considerada um fato excepcional. “Isso representa um divisor de águas para o setor”, afirma José Vicente Ferraz, diretor técnico da Informa Economics FNP.
“A China é um mercado de potencial espetacular, produz e consome cerca de metade da carne suína do planeta. Por outro lado, não tem como aumentar sua área agrícola devido à grande urbanização. Desta forma, a China tende a se tornar uma importadora feroz de alimentos”, considera.
Já a abertura do mercado nos Estados Unidos, com aprovação de frigoríficos brasileiros pelo Departamento de Agricultura daquele país, é considerada um marco. “É uma excelente notícia. O mercado americano não é tão importante, mas é referência mundial pelo fato de ter uma legislação rigorosa”, explica Ferraz.
Além da abertura dos mercados norte-americano e chinês, o Brasil trabalha na parceria com outros importantes países como Coreia e Japão. O presidente da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne Suína (Abipecs), Pedro de Camargo Neto, lembra que os japoneses já estiveram no Brasil e trabalham na elaboração de um relatório. “Que será positivo”, acredita Camargo.
O fato é que todos concordam que a exportação de carne suína brasileira vai aumentar. Para o presidente da Abipecs, haverá crescimento de cerca de 10% da exportação nacional em 2012. “Vai depender da reabertura da Rússia, que ainda não saiu, e que tem uma grande influência no volume exportado pelo Brasil. Quanto à China, o processo é lento”, diz.
Ferraz vislumbra um cenário positivo: “O Brasil já é o maior exportador de carne de frango e bovina. Agora, tornando-se mais competitivo, pode passar por uma transformação estrutural e, dentro de dois ou três anos, se colocar entre os maiores exportadores mundiais de carne suína”, enfatiza.