Redação (27/10/2008)- O Paraná é o principal Estado produtor de grãos do país e o segundo maior na produção de soja, matéria-prima que é a base da indústria nacional de biodiesel, mas sempre manteve uma presença irrisória no mercado do combustível. Projetos em andamento, contudo, podem mudar a relevância do Paraná para o setor.
Ao menos uma dezena de projetos estão em análise no Estado, três deles de forma mais concreta. A estreante Companhia Brasileira de Energias Alternativas e Renováveis (CBEAR) apresentou ao governo paranaense o projeto de uma usina com capacidade de 600 milhões de litros anuais, que exigirá investimento de 250 milhões de euros a 300 milhões de euros.
Essa capacidade é idêntica à da usina da empresa espanhola Infinita Renovables, a maior do mundo. O volume equivale também a metade de toda a demanda do mercado brasileiro, que passou a cerca de 1,2 bilhão de litros anuais desde que a mistura obrigatória de biodiesel ao diesel convencional passou a ser de 3%, em julho.
A CBEAR foi criada há quase dois anos, mas um ano antes disso já estudava o investimento no mercado brasileiro, segundo a diretora-executiva da companhia, Christianne Fullin. Seu nascimento ocorreu a partir da união de cinco sócios, brasileiros e estrangeiros. O início da produção está previsto para fevereiro de 2010.
Quase todos os recursos necessários para o projeto já foram garantidos pelos cinco sócios da companhia e também por financiamentos acertados antes do estouro da crise, segundo a executiva. Com isso, afirma ela, o projeto está garantido mesmo em meio a um cenário de escassez de crédito.
Toda a produção da planta paranaense terá o mercado externo como destino. "Nosso foco não serão os leilões da ANP", diz a executiva. A exigência tem inviabilizado as atividades de muitas usinas, segundo crítica corrente no setor. Com capacidade sempre superior à venda acertada nos leilões, muitas das usinas acabam ficando meses fora de operações.
Uma das conseqüências da crise econômica atual tem sido a queda vertiginosa do preço do petróleo. Isso poderia desestimular a compra de biodiesel por clientes no exterior, já que o combustível acabaria perdendo na vantagem comparativa. Segundo a executiva, também o contrato com o comprador externo já foi fechado, o que garante a demanda pela produção da CBEAR no Paraná.
A companhia ainda mantém detalhes de sua composição sob sigilo. Nomes dos sócios, do comprador no exterior e também a cidade escolhida para a construção da planta serão apresentados na primeira quinzena de novembro.
A Petrobras também tem projeto de uma usina de biodiesel para o Paraná. A cidade escolhida foi Palmeira, na região de Ponta Grossa. O investimento será de R$ 120 milhões e a capacidade, de 113 milhões de litros por ano, o dobro da capacidade de cada uma das três usinas já inauguradas pela estatal, localizadas em Candeias (BA), Quixadá (CE) e Montes Claros (MG).
"A definição por Palmeira foi exclusivamente técnica e considerou principalmente aspectos de infraestrutura, logística de transporte, concentração e potencial produtivo da agricultura familiar e proximidade de centros distribuidores e consumidores", afirma Richardson de Souza, coordenador do programa de biodiesel da Secretaria de Agricultura do Paraná.
Segundo ele, o diagnóstico inicial e os estudos de viabilidade técnica já foram realizadas pelas equipes do governo e da Petrobras. O projeto está em fase final de estudos pela estatal.
A Companhia Paranaense de Energia (Copel) tem também projeto de uma mini-usina no sudoeste do Estado. O plano inicial é que a unidade tenha capacidade de 5 mil litros diários e atue em parceria com a agricultura familiar. O investimento ainda não foi definido.
Até agosto, segundo os dados mais recentes da ANP, o Paraná produziu 805 mil litros de biodiesel, ou meros 0,1% do total do país, o que coloca o Estado na 11ª colocação do ranking. Desse volume, 800 mil litros foram da Biopar, de Rolândia, produzidos todos no mês de julho.