Depois de ter estabilizado no primeiro trimestre, o PIB da zona do euro sofreu contração de 0,2% entre abril e junho e desliza para a recessão, apesar de a Alemanha e a França terem resistido melhor do que o esperado à crise. O ajuste fiscal pesa na demanda pública e privada e o estresse no mercado financeiro forçou companhias a atrasar investimentos. A produção industrial no bloco também apresentou queda.
“A recessão da zona do euro vai aprofundar a crise da dívida”, opina Jonathan Loynes, economista-chefe para a Europa da Capital Economics, em Londres. A fragilidade da zona do euro deve empurrar o Banco Central Europeu (BCE) a flexibilizar sua política monetária nos próximos meses.
A contração de 0,2% no segundo trimestre, comparado ao trimestre anterior de crescimento nulo, foi um resultado menos ruim do que previsto graças à resistência das duas maiores economias.
A Alemanha de novo teve desempenho superior ao de seus parceiros europeus. A expansão de 0,3% do Produto Interno Bruto (PIB) surpreendeu, porque analistas previam crescimento menor. A alta foi impulsionada por crescimento das exportações maior que a expansão das importações e pelo consumo doméstico. A França evitou a recessão e teve crescimento nulo pelo terceiro trimestre consecutivo, o que é uma boa notícia na conjuntura atual.
Mas essa resistência não compensou a enorme queda na atividade econômica na periferia europeia. A Grécia sofreu contração de 6,2% no PIB, Portugal de 1,2%, a Itália registrou sua quarta baixa consecutiva, agora de 0,7%, e a atividade na Espanha continuou recuando em 0,4%.
A produção industrial da zona do euro teve uma retração de 0,6% em junho, na comparação com maio, e de 2,1% em relação ao mesmo mês do ano passado, segundo a Eurostat, a agência europeia de estatísticas. Apesar de negativos, os números superaram a previsão dos analistas, que esperavam queda de 0,8% em junho sobre maio.
Os indicadores apontam para mais contração do PIB nos próximos trimestres. Os gastos das famílias cresceram na Alemanha, mas caíram na França. A pesquisa ZEW da Alemanha revelou expectativa dos investidores caindo fortemente em relação à economia alemã. Para toda a zona do euro, o indicador de sentimento de empresários e consumidores aponta também baixa no PIB de pelo menos 0,5% neste ano.
Para Frédérique Cerisier, do BNP Paribas, a capacidade de resistência da economia francesa, por exemplo, não será eterna e está condicionada a avanços na contenção da crise da dívida soberana nas próximas semanas. Mas Loynes é pessimista: “O crescimento econômico exigido para levar ao fim da crise da dívida ainda não está a vista”.
A questão é o que pode ocorrer de concreto. Hung Tran, economista-chefe do Instituto Internacional de Finanças (IIF) – que representa os maiores bancos dos mundo -, monitora os desequilíbrios substanciais no sistema Target 2, que calcula a dívida entre os bancos centrais da região (Alemanha com enorme superávit, enquanto Espanha aumenta sua dívida, por exemplo). E chama atenção para três pontos.
Primeiro, o balanço do BCE bate o recorde de € 3,1 trilhões, ou 32% do PIB da zona do euro, maior do que o de qualquer outro banco central. “Não está claro em quanto o BCE poderia aumentar seu balanço, mas provavelmente não seria em volume ilimitado”, afirma.
Segundo, os ministros das Finanças autorizaram o fundo de resgate (EFSF/ESM) a comprar bônus soberanos, desde que o país solicitante assine um memorando de entendimento – que implica condicionalidades efetivas sobre reformas e ajuste fiscal.
Mas o IIF estima que sem progressos em direção de união fiscal e bancária, envolvendo gestão e supervisão centralizada, não está claro que mesmo assim as condições de resgate possam ser utilizadas mais do que na sua capacidade atual.
Essas capacidades são limitadas: sobram apenas € 148 bilhões no EFSF depois do compromisso de € 100 bilhões de capitalização do sistema bancário da Espanha. Em setembro, se os países cumprirem os compromissos assumidos, o novo fundo, o ESM, poderá teoricamente ter capacidade de financiamento de € 500 bilhões.
Mas isso também é pouco, considerando que a Espanha necessita de financiamento de € 252 bilhões e a Itália de € 318 bilhões para o resto deste ano e 2013. Um programa de três anos inflaria ainda mais a conta.
Terceiro, sobre os riscos de liquidez, o IIF observa que os bancos da zona do euro continuam mantendo€ 850 bilhões guardados no BCE, ao invés de serem emprestados, refletindo a aversão ao risco.