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Economia

Piora no cenário externo pode afetar PIB do Brasil em 2013

Maior parte dos analistas ainda projeta crescimento de 4% em 2013, mas ganha força expectativa de expansão mais fraca, próxima de 3%.

Piora no cenário externo pode afetar PIB do Brasil em 2013

A maior parte dos analistas ainda acredita num crescimento na casa de 4% no ano que vem, mas aumentou o número dos que apostam numa expansão mais modesta, próxima a 3%, dada a expectativa crescente de que o mundo terá mais um ano difícil em 2013. Esse risco de continuidade de um cenário externo adverso no próximo ano terá um impacto negativo sobre o investimento e as exportações, dizem os mais pessimistas. O Banco Fator aposta em crescimento de 3,2% em 2013, o Morgan Stanley, em 2,8%, e a MB Associados, em 3% a 3,5%. Para 2012, os analistas acreditam em avanço próximo a 1,5%.

Boa parte do mercado, contudo, acredita em uma alta do PIB em 2013 na casa de 4% ou um pouco mais – o Bradesco estima 4%, a LCA Consultores, 4,4%, e o Itaú, 4,5%. A grande diferença é que esses analistas confiam em uma retomada mais forte do investimento, não acreditando que o quadro internacional impedirá uma alta de 8% a 10% na formação bruta de capital fixo (medida das contas nacionais do que se investe na construção civil e em máquinas e equipamentos).

Semana passada, o Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu de 3,9% para 3,6% a projeção para o crescimento do mundo em 2013. O economista-chefe do Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, nota que esse quadro de menor expansão global vai prejudicar as exportações brasileiras, e a China deve avançar a um ritmo menos expressivo – o FMI reduziu de 8,4% para 8,2% a projeção para o PIB chinês em 2013.

As perspectivas para as exportações contribuíram para Gonçalves cortar de 4% para 3,2% a estimativa para o crescimento brasileiro em 2013, mas ele se mostra mais pessimista em relação ao investimento. Segundo ele, o cenário mundial contamina os planos de investir das empresas pelo temor do impacto no crescimento doméstico.

Gonçalves também espera que o pacote de concessões ao setor privado só deslanche em 2014, além de acreditar que as desonerações tributárias promovidas pelo governo tiram espaço de um aumento mais forte do investimento público. Por tudo isso, ele estima que a formação bruta de capital fixo vai crescer 1,7% no ano que vem, depois de cair 3,4% neste ano.

O economista-chefe para o Brasil do Morgan Stanley, Arthur Carvalho, também acredita que a recuperação brasileira em 2013 será limitada pelo cenário externo. “As exportações sofrem, mas o canal mais importante é o do investimento”, diz Carvalho, que projeta expansão para o PIB no ano que vem de 2,8%. Ele destaca que as projeções do Morgan Stanley para o mundo são mais pessimistas que as de boa parte dos analistas – para a China, o banco espera crescimento de 7,8% em 2013, abaixo dos 8,2% do FMI. Para os EUA, a aposta é de um avanço de 1,4%, enquanto o Fundo estima 2,1%.

 
Para Carvalho, esse cenário global adverso afetará os investimentos nos setores de commodities, importantes para a formação bruta de capital fixo no Brasil. Ele tampouco crê numa recuperação robusta dos investimentos na indústria. Os concorrentes estrangeiros, como os asiáticos, continuam oferecendo preços competitivos, mesmo com a desvalorização do real, por terem capacidade ociosa em suas fábricas. Carvalho se diz mais otimista quanto ao Brasil porque o governo passou a adotar medidas mais estruturais, voltadas à redução do custo Brasil, mas acredita que 2013 não será um ano de forte crescimento. Não por acaso, ele e Gonçalves acreditam que os juros ficarão nos atuais 7,25% até o fim do ano que vem.

O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, também está mais cauteloso. “Vejo 2013 como transição, justamente porque o cenário internacional ainda estará ruim. O investimento, por exemplo, deverá estar em compasso de espera pelas concessões”, diz ele, que tampouco aposta em forte expansão de projetos públicos.

Já o economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros, vê espaço para o Brasil crescer 4% em 2013, ou até um pouco mais. “O meu viés para essa projeção é para cima, principalmente porque há muitos estímulos. Não há porque não acreditar que uma taxa real de juros indo para 1,5% não surtirá efeito.” Barros observa que as “desonerações sobre a folha de pagamentos e a autorização para que os Estados aumentem seu endividamento para ampliar investimentos são estímulos difíceis de serem ‘imputados’ nos modelos, mas que reforçam o viés de alta”. Além disso, fatores que atrapalharam o primeiro semestre deste ano, como a quebra de safra de soja, deverão se dissipar nos próximos trimestres.

Para Barros, “sob a hipótese de estabilização ou alguma melhora no cenário global”, esse viés mais positivo tende a se materializar. Uma piora externa mais acentuada, contudo, afetaria o Brasil. Ele diz que a correlação entre crescimento doméstico e atividade global é grande e aumentou nos últimos anos, como mostra a evolução das exportações mundiais e do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), um termômetro do PIB (ver quadro acima). Segundo Barros, além do comércio exterior e dos fluxos de capitais, um cenário externo complicado impacta expectativas dos agentes, com reflexo nos investimentos.

O economista Caio Megale, do Itaú, tem uma previsão mais otimista, apostando em expansão de 4,5% para 2013. Ele diz que o quadro global decerto não é animador, mas acredita que ele parou de se deteriorar. Diminuiu o risco de uma ruptura, como um desmantelamento da zona do euro. Com isso, há alguma redução das incertezas, favorecendo investimentos.

Caio afirma que a formação bruta de capital fixo será uma “peça-chave” para que o PIB de 4,5% se concretize, junto com um bom desempenho da economia no quarto trimestre deste ano. Ele acredita que há boas chances de isso ocorrer, dada a profusão de estímulos e o fato de que a retomada já parece mais firme. Por confiar em um PIB mais robusto, o Itaú acredita que a Selic subirá em 2013, fechando o ano em 8,5%.

Diretor de macroeconomia da LCA, Fernando Sampaio diz que, se “o mundo continuar ruim, mas não ficar péssimo”, é possível o Brasil avançar com mais força em 2013 – a LCA projeta 4,4%. Ele aposta especialmente numa recuperação expressiva do investimento, com alta de 10,7%. Para Sampaio, há vários fatores que devem impulsionar esse indicador, como os juros baixos do BNDES, o câmbio mais desvalorizado e menos volátil, a queda da Selic e a permissão para os Estados se endividarem mais para investir.

Sampaio vê ainda um espaço para um crescimento razoável do consumo das famílias, de 4,6% em 2013, superior aos 3,6% deste ano. “O mercado de trabalho aquecido deve continuar a amparar o consumo”, diz ele, afirmando, porém, que há uma dúvida se o nível de endividamento das famílias afetará o apetite do consumidor, apesar do custo menor dos débitos, graças à queda da Selic e das taxas cobradas pelos bancos. Vale e Gonçalves veem um consumidor mais cauteloso, o que também explica as projeções menores para o PIB. Este último projeta avanço de 3,9% do consumo das famílias em 2013.