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Economia

Potencialidades e desafios da relação comercial entre Brasil e México

Brasil e México têm enfatizado a importância de aprofundar a relação comercial e de investimentos entre as duas maiores economias da América Latina

Potencialidades e desafios da relação comercial entre Brasil e México

PersonalidadesNos últimos anos, o Brasil tem voltado sua atenção para impulsionar seu comércio com o México, por meio de acordos que objetivam reduzir ou até extinguir tarifas de importação comuns entre os dois países. Ademais, o México também tem demonstrado interesse em aprofundar suas relações comerciais com os países do Mercosul, em especial com o Brasil. Esses esforços resultaram no Acordo de Complementação Econômica – (ACE n. 53), firmado entre o Brasil e o México em agosto de 2002, e que determinou a eliminação ou redução das tarifas entre os dois países para aproximadamente 800 produtos. Ainda em 2002, foram firmados mais dois acordos, o ACE n. 54 e ACE n. 55, estes últimos no âmbito do Mercosul.

Mais recentemente, os dois países têm avançado em novas Rodadas de Negociações para ampliar e aprofundar o ACE n. 53. A necessidade de aprofundamento de novas parcerias comerciais se tornou mais urgente para o governo mexicano diante da revogação da Parceria Transpacífico pelo governo norte-americano e ameaças de alterações no Nafta (Tratado Norte-Americano de Livre Comércio). Desse modo, Brasil e México têm enfatizado a importância de aprofundar a relação comercial e de investimentos entre as duas maiores economias da América Latina. Em pauta, há discussões sobre acesso a mercados e regras de origem, bem como negociações sobre facilitação de comércio, serviços e investimentos, medidas sanitárias e fitossanitárias, compras governamentais, barreiras técnicas ao comércio, propriedade intelectual, coerência regulatória, política de concorrência e defesa comercial.

O comércio entre os dois países tem crescido nos últimos anos; mesmo assim, a participação das vendas brasileiras nas importações totais mexicanas representou apenas 1% em 2015, assim como as compras brasileiras de produtos mexicanos também representaram aproximadamente 1% das exportações mexicanas totais e atingiram valor de US$ 4,4 bilhões naquele ano, o que mostra que há espaço para o fortalecimento da parceria comercial entre os dois países.

Dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) mostram também que, entre 2000 e 2016, os embarques brasileiros para o México mais que dobraram, apresentando crescimento de 128%, enquanto as importações nacionais de produtos mexicanos mais que triplicaram – o crescimento foi de 368%. O valor importado pelos Brasil com produtos mexicanos saltou de apenas US$ 754 milhões em 2000 para US$ 3,5 bilhões em 2016. Ainda, o balanço de comércio que vinha favorável ao Brasil de 2000 até 2008, tornou-se deficitário de 2008 até 2015, o que mostra que o País também é um importante parceiro comercial para os mexicanos. O México é o sétimo mercado de destino dos produtos brasileiros e os industriais respondem por 80%, aproximadamente, das vendas brasileiras para esse país, cujo item principal são os automotivos.

No entanto, ainda há uma vasta lista de produtos que poderiam ter suas tarifas reduzidas, e os do agronegócio são importantes candidatos nas negociações que ainda não entraram na pauta de compras dos produtos brasileiros pelo México.

No âmbito das exportações do agronegócio brasileiro, em 2016, dos US$ 86 bilhões da receita gerada, apenas US$ 97 milhões equivaleram às vendas para o México. Os principais produtos vendidos para esse país foram celulose, frutas e os classificados como nicho da produção vegetal, que engloba pimentas, sucos e extratos vegetais, entre outros. A preferência de comércio para produtos como soja, milho, açúcar e carnes (de aves, suínas e bovinas) é do vizinho norte-americano. Em 2015, o México gastou mais de US$ 9 bilhões com a importação de soja em grão, milho, óleo de soja, produtos de madeira, café, açúcar e carnes. Mais de 95% das importações mexicanas de soja em grão, óleo de soja e milho, além de 80% das compras de açúcar e mais de 80% das importações mexicanas de carnes tiveram como procedência os Estados Unidos.  

Assim, é possível que o agravamento das relações entre os dois países que compõem o Nafta possa beneficiar o agronegócio brasileiro, que é um dos maiores ofertantes dos produtos que o México tradicionalmente adquire dos Estados Unidos. Além disso, o México é importante demandante de produtos de maior valor agregado, como madeira e celulose, frutas e carnes. O que se pode esperar também é que o tamanho do espaço que os mexicanos devem ceder ao agronegócio brasileiro vai depender de quanto, efetivamente, estremecidas ficarão suas relações comerciais com o país norte-americano, uma vez que há forte dependência comercial entre os dois países. Dados da corrente de comércio entre México e EUA mostram que, em 2015, o país norte-americano foi a principal origem das importações mexicanas, com valor de US$ 188 bilhões; por outro lado, também foi o principal destino, e as vendas do México para o país vizinho chegaram a US$ 291 bilhões naquele ano.      

Texto escrito pela pesquisadora da área de Macroeconomia do Cepea, Andréia Adami

 

Confira uma entrevista com Andréia Adami sobre embarques do agronegócio brasileiro, na edição desse mês da Revista Avicultura Industrial.