Da Redação 17/02/2005 – O agronegócio é o setor mais afetado pela precariedade da infra-estrutura de transporte no país. Isso porque o surto de desenvolvimento das lavouras comercialmente mais rentáveis se deu nas chamadas fronteiras agrícolas, no coração do país, em regiões distantes da costa. Como o cultivo chegou antes do asfalto, a maior parte da produção cruza o país chacoalhando em caminhões.
No trajeto para a costa nas estradas mal conservadas, a trepidação do veículo faz com que uma quantidade equivalente a cerca de 3% de toda a safra se extravie, calcula Paulo Tarso Resende, da Fundação Dom Cabral (Fundace), que avaliou o problema em um estudo junto a 120 empresas.
No treme-treme da viagem, os grãos e cereais simplesmente pulam tanto que acabam escapando do baú dos caminhões. “Esse tipo de desperdício pode dobrar a partir deste ano”, diz
Para Adalgiso Teles, diretor corporativo da Bunge, maior contratante de transportes de carga do país, esse índice já pode estar na casa dos 5% nos trajetos do Centro-Oeste aos portos.
“O uso de hidrovias reduziria o desperdício, mas faltam investimentos”, diz Teles. Ele calcula que essas perdas tenham sido de R$ 1 bilhão no ano passado.
Perda de igual escala ocorre no porto com multas e atrasos no traslado para os navios porque as instalações são deficientes, faltam contêineres e as embarcações têm de esperar em filas até conseguir vaga para atracar. Ele calcula: “O custo médio do navio é de US$ 35 mil por dia. Pode ficar 15 dias parado no porto, na fila ou esperando a maré subir para atracar. Com a circulação de 2.600 navios, o prejuízo chega a R$ 1,3 bilhão.”
Se a mercadoria embarcada é uma commodity, como a soja, a cotação internacional define o preço ao comprador. “Então não dá para repassar custos extras. São abatidos na margem de lucro do produtor ou do processador.”
Na opinião de Teles, o apagão logístico já está acontecendo. “E só não foi pior no ano passado porque houve quebra de safra. Só na soja, a quebra foi de 10 milhões de toneladas. Isso postergou o problema, que deve explodir neste ano, se for confirmada a safra.”
Armazenagem
O apagão agrícola também está relacionado à capacidade de armazenagem. Conforme o estudo da Fundace, os armazéns portuários do Brasil só atendem 60% da demanda. Confirmado o aumento da safra de 119 milhões para 134,9 milhões de toneladas, as filas na chegada a Santos e Paranaguá devem aumentar.
O problema se repete no interior, onde os silos também são insuficientes. “Hoje, 60% da capacidade de armazenagem está nas mãos de empresas que podem ser contadas nos dedos da mão”, calcula Paulo Tarso Resende. “Isso deixa os produtores rurais na mão da agroindústria.”
Para normalizar a situação no campo, estima, seria necessário triplicar as áreas de armazenagem nas regiões produtivas.